Pato nada no Rio Doce em Minas Gerais: relação conflituosa entre deputados e setor de mineração.| Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Empresas mineradoras doaram ao menos R$ 6,6 milhões às campanhas de deputados federais que tratam diretamente do novo Código de Mineração e aos parlamentares da comissão externa da Câmara criada para monitorar os efeitos do rompimento das barragens da Samarco no município de Mariana, em Minas Gerais. Nesta segunda-feira (16), eles estarão em visita à região do desastre. As doações declaradas à Justiça Eleitoral foram feitas aos comitês dos candidatos ou aos diretórios dos partidos.

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Levantamento do jornal O Estado de S. Paulo no banco de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que 28 dos 36 deputados de três comissões sobre mineração receberam doações do setor no ano passado.

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Na recém-criada comissão especial para discutir o Código de Mineração, 11 dos 20 parlamentares já indicados receberam R$ 3,39 milhões. O valor pode aumentar, uma vez que ainda faltam sete indicações para o colegiado. Dos 18 deputados do grupo que viajará a Mariana, 13 foram financiados por mineradoras, no total de R$ 2,5 milhões. A Vale, controladora da Samarco com a BHP, doou R$ 4,2 milhões a deputados, segundo o Estadão Dados. A reportagem só contabilizou empresas que trabalham com mineração em seus grupos.

Membro da comissão externa, o deputado Rodrigo de Castro (PSDB-MG) foi o que recebeu no grupo o maior volume de doações diretas ou indiretas, feitas via direção nacional de seu partido. Foram R$ 801,1 mil. Castro não atendeu às ligações nem respondeu a mensagens até as 20h50 de ontem.

Campeão

O líder de doações é justamente o relator do texto que propõe novas regras para o setor, deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG). Ele recebeu R$ 1,4 milhão em doações diretas e indiretas. É também o maior beneficiário das mineradoras quando analisados os 18 deputados da comissão criada no início do ano que receberam doações do setor.

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Quintão diz que o “apoio” que recebe das mineradoras não interfere em seu trabalho. “Não cedi a lobby de mineradora. Recebo apoio financeiro, como tenho sido acusado pelos ambientalistas, legalmente do setor. Mas o projeto não tem nada de minha parte que isente mineradora. Ao contrário, estou aumentando [as cobranças às empresas]”, afirma.

A Câmara manteve em funcionamento uma comissão especial que, por sete meses, discutiu o Código de Mineração, mas foi encerrada sem votar o relatório de Quintão. Agora, um novo colegiado será constituído.

Coordenador da Frente Parlamentar Mista da Agropecuária, a chamada bancada ruralista, o deputado Marcos Montes (PSD-MG) recebeu R$ 788,7 mil de mineradoras. Integrante das duas comissões, a encerrada e a recém-criada, ele diz acreditar “ser extremamente normal” a situação. “Não é o fato lamentável do acidente que vai tirar o mérito das mineradoras”, diz. “Já fui ajudado por muitas empresas, porque acho que confiam em mim e sabem que posso fazer a defesa de setores que prestam serviço ao país.”