Um governo mais isolado do que nunca terá seu destino traçado pelos 513 deputados da Câmara Federal, neste domingo (17). O cenário dos últimos dias, porém, aumentou muito a chance de o processo de impeachment ser aprovado e remetido ao Senado.
Desde a aprovação do relatório de Jovair Arantes (PTB-GO), na segunda-feira (11), a debandada de partidos aliados, o apoio popular ao afastamento detectado nas pesquisas de opinião e a forte cobrança de eleitores nas redes sociais deixaram o entorno da presidente Dilma Rousseff ainda mais contaminado.
PLACAR: Veja como os deputados devem votar o impeachment
Hora a hora, a chance de o governo conseguir os 171 votos para salvá-lo foi sendo atropelada pela probabilidade de pelo menos 342 parlamentares aprovarem o relatório.
A própria petista, em seus discursos, indicou sentir a debandada, ao juntar à retórica do golpe uma preocupação com a forma como sua iminente saída será contada pela história e a requentada promessa de um pacto com toda a sociedade.
Dos 100 parlamentares que se declaravam indecisos no começo da semana, cerca de 60 passaram a apoiar o impeachment. Em suas páginas nas redes sociais fica claro que eles não querem ser “intoxicados” pela proximidade com Dilma ou o PT. Criou-se o atual cenário de isolamento, com o governo petista podendo contar apenas com aliados históricos, a exemplo do PCdoB, e nacos incertos de bancadas, como do PDT e PR.
Essa onda ganhou terreno entre os indecisos por uma questão de alinhamento estratégico e espírito de sobrevivência política, explica o chefe do núcleo de auditoria de tecnologia de informação da Câmara dos Deputados, João Luiz Marciano. “Os parlamentares estão agindo racionalmente e buscando maximizar suas recompensas”, diz ele, que é professor do Mestrado Profissional em Poder Legislativo.
Saiba tudo sobre a votação do impeachment na Câmara: o guia definitivo
Leia a matéria completaEm ano de eleições municipais, os deputados têm interesse em manter o cacife político e atender ao pedido de suas bases. Muitos grupos de eleitores fazem pressão pela aprovação do impeachment – invariavelmente por causa da corrupção e da crise , não pelas “pedaladas fiscais” que embasam o pedido formal. Ficar perto do governo, agora, pode intoxicar suas chances eleitorais. “Isso valerá para a reeleição ao cargo de deputado, daqui a dois anos, mas em menor grau”, acrescenta Marciano.
O analista diz que a votação do impeachment é muito peculiar e exige essa postura. Normalmente, o placar só se torna conhecido após todos os parlamentares terem votado. No domingo, a votação será nominal, e o voto é computado um a um, aumentando a pressão sobre o deputado. “Quem ainda está indeciso, vendo a vitória de um dos lados, pode decidir se alinhar ao lado vencedor”, explica.
Se ganhar, vou propor um pacto sem vencidos nem vencedores... Se perder, sou carta fora do baralho... Vou embora para minha casa em Porto Alegre.”
O cientista político Leonardo Avritzer, professor na UFMG, afirma que a maioria dos 513 deputados não tem ideologia definida, e se posicionam mais pelos ganhos pessoais do que por convicção. “Mas isso não vale para todos. É absolutamente legítimo um parlamentar se declarar indeciso ainda, por estar avaliando todos os pontos envolvidos”, acrescenta.
Em segundo plano, situação fiscal do governo brasileiro piora
Leia a matéria completaEntre os deputados que se diziam indecisos e passaram a se declarar a favor do impeachment estão vários do PMDB, PP – siglas que romperam com Dilma – e PDT, que permanece aliado ao governo federal. Giovani Cherini (PDT-RS) anunciou na quinta-feira (14) ser favorável ao impedimento.
Ele disse que já havia se decidido em janeiro, mas que estava no meio da negociação das dívidas dos estados com a União, processo que poderia ser prejudicado. Outros relataram que ponderaram o tempo necessário sobre o relatório e ouviram as bases eleitorais para se decidir.
Após declararem seu voto e defendê-lo pos dez segundos, passarão ao acerto de contas com seu eleitorado e à história de sua decisão. Assim como Dilma e o PT partirão para um novo governo ou para a batalha final no Senado quando o painel da Câmara marcar 342 ou 171 votos.
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