O depoimento de uma empregada doméstica coloca a chefe do setor de telefonia da Assembleia Legislativa do Paraná, Silvana Bruel, no centro de uma suposta organização criminosa que cooptava funcionários fantasmas e laranjas, falsificava declarações de Imposto de Renda e desviava a restituição do imposto.
O documento obtido com exclusividade pela Gazeta do Povo é um termo de declaração que a empregada doméstica Edilia Maria Alves da Silva prestou à Receita Federal, em agosto de 2010 cinco meses depois da publicação da série Diários Secretos que expôs irregularidades na Assembleia do Paraná.
Edilia declarou nunca ter trabalhado na Assembleia. Mesmo assim, na lista de servidores divulgada em 2009 na gestão do ex-presidente Nelson Justus (DEM), o nome dela consta na relação de funcionários do Legislativo.
Documentos bancários, de posse da reportagem, revelam que Edilia recebeu salários desde 2005, sendo que em junho de 2006 chegou a receber R$ 11,5 mil. Os comprovantes mostram que a empregada doméstica recebeu cerca de R$ 260 mil entre 2005 e 2009.
Conta bancária
Edilia contou no depoimento que sabe da existência de uma conta bancária em nome dela no HSBC. "Quem movimentava [a conta] era Silvana Bruel", afirma a empregada. Edilia disse ainda que foi orientada a não comparecer ao banco que fica na Assembleia porque "poderia ter alguma câmera de vigilância". Ela conta ainda que só esteve no banco uma vez em abril do ano passado. Edilia alega no depoimento que sacou dinheiro e entregou para Silvana. Afirmou também que "tomou conhecimento da existência do cartão magnético e senha somente para entregar o salário nesse último mês de abril, e depois disso entregou o cartão e o dinheiro novamente a Silvana".
Sobre as declarações de Imposto de Renda e as restituições, a empregada doméstica diz que nunca ficou com o dinheiro restituído. Em um outro trecho do depoimento à Receita, Edilia afirma "que Silvana falou que tinha um rapaz na Assembleia que fazia as declarações e que Silvana pediu para ela dizer que as declarações eram dela".
Silvana Bruel teria conhecido Edilia quando ela era empregada na casa do irmão dela. A proximidade teria permitido que Silvana aliciasse a empregada. Edilia declarou que Silvana a teria colocado como laranja na Assembleia, que recebia R$ 100 por mês e que chegou a assinar cheques em branco.
A PF e o MPF agora investigam se Silvana Bruel ficava com o salário depositado pela Assembleia na conta da empregada doméstica. A Gazeta do Povo procurou Silvana Bruel para falar sobre as acusações, mas ela não foi localizada.