O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) se comparou a uma mulher que é acusada de ser "vagabunda" ao iniciar seu discurso de defesa no plenário do Senado, durante a sessão que terminou com a cassação do mandato dele.
Segundo ele, essa mulher não tem como se defender depois de uma acusação dessas, quando ela já está jogada no chão. Afirmou ainda que foi "perseguido como um cão sarnento" e investigado como nenhum outro político no país.
"Chamar uma mulher de vagabunda é algo que a crucifixa para o resto da vida. Como vai provar sua honradez se, desde o início, ela foi jogada no chão. Aqui, me defendi de várias adjetivações. Fui chamado de bandido, psicopata, braço político, pessoa que tem dupla personalidade, que coloquei meu mandato à disposição de uma quadrilha, que era um despachante de luxo."
Sem citar quais, o senador disse que derrubou as cinco acusações contra ele. "Não tendo mais o que fazer, começaram a dizer isso e aquilo: despachante de luxo, braço político. Como me defender disso? É como acusar uma mulher de vagabunda."
O senador ainda citou denúncias que atingiram no passado o relator do seu processo de cassação, o senador Humberto Costa (PT-PE), acusado pela Polícia Federal de envolvimento num esquema de corrupção. "O que eu quero de Vossas Excelências é o mesmo tratamento dado ao senador Costa. Ele provou que era um homem honrado. Ele foi grampeado, foi investigado. Eu quero esse direito. Por que minha cabeça tem que rolar? Eu provei aqui várias vezes que fui inocente. Eu quero o direito do tempo que toda pessoa tem."
O petista acabou inocentado pela Justiça, embora politicamente tenha sofrido. "Por que a minha cabeça tem que rolar? Eu provei que sou inocente. Eu quero o direito do tempo. Não ajam como Pilatos, não lavem as mãos". Para complementar: "Eu tenho uma conduta parlamentar impecável."
"Eu peço aos senhores que não lavem as mãos em relação a mim. Me deixem ser julgado pelo Poder Judiciário, pelo povo do meu Estado", afirmou Demóstenes.
Ele disse que jamais mentiu no Senado. "Eu tenho a conduta parlamentar impecável. Os senhores são atestados disso. Quantas vezes procurei este ou outro senador no mandato para pedir qualquer favor para Carlos Cachoeira, ou qualquer outro? Onde aparecei isso. Não posso ser julgado porque os outros da Câmara tiveram o direito de se defender, eu não. Seis governadores também se relacionavam com Cachoeira, dezenas de deputados federais. Os outros não têm nada. O bandido sou eu? O tratamento tem que ser isonômico É isso que peço à Casa."
Demóstenes também disse que não enriqueceu na política.
"Um senador com um patrimônio ridículo depois de tudo que fui na vida. Um imóvel financiado, um carro 2010, 20% de uma faculdade que nunca me rendeu um centavo. Se pessoas aqui na Casa quiserem fazer rolo, espaço há. Eu nunca fiz, como os senhores nunca fizeram."
Defesa
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, antecedeu Demóstenes na tribuna. "É suficiente para cassar um senador o fato de ter usado um rádio nextel?", questionou.
O rádio a que se referiu foi dado a Demóstenes pelo empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e era usado pelos membros de uma quadrilha que, segundo a PF, corrompia agentes públicos.
Cachoeira está preso desde fevereiro acusado de comandar o esquema.
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