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Senadores evitaram sentar-se próximo a Demóstenes e apenas seu advogado ficou ao seu lado | Antônio Cruz/ABr
Senadores evitaram sentar-se próximo a Demóstenes e apenas seu advogado ficou ao seu lado| Foto: Antônio Cruz/ABr

"Força na peruca", diz afilhada a Demóstenes

Pouco depois de fazer pela última vez a sua defesa na tentativa de evitar a cassação de seu mandato, o agora ex-senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) recebeu em seu telefone, por meio de mensagem de texto, o consolo de sua afilhada, Larissa. "Força na peruca. Família unida com o senhor. Lembre-se: já venceu, beijos", dizia a mensagem, flagrada pelos fotógrafos. Nos últimos dias, Demóstenes subiu abatido à tribuna do Senado por sete vezes seguidas, diante de um plenário quase vazio, para tentar sensibilizar os colegas, em vão.

56 x 19 foi o placar da cassação do senador Demóstenes Torres. Houve ainda 5 abstenções e um senador faltou. O presidente do Senado, José Sarney, só votaria em caso de empate.

"Chamar uma mulher de vagabunda é algo que a crucifixa para o resto da vida. Como vai provar sua honradez? Aqui, me defendi de várias adjetivações. Fui chamado de bandido, psicopata, braço político. (...) Como me defender disso? É como acusar uma mulher de vagabunda."

Demóstenes Torres.

"A sociedade exigia uma resposta à altura da dignidade parlamentar."

Alvaro Dias, senador (PSDB).

  • Mensagem da afilhada para Demóstenes(leia abaixo)

O senador Demóstenes Torres usou a tribuna do Senado quase diariamente para se defender nas duas últimas semanas. Na maioria das vezes falou para um plenário vazio. Ontem, na oportunidade derradeira de defesa, escolheu palavras pesadas para tentar sensibilizar os 80 colegas que compareceram à sessão – o único ausente foi Clóvis Fecury (DEM-MA).

De início, disse que as denúncias contra ele eram como acusar uma mulher de "vagabunda". "Como ela se defende disso?", questionou. Depois, disse que foi perseguido como um "cão sarnento". Os termos resumem bem os bastidores do dia de sua cassação.

Demóstenes foi o primeiro a chegar ao plenário, sete minutos antes do horário previsto para o início da sessão, às 10 horas. Estava acompanhado do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que sentou-se em uma cadeira improvisada ao lado do cliente. Ao redor deles, um clarão de poltronas vazias.

Os demais senadores foram chegando aos poucos. Raros cumprimentaram o acusado. Entre eles, Renan Calheiros (PMDB-AL), que escapou de dois processos de cassação em 2007, suspeito de ter as contas pagas por um lobista. Na época, Demóstenes disse abertamente que havia votado pela cassação de Renan.

O isolamento de De­­mós­­tenes tinha um sentido "midiático". Como a sessão foi aberta à imprensa, cada expressão do senador goiano foi fartamente fotografada e filmada, já que o espaço destinado aos jornalistas fica a menos de dez metros do assento dele. A marcação foi cerrada até quando o acusado deixou a sessão para ir ao banheiro.

Pelo menos 15 jornalistas, parte deles de celular com câmera em punho, partiram atrás dele. Demóstenes conseguiu aliviar-se graças a um segurança que ficou plantado na porta do banheiro. Na saída, cumprimentou parte dos repórteres. "Será que ele não lavou a mão?", perguntou um dos jornalistas (famoso, por sinal).

Enquanto isso os discursos se sucediam para uma plateia angustiada. Um dia antes, o presidente do Senado, José Sarney, havia alertado os colegas para serem sucintos para que o julgamento não extrapolasse três horas – o que realmente aconteceu.

Todos tinham o direito de falar por dez minutos. Quinze dos 80 senadores presentes se inscreveram, mas dez acabaram desistindo. Nenhum dos cinco oradores finais falou em defesa do Demóstenes.

O número não faria muita diferença, já que poucos se dedicaram a prestar atenção no que os colegas diziam – preferiam o papo em rodinhas bem no meio do plenário. O único que conseguiu atrair o foco e silenciar o ambiente foi Demóstenes. E, após a proclamação do resultado, foi ele quem não quis companhia. Em passos rápidos, levou menos de um minuto para sair do plenário. Não era mais um cão sarnento. Nem um senador da República.

Senadores paranaenses já esperavam o resultado

Os três senadores paranaenses já esperavam pela cassação de Demóstenes Torres. Alvaro Dias (PSDB), Sérgio Souza (PMDB) e Roberto Requião (PMDB) haviam indicado há duas semanas que votariam pela perda de mandato do colega. Nenhum fez discurso durante a sessão de ontem.

"A sociedade exigia uma resposta à altura da dignidade parlamentar", declarou Alvaro. Líder do PSDB e parceiro de Demóstenes na oposição aos governos Lula e Dilma Rousseff, o tucano disse que a decisão provoca um "misto" de emoções: "Tristeza pela cassação de um colega e alegria porque cumpriu-se um dever".

Para Sérgio Souza, De­­móstenes pagou também por problemas de relacionamento com os colegas. "Era comum ver ele com dedo em riste apontando culpados. E de repente se percebeu que ele só parecia estar vestido sob um manto de moralidade", avaliou Souza.

Já Requião escreveu no microblog Twitter que a cassação não pode mascarar a gravidade do escândalo do bicheiro Carlinhos Cachoeira. "Delta, empresas e pessoas laranjas, será que a condenação do Demóstenes será suficiente para encobrir tudo o mais?", questionou Requião.

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