O Palácio do Planalto foi tomado de surpresa com a decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de abrir o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff nesta quarta-feira. No começo da tarde, logo após o anúncio dos deputados petistas de que votariam contra Cunha no Conselho de Ética, o governo reagiu imediatamente temendo que algo grave pudesse acontecer, vislumbrando a discussão do impeachment nas próximas semanas. No entanto, ao longo da tarde e com o ambiente parecendo calmo, o Planalto resolveu que aguardaria os desdobramentos da reunião do conselho, na semana que vem.
Mesmo com a preocupação no ar, ninguém imaginava que Cunha desse andamento ainda hoje ao pedido de afastamento. Imediatamente após o anúncio de Cunha de que aceitaria o pedido de impeachment, o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) desceu para o gabinete de Dilma para discutir o assunto. Em seguida chegou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O Palácio do Planalto deve se manifestar oficialmente sobre o assunto até o fim do dia.
Auxiliares da presidente afirmaram que o momento é de cautela e que não cabia até então ao governo se antecipar ao debate sobre o impeachment. Até minutos antes do anúncio de Cunha, o Planalto avaliava que se ele tomasse essa decisão, ficaria evidente que estava se vingando do PT e do Executivo. Surpreendidos, os governistas se reunirão para decidir qual será a reação a Cunha.
O núcleo político do governo vinha operando fortemente para que os três deputados petistas no Conselho de Ética aliviassem a situação de Cunha a fim de evitar que ele aja contra a petista. A operação, no entanto, vinha causando constrangimento na maioria da bancada do PT, que não concordava com a ajuda ao peemedebista.
“Berzoini, Jaques e Rossetto, que têm proximidade com muitos de nós na bancada sabiam da nossa posição e da nossa dificuldade, mas agiram de forma contraditória, numa posição de governo que não era boa para ninguém”, disse um parlamentar petista citando os ministros petistas da Secretaria de Governo, da Casa Civil e do Trabalho, respectivamente.
A decisão tomada pela bancada, com o suporte do PT a partir da nota do presidente Rui Falcão, expôs a rebeldia dos deputados com a pressão do governo. “Criou-se uma situação muito constrangedora. Não podemos igualar Dilma a Cunha”, disse o deputado Vicentinho (PT-SP).
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