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Demóstenes deixa o plenário cabisbaixo, após a cassação:  “Eu sou na verdade um bode expiatório” | Antônio Cruz/ABr
Demóstenes deixa o plenário cabisbaixo, após a cassação: “Eu sou na verdade um bode expiatório”| Foto: Antônio Cruz/ABr

Sessão que cassou Demóstenes expôs o isolamento do agora ex-senador

Ex-parlamentar reclamou de ser tratado como um "cão sarnento" e uma "mulher acusada de ser vagabunda"

Leia a matéria completa.

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Adultério

Amizade do suplente com Cachoeira acabou após traição do bicheiro

Foto: Governo de Goiás

Suplente de Demóstenes Torres, o empresário goiano Wilder Pedro de Morais (DEM-GO, foto), de 44 anos, tinha relações pessoais tanto com o senador cassado como com o bicheiro Carlinhos Cachoeira até dois anos atrás. Os três eram amigos. A amizade rendeu a Demóstenes uma doação de R$ 700 mil para a campanha eleitoral dele ao Senado em 2010, realizada por meio da construtora de Morais, a Orca. Mas Cachoeira, ajudado por Demóstenes, começou a namorar Andressa Mendonça, a mulher de seu financiador de campanha – hoje ela é casada com o bicheiro. A traição levou ao rompimento da amizade.

Ainda assim, Morais continuou a fazer parte de um círculo de relações que, de alguma forma, envolve o bicheiro. Com a eleição de Marconi Perillo (PSDB) ao governo de Goiás, em 2010, assumiu a Secretaria Estadual da Infraestrutura – cargo que ocupa até hoje. Perillo, ao lado de Demóstenes, é um dos políticos nacionais com mais suspeitas de ligação com o bicheiro.

Além da antiga proximidade com Cachoeira e de fazer parte do governo do tucano, Wilder de Morais também poderá vir a ser questionado no Senado por ter omitido de sua declaração de bens à Justiça Eleitoral a propriedade de nove empresas – no total, o empresário é sócio de 24 e seus bens estão avaliados em R$ 14,4 milhões.

Das agências

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Câmara livra três deputados e irá investigar apenas um

Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

No mesmo dia que o Senado cassou o mandato de Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), a Câmara Federal decidiu arquivar os processos contra os deputados Sandes Júnior (PP-GO), Rubens Otoni (PT-GO) e Protógenes Queiroz (PCdoB-SP, foto) por suposto envolvimento com o grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Apenas a acusação que pesa contra o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) irá ser investigada. As decisões levantaram a suspeita de que a Câmara esperou o senador Demóstenes Torres ser cassado, dando assim uma resposta à opinião pública, para poupar os deputados.

A decisões de arquivar as denúncias contra Sandes Júnior e Rubens Otoni e de prosseguir com a investigação de Leréia foram tomadas pela Corregedoria da Câmara. Já o arquivamento do caso de Protógenes foi decidido pelo Conselho de Ética da Casa, com o apoio da base governista.

A Mesa Diretora da Câmara ainda terá de referendar o prosseguimento da acusação contra Leréia. Se confirmá-la, Leréia responderá por quebra de decoro no Conselho de Ética da Casa. Em seu parecer, o relator, Jerônimo Goergen (PT-RS), argumentou que a relação de Leréia com Cachoeira ia além de uma mera amizade. "Tratava-se de uma relação de negócios", disse Goergen. Leréia é acusado de usar o cartão de crédito de Cachoeira para pagar contas pessoais, além de ter usado um telefone Nextel cedido pelo contraventor. Além disso, o deputado é suspeito de ser dono, em sociedade com o irmão de Cachoeira, de um avião.

Das agências

A acusação de que atuou como braço político do bicheiro Carlinhos Cachoeira no Senado levou Demóstenes Torres (sem partido-GO) a ser cassado, ontem, por 56 votos a favor da perda de mandato, 19 contra e 5 abstenções. A punição, porém, não apaga o foco da denúncia, nem evita outros desdobramentos do escândalo dentro do Congresso. Quem assumirá a vaga de Demóstenes é o empresário Wilder Pedro de Morais (DEM-GO), que foi casado por oito anos e teve dois filhos com Andressa Mendonça, atual mulher de Cachoeira.

Wilder foi o segundo maior financiador da campanha de Demóstenes em 2010, com doa­­ções que totalizaram R$ 700 mil. Também é secretário estadual de Infraestrutura do governo de Marconi Perillo (PSDB), em Goiás, desde 2011. Perillo é um dos maiores alvos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, que deve se arrastar ao longo do segundo semestre.

Apesar de o substituto de Demóstenes ter forte ligação com o bicheiro, no Congresso o cheiro de pizza em torno do assunto é forte. Há quem aposte que a cassação do senador serviria apenas para dar uma satisfação à opinião pública para que outros parlamentares envolvidos com o bicheiro não sejam punidos.

A suspeita de que isso ocorrerá foi reforçada ontem pelo Conselho de Ética e pela Corregedoria da Câmara dos Deputados. No mesmo dia em que Demóstenes perdeu o mandato, o Conselho rejeitou a abertura de processo contra o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) para investigar supostos vínculos do parlamentar com o grupo de Cachoeira. A Corregedoria da Casa também decidiu não levar adiante dois de três processos similares contra os deputados goianos Sandes Júnior (PP) e Rubens Otoni (PT), igualmente envolvidos com o bicheiro. Apenas Carlos Alberto Lereia (PSDB), outro parlamentar ligado a Cachoeira, continuará sendo investigado (mais detalhes na reportagem à direita).

Bode expiatório

No seu discurso de defesa no plenário, o próprio Demóstenes deu a entender que será o único parlamentar punido. "Eu sou na verdade um bode expiatório. Querem me pegar porque vai ficar mal para a imagem do Senado [não aprovar a cassação]. Mas vocês sabem muito bem que, se as pessoas quiserem fazer rolo aqui dentro do Senado, há espaço. Eu não fiz."

Em uma fala de 35 minutos, ele tentou convencer os colegas de que a cassação era "desproporcional" ao conteúdo da acusação e pediu tratamento "isonômico" em relação a outros senadores que sofreram acusações de quebra de decoro. Demóstenes focou o caso de Humberto Costa (PT-PE), relator do seu processo de perda de mandato no Conselho de Ética. Costa esteve envolvido em denúncias sobre a máfia dos sanguessugas quando foi ministro da Saúde (2003 a 2005). "O que eu quero é o mesmo tratamento que foi dado ao senador Humberto Costa, que provou que era inocente. Eu quero esse direito. Por que minha cabeça tem de rolar?"

Os argumentos não sensibilizaram os senadores. Após a cassação, poucos falavam em tom de comemoração e evitaram prever o que vem pela frente. "Se acharmos necessário, vamos abrir outro processo contra o suplente [de Demóstenes]. Agora ainda é cedo para falar", afirmou o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP). Já o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi mais enfático: "Esse é um episódio de página virada".

Apenas Luiz Estevão havia sido cassado na história do Senado

Inelegível até 2027, o ex-senador Demóstenes Torres entra para a história como um dos raros congressistas cassados. Somente outro senador perdeu o mandato no exercício do cargo: Luiz Estevão (foto), em 2000, acusado de envolvimento no desvio de verbas públicas na construção do prédio do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.Em um rol parecido estão os ex-deputados Roberto Jefferson (PTB-RJ), José Dirceu (PT-SP) e Pedro Corrêa (PP-PE). Eles tiveram os mandatos de deputado cassados entre 2005 e 2006 por envolvimento com o mensalão. Outros 16 acusados de participação no esquema acabaram sem qualquer punição. Desde então, a Câmara não cassou nenhum outro deputado. (AG)

A queda

Expoente da oposição, Demóstenes Torres viu sua reputação ser desmontada em apenas quatro meses.

3 de março – Grampos feitos pela Polícia Federal revelam a ligação entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o senador.

6 de março – Em pronunciamento, Demóstenes diz ser amigo de Cachoeira, mas não ter vínculo profissional com ele.

12 de março – PSol pede investigação sobre a relação do parlamentar com Cachoeira.

16 de março – Relatório do Ministério Público Federal mostra que Cachoeira deu a Demóstenes um telefone supostamente imune a grampos.

27 de março – Demóstenes pede afastamento da liderança do DEM no Senado.

29 de março – STF determina quebra de sigilo bancário do senador.

3 de abril – Ameaçado de expulsão, senador pede desfiliação do DEM.

10 de abril – Conselho de Ética do Senado acolhe pedido do PSol e abre processo contra Demóstenes por quebra de decoro parlamentar.

29 de maio – Em depoimento no Conselho de Ética, Demóstenes rebate acusações de que teria atuado em favor de Cachoeira. Ele disse se sentir traído pelo bicheiro.

30 de maio – CPMI do Cachoeira aprova quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e do e-mail do senador.

31 de maio – Convocado para depor na CPMI, Demóstenes fica em silêncio

25 de junho – O Conselho de Ética aprova a cassação do mandato do senador.

9 de julho – O senador discurso no plenário e diz que mentir não é motivo para perder mandato.

11 de julho – Demóstenes é cassado pelo plenário do Senado.

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Vida Pública | 1:36

Para o senador paranaense, decisão vem de encontro às expectativas do povo brasileiro. Segundo ele, foi um dia de tristeza pelo fato de haver a necessidade de cassar um colega, mas de alegria por ter se cumprido um dever.

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