Acusação
Collor pede investigação do procurador-geral da República
Agência Estado
O senador Fernando Collor (PTB-AL) anunciou ontem, no plenário da CPMI do Cachoeira, ter apresentado seis diferentes pedidos de investigação contra o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Collor acuso Gurgel de supostamente não ter levado adiante, em 2009, uma investigação que ligava o bicheiro Carlinhos Cachoeira a parlamentares.
O comportamento do procurador também tem sido questionada por petistas, interessados em enfraquecer a posição de Gurgel no processo do mensalão. No julgamento no Supremo Tribunal Federal, o procurador-geral será o responsável pela acusação dos réus.
Collor quer que Gurgel e sua mulher, a subprocuradora-geral da República Cláudia Sampaio, sejam investigados pelo STF por suposto crime de prevaricação, por terem segurado a apuração contra o contraventor. Gurgel e sua mulher já declararam que não levaram adiante a investigação da Operação Vegas por entenderem que o STF iria arquivar o pedido por falta de provas contra os parlamentares.
Conforme as declarações de ambos, como estratégia de investigação penal, foi melhor ter esperado a deflagração da Operação Monte Carlo, que em fevereiro passado levou à prisão de Cachoeira e revelou uma ligação de quatro parlamentares com o contraventor.
Collor também pediu a investigação do casal por ato de improbidade que, se aceito, será feita pela Justiça de 1.ª instância, pelo fato de ambos não disporem de foro privilegiado. O senador alagoano apresentou ainda outros três pedidos de apuração no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Ele ainda apresentou uma sexta representação para que o Senado abra processo contra Gurgel por crime de responsabilidade. Esse último pedido, se julgado favorável, pode levar à perda do cargo pelo procurador-geral.
R$ 1,4 milhão
é quanto o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), diz ter recebido pela venda da casa na qual Cachoeira foi preso. Há a suspeita de que o imóvel custou R$ 500 mil a mais. Perillo nega isso.
"O Demóstenes [Torres] sugeriu para o primeiro escalão o suplente dele e outros nomes de pessoas qualificadas que foram nomeadas."
Marconi Perillo (PSDB), admitindo que nomeou pessoas indicadas por Demóstenes, acusado de ser o operador político de Cachoeira, para o governo de Goiás.
"Eu não estava telefonando ali para um contraventor, mas para um empresário que atuava no ramo de produção de medicamentos."
Perillo, dizendo que não via Cachoeira como um contraventor quando telefonou a ele para cumprimentá-lo pelo aniversário.
O depoimento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), à CPMI do Cachoeira opôs tucanos a petistas, que chegaram a trocar, aos gritos, acusações. Mas houve parlamentares que, distantes da disputa entre o PT e o PSDB, viram na exaltação de ânimos tão-somente uma encenação para a opinião pública. Para eles, Perillo foi poupado de perguntas mais incisivas, numa demonstração de que haveria um acordo para preservar os três governadores suspeitos de envolvimento com o esquem do bicheiro Carlinhos Cachoeira: Perillo, Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ).
O senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) disse entender que há "um jogo combinado" na CPMI do Cachoeira. Para ele, as perguntas ao governador foram "leves demais". "Eu acho que a CPI poderia ter exigido muito mais; o próprio relator [o petista Odair Cunha] poderia ter sido muito mais exigente e os parlamentares, principalmente do PT e do PMDB, poderiam [ter exigido mais]. Claramente há alguma coisa estranha", disse o senador.
Anteontem, circulou nos bastidores do Congresso a informação de que o PSDB teria proposto ao PT e a partidos da base aliada um pacto de não agressão na CPMI. Randolfe disse não saber detalhes do que classificou como "jogo de cartas marcadas". Mas afirmou que terá certeza da existência ou não do acordo hoje, quando a CPMI ouvirá Agnelo.
Um sinal do suposto pacto ocorreu durante a sessão que ouvia Perillo, quando o relator da CPMI Odair Cunha (PT-MG) indagou ao governador se ele se disporia a abrir mão de seus sigilos telefônico, bancário e fiscal. Cunha ainda disse que Perillo estava depondo na condição de "investigado".
Parlamentares do PSDB reagiram aos gritos. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) acusou Cunha de promover "direcionamento" das investigações contra tucanos. Quem pôs panos quentes e contornou a situação foi o presidente da CPMI, o peemedebista Vital do Rêgo (PMDB-RN). "O governador está aqui na condição de testemunha", disse Rêgo.
Odair Cunha, então, recuou: "Marconi Perillo comparece como testemunha numa investigação sobre o envolvimento da organização criminosa e as pessoas que essa organização corrompeu e cooptou, especialmente no governo de Goiás e do Distrito Federal". O petista ainda disse que a versão de Perillo tinha "começo, meio e fim", dando entender que as respostas foram satisfatórias. Para alguns parlamentares da CPMI, o petista Cunha praticamente tirou o governador tucano do rol de suspeitos o que aumentou a suspeita do acordo entre partidos.
A suspeita ficou mais forte diante da postura do próprio Perillo, que fez elogios à presidente Dilma Rousseff durante o depoimento. "Eu tenho aqui que reafirmar uma coisa: tenho recebido por parte de ministros do governo e da presidenta Dilma um tratamento republicano [como governador]", afirmou o tucano.
Oito horas
Durante o depoimento, que durou oito horas, Perillo disse ser vítima de perseguição política. Afirmou que não via Cachoeira como contraventor quando lhe telefonou para cumprimentá-lo pelo seu aniversário e nas vezes em que se encontraram pessoalmente. O tucano disse que via Cachoeira como dono de um dos maiores laboratórios farmacêuticos do Centro-Oeste, o Vitapan.
Perillo ainda negou irregularidades na venda da casa que tinha em Goiânia, na qual Cachoeira foi preso em fevereiro. Suspeita-se que Cachoeira tenha sido o comprador oculto do imóvel. O governador negou também ter recebido R$ 500 mil por fora na venda da residência, como sugerem grampos da Polícia Federal (a casa, oficialmente, custou R$ 1,4 milhão).
Perillo admitiu, porém, que nomeou no governo pessoas indicadas por Wladimir Garcez e pelo senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Segundo a PF, os dois atuavam como operadores políticos de Cachoeira. O tucano ainda negou ter recebido doação de campanha da empreiteira Delta, ligada a Cachoeira. E disse que o governo de Goiás nunca direcionou licitações para que a empresa fosse vencedora.