Cotado para assumir um ministério no segundo governo de Dilma, o ex-governador da Bahia Jaques Wagner é suspeito de ter recebido recursos desviados para sua campanha em 2006| Foto: Sérgio Moraes/Reuters

Campanha ao governo

Empresas ligadas ao PT baiano receberam R$ 1,5 milhão

Entre os contratos de 2008 da gerência de Comunicação da área de Abastecimento da Petrobras, que era comandada por Geovane de Morais, havia dois que destinavam R$ 1,5 milhão para filmagem de festas de São João e Carnaval na Bahia. As produtoras de vídeo trabalharam na campanha do ex-governador da Bahia Jaques Wagner, cotado para assumir um ministério no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

A apuração sobre Morais começou por iniciativa da ex-gerente da Petrobras Venina Velosa, sua então superiora hierárquica direta, na função de gerente-executiva da área de Abastecimento.

A direção da estatal criou, em 5 de dezembro de 2008, uma comissão para investigar Morais, tendo indicado Rosemberg Pinto, assessor do então presidente da companhia, Sérgio Gabrielli, como coordenador da equipe. Em menos de duas semanas, Rosemberg entregou relatório, concluindo que Morais não havia respeitado normas de contratação e de gastos.

Não satisfeita, Venina criou uma nova comissão. Da segunda vez, apontou os indícios de desvios.

Com base no relatório, o departamento jurídico da Petrobras concluiu que era o caso de demitir Morais por justa causa.

As produtoras Movimento e M&V tinham ligações com o PT baiano. Ambas tinham o mesmo dono, Vagner Angelim, que trabalhou na vitoriosa campanha de Wagner ao governo da Bahia, em 2006. Em 2004, a Movimento Produções doou R$ 2.500 dos R$ 5.522 arrecadados pela campanha a vereador do funcionário da Petrobras Moisés Rocha (PT), amigo de Morais.

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As denúncias feitas pela ex-gerente da Petrobras Venina Velosa da Fonseca, de que houve vários desvios na estatal e que a direção da companhia foi informada sobre as irregularidades, atingem o governador da Bahia Jaques Wagner, cotado para ser ministro no segundo mandato de Dilma Rousseff, e o ex-presidente da petrolífera José Sérgio Gabrielli. O caso foi revelado pelo jornal Folha de S.Paulo em 2009. Ontem, novas informações foram publicadas pelo jornal Valor Econômico.

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Em 2009, Venina denunciou que o então gerente de Comunicação da área de Abastecimento da Petrobras, Geovane de Morais, havia autorizado irregularmente gastos milionários sem qualquer comprovação da prestação de serviços, com fortes indícios de desvio de recursos. Baiano de Paramirim, Morais é ligado ao grupo político petista oriundo do movimento sindical de químicos e petroleiros do estado, do qual fazem parte Wagner e Rosemberg Pinto, então assessor do presidente Gabrielli.

A ex-gerente também alertou a atual presidente da estatal, Graça Foster, e o atual diretor de Abastecimento, José Carlos Cosenza (que substituiu o delator Paulo Roberto Costa), de acordo com mensagens internas a que o Valor teve acesso. Venina prestará depoimento ao Ministério Público Federal, em Curitiba, na próxima semana.

Campanha na Bahia

A Petrobras divulgou nota ontem em que afirma que as informações da funcionária foram apuradas. A empresa não confirma se Foster e Cosenza receberam os e-mails publicados pelo jornal. Os alertas são referentes a desvios em três áreas da empresa.

Após as denúncias de 2009, uma auditoria constatou as suspeitas de fraudes e desvios nos pagamentos autorizados por Morais. Duas produtoras de vídeo que trabalharam nas campanhas do ex-governador da Bahia Jaques Wagner e de duas prefeitas do PT receberam R$ 4 milhões da Petrobras em 2008, sem licitação, em projetos autorizados por Morais.

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Como gerente de Comunicação da área de Abastecimento, Morais era subordinado ao ex-diretor Paulo Roberto Costa, delator e pivô do atual escândalo de corrupção.

Morais teve sua demissão por justa causa determinada pela direção da estatal, mas tirou licença médica em seguida. Ele só foi demitido cinco anos depois.

Em 2008, Morais administrava um orçamento de R$ 31 milhões. A sindicância interna constatou uma série de irregularidades em sua gestão, incluindo "indícios de pagamentos sem a devida entrega de serviços contratados". Desde então, a direção da Petrobras, incluindo a presidente Graça Foster e seu antecessor, Gabrielli, sabiam dessas suspeitas de desvio na diretoria comandada por Paulo Roberto Costa.