• Carregando...
Barragem da Usina de Belo Monte: 1% do valor da obra teria sido pago em propina. | Roberto Stuckert Filho/ PR/Fotos Públicas
Barragem da Usina de Belo Monte: 1% do valor da obra teria sido pago em propina.| Foto: Roberto Stuckert Filho/ PR/Fotos Públicas

O engenheiro Luiz Carlos Martins, ligado à construtora Camargo Corrêa e delator da Operação Lava Jato, relatou ter pago R$ 21 milhões em propina para o PT e o PMDB referente a obras da Usina de Belo Monte. O engenheiro fechou delação premiada na Lava Jato em meados do ano passado e prestou novo depoimento em 30 de março.

Martins reiterou todas as informações prestadas em sua colaboração. Ele relatou que, em 2011, levou ao então presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, a “cobrança” que lhe havia sido feita pelo então presidente da Andrade Gutierrez Energia, Flávio Barra.

“No sentido de que 1% dos valores desembolsados no contrato das obras civis de Belo Monte deveria ser encaminhado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB); que, complementando, afirma que a participação da Camargo Corrêa no empreendimento compreendia 16% no consórcio construtor (CCBM), pelo que lhe caberia o pagamento de R$ 21 milhões a título de propina aos citados partidos, 50% para cada”, relatou.

O engenheiro disse que, ao levar “tal demanda” a Avancini, foi orientado a tratar exclusivamente dos pagamentos relacionados ao PMDB, “sendo que os valores a serem direcionados ao PT o próprio presidente disse que iria resolver”, afirmou.

Maquiagem com suco

Martins afirmou ainda que cogitou comprar R$ 1 milhão em suco de fruta para maquiar suposta propina ao senador Edison Lobão (PMDB-MA), nas obras da usina. No depoimento prestado à Polícia Federal, em Brasília, no fim de março, ele detalhou que a “operacionalização dos pagamentos” a Lobão e envolveu a empresa AP Energy Engenharia e Montagem LTDA. Lobão era então ministro de Minas e Energia.

“O ‘caminho’ utilizado para fazer o dinheiro chegar ao destinatário, o então ministro de Minas e Energia Edison Lobão, foi mencionado em reunião do Conselho Diretor do CCBM (Consórcio Construtor Belo Monte); que, especificamente, recorda-se que foram cogitados vários ‘caminhos’, sendo que um deles envolvia Luiz Fernando Silva, que teria sido secretário estadual no Maranhão e que teria vínculos com o então ministro Lobão”, relatou.

Enquanto discutia a dificuldade remeter o dinheiro ao Maranhão para pagar a propina, “em um momento o de descontração, surgiu a ideia de aquisição de R$ 1 milhão em suco de fruta”. A ideia não foi para frente.

Martins contou que passou a procurar uma empresa com atividade compatível com a Camargo Corrêa, que pudesse fazer a intermediação dos valores. Segundo ele, “a remessa de valores ao Maranhão ficou ao encargo da AP Energy ou de outras empresas ligadas a ela”.

Outro lado

O criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende Lobão, afirmou que o senador “desconhece essa empresa”. “Nunca ouviu falar, não conhece essas duas pessoas que seriam os donos da empresa. Realmente não tem a menor noção de por que houve a citação.” Citado, Dalton Avancini fez acordo de delação premiada antes e delatou o próprio Luiz Carlos Martins. A reportagem não localizou a defesa da empresa AP Energy. Também não foi localizado o defensor de Luiz Fernando Silva. Procurados, PT e PMDB não se manifestaram até a conclusão desta edição.

Delfim

O engenheiro Luiz Carlos Martins afirmou também que o PMDB determinou propina de 10% ao economista Delfim Netto, ex-deputado federal do partido, sobre as obras da Usina de Belo Monte. O executivo declarou que pagou R$ 160 mil em 4 parcelas.

Em 25 de junho do ano passado, o engenheiro relatou que durante uma reunião, em 2012, o então presidente da Andrade Gutierrez Energia, Flávio Barra, “informou que do valor de 1% da propina que deveria ser dividida entre as empresas, ao invés de ser 50% para o PT e 50% para o PMDB, seria na verdade 45% para cada, e 10% seria destinado a Delfim Neto”. “Todos reclamaram disso, mas Flávio informou que era uma determinação do agente político do PMDB”, declarou o executivo.

Os advogados Ricardo Tosto e Maurício Silva Leite, defensores de Delfim, informaram que o ex-ministro recebeu por serviços de consultoria. “Delfim Netto informa que prestou serviços de consultoria na área econômica e que recebeu os respectivos honorários.”

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]