O dinheiro de caixa dois repassado pelo PT à Coteminas, empresa do vice-presidente José Alencar, era do valerioduto, o esquema operado pela direção do PT e pelo empresário Marcos Valério e que está sob investigação de duas CPIs, da Polícia Federal e do Ministério Público. A afirmação foi feita nesta terça-feira pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que, em nota, disse que a origem do R$ 1 milhão em dinheiro vivo repassado à Coteminas são os supostos empréstimos feitos pelo partido junto a Marcos Valério. A CPI dos Correios desconfia que os empréstimos tenham sido montados para esconder suposto desvio de dinheiro público.

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Na nota, Delúbio disse que se confundiu quando foi perguntado pela primeira vez sobre o depósito. "Quando perguntado sobre esse pagamento, lembrei-me de sua ocorrência mas me equivoquei, achando que tinha sido feito com recursos contabilizados. Na verdade o pagamento foi feito em espécie, com dinheiro que tinha origem nos empréstimos feitos por Marcos Valério ao PT. Trata-se do valor que, daqueles empréstimos, foi reservado para despesas do diretório nacional do partido".

No texto distribuído pelo escritório de advocacia de Arnaldo Malheiros Filho - o mesmo que foi contratado pelo PT por R$ 300 mil, mas com quem o partido se recusou a prorrogar o contrato - confirma ainda que a origem da dívida é a confecção de camisetas para a campanha de 2004 e faz um histórico da negociação com a empresa.

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"Depois das eleições, como é notório, o partido teve grande dificuldade em quitar suas dívidas e, por causa disso, conseguiu postergar o pagamento de seu débito com a Coteminas, combinando que o mesmo seria quitado em três parcelas, no final de 2004. Novas dificuldades financeiras do partido impediram que as parcelas fossem honradas na forma acordada", diz o texto.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), afirmou que não há previsão para o partido pagar a dívida de R$ 11 milhões com a Coteminas. O PT reconheceu que a primeira parcela, no valor de R$ 1 milhão, foi paga pelo ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares com recursos de caixa dois. Ele confirmou que o dinheiro foi encaminhado à Coteminas pela coordenadora administrativa do PT, Marice Lima. Segundo Berzoini, Marice cumpriu ordens de Delúbio e não será demitida:

- Ela cumpria ordens do ex-secretário de Finanças.

Berzoini disse que a dívida total do partido chega a R$ 42 milhões e que não há possibilidade de pagamento este ano. Segundo ele, só a partir de 2006 será possível fazer uma proposta de parcelamento. O presidente do PT não mostrou surpresa com o uso de caixa dois para pagar à Coteminas.

- Não há novidade nesta história de caixa dois. Nesse caso da Coteminas é a mesma informação de que Delúbio tinha procedimentos próprios. Ele fez uma gestão temerária com riscos ao partido. Não havia critérios claros para pagamento - disse.

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Berzoini afirmou que não está constrangido com mais esta revelação.

- Se a empresa diz que recebeu o dinheiro e Delúbio afirma que pagou, não tem por que duvidar desta história. Agora não estou constrangido com mais esta história de caixa dois. Fui eleito para que isso não aconteça mais - reforçou Berzoini.

A Polícia Federal informou que deverá interrogar ainda esta semana o ex-tesoureiro Delúbio Soares para que ele explique as transações entre o PT e a Coteminas. O delegado Luís Flávio Zampronha deverá ainda chamar para depor a coordenadora administrativa do PT, Marice Correia Lima, responsável pela entrega de R$ 1 milhão do PT à Coteminas em maio deste ano.