Citada nos grampos da Operação Monte Carlo, a empreiteira número um do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) recebeu, no ano passado, R$ 884,4 milhões da União. O volume de recursos do governo federal para a Delta Construções cresceu 1.417%, de 2003 até 2011, em valores corrigidos pelo IPCA.
De 1 de janeiro até quarta-feira, a Delta recebeu R$ 156,8 milhões - dos quais R$ 156 milhões destinados às obras do PAC. Em 2007, 2009 e 2011, a Delta foi a principal empreiteira do programa mais emblemático dos governos Lula e Dilma. O Departamento Nacional de Transportes (Dnit) é o principal cliente do governo: recebeu R$ 138,5 milhões este ano.
A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, disse na quinta-feira que as denúncias envolvendo a Delta Construções, maior empreiteira do PAC, têm de ser investigadas.
"Isso vai ser investigado. De qualquer maneira, qualquer irregularidade terá de ser corrigida, como a gente sempre faz cada vez que elas são identificadas", disse a ministra, após cerimônia de assinatura de convênios do programa Minha Casa Minha Vida.
"Em um determinado momento, o PT avaliou que as denúncias (do caso Cachoeira) eram fortes o suficiente para mudar o foco do mensalão. Mas eu acho que a ânsia de tentar sepultar o mensalão pode colocar o governo em uma situação muito difícil. Se pegar o que recebeu no governo Fernando Henrique, era um valor irrisório. É uma empresa que cresceu alucinantemente nos últimos anos", diz Gil Castelo Branco, da ONG Contas Abertas, lembrando que os dados públicos sobre os gastos do governo não incluem as estatais.
Com cerca de 300 contratos no setor de construções em 23 estados do país e no Distrito Federal, a Delta cresceu 533% apenas no governo Sérgio Cabral (PMDB), no Rio, segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios (Siafem). Em 2007, a empresa teve empenhos de R$ 67,2 milhões, enquanto, em 2010, ano em que Cabral foi reeleito, o montante chegou a R$ 554,8 milhões, sendo R$ 127,3 milhões (22%) sem licitação.
Em 2011, a Delta recebeu do governo Cabral R$ 358,5 milhões, sendo R$ 72,7 milhões (20%) sem passar por concorrência pública. Este ano, já são R$ 138,4 milhões empenhados. Os valores do Siafem não incluem, no entanto, as obras do Maracanã, onde a Delta faz parte do consórcio com outras empresas. O projeto foi orçado em R$ 859,9 milhões. Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou indícios de graves irregularidades no processo de licitação no estádio para a Copa do Mundo de 2014.
Em agosto do ano passado, a Controladoria Geral da União (CGU) recomendou à direção do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) que cobre da Delta, contratada para construir a nova sede da entidade, na antiga sede do "Jornal do Brasil", a "devolução dos valores pagos com sobrepreço e dos serviços executados em duplicidade". Divulgado pelo site "Consultor Jurídico", o relatório da CGU encontrou um sobrepreço estimado em R$ 23,5 milhões no custo da segunda etapa da construção do hospital.
A Delta conseguiu ainda uma fatia milionária com a prefeitura do Rio. Entre 2008 e 2011, foram R$ 420,2 milhões - R$ 186,7 milhões na gestão do prefeito Eduardo Paes (PMDB) - em contratos com obras de urbanização e na locação de veículos e equipamentos de limpeza urbana. O último firmado, em agosto do ano passado, refere-se à implantação do Parque de Madureira, estimada R$ 71 milhões.
A empreiteira, que surgiu em Recife, na década de 60, chegou ao Rio de Janeiro no governo Anthony Garotinho, em 1999. Desde então, mantém relações com políticos de vários partidos. Nas últimas eleições, a Delta Construções doou R$ 2,3 milhões aos comitês do PT e do PMDB - R$ 1.1150.000 para cada partido.
A atuação da Delta também alcança as estatais. De acordo com o próprio site da empresa, há trabalhos de construção de 600 quilômetros de linhas de transmissão e 15 subestações, em Goiás e Mato Grosso, em pareceria com Furnas Centrais Elétricas. Os investimentos, no entanto, não são informados.
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