Quatro delatores da Operação Lava Jato confirmaram em depoimento à Justiça Federal do Paraná nesta segunda-feira (31) a participação de executivos da Odebrecht no cartel da Petrobras e no pagamento de propinas revelados pela Operação Lava Jato. Foram ouvidas, na audiência desta segunda-feira, quatro testemunhas de acusação no processo que investiga a participação da Odebrecht no esquema.
Júlio Camargo, que prestou serviços para a japonesa Toyo, para a Camargo Corrêa e para a Setal Óleo e Gás afirmou ter negociado pagamento de propina com Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, numa reunião ao lado de Márcio Faria, da Odebrecht, e de Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia. Os valores estariam relacionados às obras da central de utilidades do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
As três empresas formavam um consórcio, e Camargo contou que foi negociado o pagamento de 1% do valor do contrato e que a “liquidação dos valores” ficou a cargo de Faria e Pessoa. Segundo ele, não havia qualquer pressão ou ameaça para que a propina fosse paga, já que era algo corriqueiro, um “fato consumado”.
“Ficou uma coisa de saber público”, disse Camargo.
O delator Rafael Ângulo Lopez, que trabalhou para o doleiro Alberto Youssef, confirmou à Justiça ter estado entre 10 e 15 vezes no escritório da Odebrecht, em São Paulo, levando número de contas ou retirando comprovantes de depósitos no exterior com o então executivo da empresa Alexandrino Alencar. Segundo ele, as visitas ocorreram tanto no prédio da Odebrecht quanto no da Braskem, empresa do setor petroquímico, já que Alencar trabalhou, ao longo de sua carreira no grupo, nas duas empresas.
Lopez afirmou ainda que Youssef e Alencar costumavam se reunir com frequência, em flats e restaurantes. A defesa de Alencar protestou. Segundo os advogados, apenas um dos 23 depoimentos prestados à Justiça por Lopez foi anexado ao processo da Odebrecht.
O executivo Dalton Avancini, que foi presidente da divisão de Engenharia e Construção da Camargo Corrêa, disse que participou de “quatro ou cinco” reuniões com os líderes de outras empreiteiras para discutir o que ele chamou de “divisão de mercado dessas empresas”. De acordo com ele, nessas reuniões as empresas combinavam quem venceria cada licitação e qual seria o valor das propostas que seriam propositadamente derrotadas.
Os representantes da Odebrecht no cartel eram, segundo Avancini, os diretores Márcio Faria e Renato Rodrigues. O juiz Moro perguntou se os executivos da Odebrecht tinham autonomia para tomar decisões sobre a divisão das licitações e o pagamento de propina ou se precisavam discutir com alguém com cargo mais elevado na empresa. Avancini respondeu que Faria tinha autonomia para tomar as decisões.
Avancini também mencionou outro diretor da Odebrecht em seu depoimento: Paulo Sérgio Boghossian. Segundo o presidente da Camargo, Boghossian foi responsável por pagar propina para a Petrobras liberar aditivos em um contrato para obras em um prédio da estatal em Vitória.
Segundo ele, era comum entre os executivos falar sobre o pagamento de propinas quando se encontravam:
“Em conversas com outros executivos, genericamente sempre se falava (em pagamento de propina). Nessas reuniões certamente sim, que haviam compromissos com diretorias, e que empresas tinham que pagar (propina).”
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