Nem a frente parlamentar anticorrupção nem as declarações feitas pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) contra seus colegas serão capazes de provocar mudanças significativas no maior partido brasileiro. O PMDB deve continuar trilhando o mesmo caminho que vem percorrendo nos últimos anos: ficar longe da disputa direta pela Presidência e apoiar o partido que ocupa o poder. E, nessa relação, o que impera são barganhas políticas do tipo que permitem a indicação da diretoria de um fundo de pensão, por exemplo.
O presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), Geraldo Tadeu Monteiro, recorre a uma velha cantiga para expressar sua incredulidade em relação à legenda: "Mais fácil o sertão virar mar do que o PMDB mudar." Para ele, as críticas feitas por Jarbas até o momento foram muito genéricas o senador disse que no PMDB só havia corruptos e por isso insuficientes para provocar uma discussão mais profunda.
Segundo o analista, o PMDB segue à risca uma orientação dada há quase cinco décadas pelo político mineiro José Maria Alckmin: melhor do que estar no poder, é ser amigo do poder. "Assim fica livre das responsabilidades inerentes ao governo, mas têm as benesses do poder, que são trocadas pelo apoio dos parlamentares." Para Monteiro, o partido só deve sofrer uma mudança profunda quando tiver em suas fileiras uma liderança que seja unanimidade. "A sigla é hoje uma confederação de líderes regionais, cada um com uma ideologia, que não têm fôlego para uma disputa nacional", acrescenta.
De acordo com o cientista político Rudá Ricci, a não ser nos períodos ditatoriais, o Brasil sempre teve uma legenda que assumiu o papel de fiel da balança, como o PMDB nos últimos anos. Segundo ele, esse papel é necessário, pois a sociedade brasileira ainda não tem uma cultura política muito definida. "A população quer resultados pragmáticos. O PMDB é popular por causa disso. Como não tem um programa muito definido, consegue acomodar lideranças com visões totalmente diferentes entre si."
Ricci diz ainda que a frente parlamentar que será lançada hoje tem poucas chances de prosperar. "Acho difícil que dentro do Congresso Nacional nasça alguma ação ou proposta de sucesso nesse sentido. Levantar a bandeira da corrupção é atacar o sistema partidário atual, e isso não é do interesse das legendas", observa.
2010
A facilidade que os peemedebistas têm de transitar entre oposição e situação motiva Monteiro e Ricci a fazerem a mesma afirmação: aúnica certeza é que o PMDB fará parte do próximo governo.
De acordo com o líder do partido na Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN), há a intenção de se construir uma candidatura própria para 2010. "Reconheço que falta ao partido uma liderança nacional. Pretendemos fazer alguma mobilização nesse sentido." Mas ele afirma que há um compromisso com Lula e sua candidata, Dilma Rousseff. "Na época certa vamos ver se lançamos um nome ou não." A respeito da frente parlamentar anticorrupção e das declarações do senador Jarbas, Alves diz que não há motivos para o PMDB se sentir ameaçado. "Somos o maior partido do Brasil, em escolha feita pelo povo. Isso incomoda muita gente. Mas estamos acima de denúncias infundadas", diz.
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