Além do condomínio Solaris, no Guarujá, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já teve um apartamento, a força-tarefa da Operação Lava Jato investiga outros empreendimentos que eram da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) e foram assumidos pela OAS. Os investigadores apuram crimes de sonegação e ocultação patrimonial, além de indícios de que parte dos imóveis tenha sido usada para repasse de propina. Um dos apartamentos investigados é o do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, dono de imóvel registrado em nome da empreiteira OAS em bloco do Residencial Altos do Butantã, na Zona Oeste de São Paulo.
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O apartamento tem área total de 100,6 metros quadrados e está situado no segundo andar do bloco B do residencial, no bairro Butantã. Por meio de sua assessoria, Freitas negou qualquer crime e disse ter comprovantes de quitação do imóvel. Ele disse que, apesar de ter pagado pelo apartamento “há três ou quatro anos”, ainda não tomou providências para alterar o registro em cartório. Diante da divulgação do caso, disse que pretendia fazer a transferência de registro na segunda-feira (1.º).
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Em despacho da Operação Lava Jato na quarta-feira (27), chamada de “Triplo X”, o juiz Sergio Moro atendeu o pedido do Ministério Público Federal (MPF) de determinar a apreensão, nas sedes da OAS e da Bancoop, de documentos referentes a quatro empreendimentos, entre eles o Altos do Butantã, onde Vagner tem seu apartamento, e o Mar Cantábrico, atual condomínio Solaris, no Guarujá, onde a família do ex-presidente Lula era dono de apartamento que atualmente está em nome da OAS e foi o único a passar por uma reforma bancada pela construtora.
Segundo os procuradores da Lava Jato, o objetivo é “verificar se houve ou não algum tratamento desigual em relação aos ex-cooperados” vinculados aos imóveis. O alvo inicial da força-tarefa era imóveis relacionados ao ex-presidente da Bancoop e ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que está preso desde abril de 2015 e foi condenado a 15 anos de prisão na Lava Jato. A investigação deve ser ampliada com base no material colhido nesta semana.
No passado, Vagner dividiu com Vaccari funções na Bancoop; em 2007, o atual presidente da CUT assinou pareceres na condição de conselheiro fiscal da cooperativa. A Polícia Federal investiga um imóvel adquirido pela mulher do ex-tesoureiro petista, Gilselda Rousie de Lima, no condomínio Solaris, no Guarujá. Ela declarou o apartamento no imposto de renda, embora ele esteja registrado em nome de uma funcionária da OAS. A suspeita da força-tarefa é que o imóvel tenha sido usado para lavagem de dinheiro e que o ex-tesoureiro o teria recebido como suborno da empreiteira.
Uma cunhada de Vaccari também é investigada sob suspeita de ter usado um imóvel no Guarujá para receber propina da OAS no Solaris. Em 2011, Marice Corrêa de Lima comprou um apartamento por R$ 150 mil. Dois anos depois, a OAS recomprou o imóvel por R$ 432,7 mil. A construtora o revendeu em seguida, amargando prejuízo, por R$ 337 mil.
Também estão sob investigação outros apartamentos em nome da OAS e da offshore Murray Holdings, criada pelo escritório Mossack Fonseca, alvo da operação. Presa na operação, a publicitária Nelci Warken seria responsável pela offshore, embora não tivesse patrimônio suficiente para realizar os negócios operados pela Morray, conforme detectaram os investigadores. A reportagem perguntou à assessoria da OAS por que o apartamento de Vagner Freitas continua em nome da empreiteira, mas ela não respondeu.
Quem é o presidente da CUT
Crítico da política econômica adotada pelo governo da presidente Dilma Rousseff no segundo mandato, o bancário Vagner Freitas, de 49 anos, é um interlocutor frequente do ex-presidente Lula. Filiado ao PT, o presidente da CUT faz parte do grupo que o líder petista reúne rotineiramente em seu instituto para discutir a conjuntura política do país e tentar encontrar saídas para a crise.
Apesar de ter sido um dos líderes dos ataques ao ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, Vagner chamou a atenção, em agosto do ano passado, ao ameaçar pegar em armas para defender o mandato de Dilma, durante um encontro promovido pela presidente no Palácio do Planalto com líderes de movimentos sociais.
“Somos defensores da unidade nacional, da construção de um projeto de desenvolvimento para todos e para todas. E isso implica, neste momento, ir para as ruas entrincheirados, com armas nas mãos, se tentarem derrubar a presidenta”, disse o sindicalista, na ocasião.
No mesmo dia, Vagner tentou amenizar a fala, alegando que não teve intenção de incitar a violência e que usou a palavras apenas como uma “figura de linguagem”.
Dois meses antes, no Congresso do PT, realizado em Salvador, Vagner ajudou a produzir um manifesto com as mais duras críticas à gestão de Levy. Apesar do apoio dos sindicalistas, a cúpula partidária conseguiu tirar os ataques do texto final do encontro.
No segundo semestre do ano passado, Vagner foi um dos líderes que viabilizaram a criação da “Frente Brasil Popular”, união de movimentos de esquerda idealizada por Lula para se contrapor aos grupos que desde o começo de 2015 têm saído às ruas para pedir o impeachment de Dilma. A Frente também reúne, entre outros, representantes do Movimento dos Sem Terra (MST) e da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Vagner faz parte ainda do novo Conselhão de Dilma. Antes de presidir a CUT – cargo que assumiu em 2012 –, foi presidente da Confederação Nacional dos Bancários (CNB). A carreira de bancário teve início aos 21 anos, como caixa do Bradesco.
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