A presidente Dilma Rousseff subiu o tom no discurso para artistas e intelectuais contra o impeachment no Palácio do Planalto e comparou o clima de intolerância vivido no Brasil atualmente ao nazismo.
Ela criticou a médica gaúcha que deixou de ser a pediatra de uma criança porque sua mãe é petista e afirmou que as pessoas não devem ser marcadas pelo que pensam. Dilma argumentou que os brasileiros nunca tiveram “esse lado fascista”.
“Outro dia, uma pessoa me disse que isso parece muito com o nazismo. Primeiro você bota uma estrela no peito e diz: é judeu. Depois você bota no campo de concentração. Essa intolerância não pode ocorrer “, disse Dilma, sob aplausos.
A presidente apelou para o feminismo, ao afirmar que as mulheres não são frágeis, e que ela, especialmente, não é frágil e que é uma honra ter nascido mulher. A argumentação foi feita, ao dizer que há dois motivos que alimentam os que querem o “golpe”: primeiro a consciência de que o processo de impeachment carece de consistência e, por isso, surgem pedidos para que ela renuncie e, em segundo lugar, pelo fato de ela ser mulher.
“Acham que as mulheres são frágeis. Nós de fatos somos sensíveis, mas não somos frágeis. Há diferença entre uma coisa e outra. Não somos frágeis. Ninguém que cuida da família, cuida de filho, ninguém que trabalha, ninguém que cuida da família é muito frágil. Então eu sei que a mulher brasileira não é nada frágil. Eu honro o fato de ser uma mulher e ter nascido aqui no Brasil”, discursou.
Dilma voltou a expor o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que deflagrou o processo de impeachment, dizendo que ele só deu início ao pedido de impeachment porque “o governo se recusou a participar de qualquer farsa na comissão de ética que o julgava.”
Nesse segundo ato em uma semana pela “defesa da democracia e da legalidade”, o governo pretende consolidar a bandeira de que o impeachment é golpe e angariar mais seguidores em torno dessa linha.
- Não se negocia aspectos da democracia. Nós sabemos que ela é um valor para todos nós aqui, que ela é fundamental para preservar, garantir e defender esse país, para fazê-lo um país de todos os brasileiros e brasileiros. Essa unidade que nós aqui construímos em torno do “não vai ter golpe” vai ser uma das pedras fundamentais da retomada do crescimento e da reconstrução de uma sociedade melhor - discursou.
Dilma começou sua fala, de meia hora, relembrando do tempo em que, ao lutar contra a ditadura militar, ficou na prisão. Na semana passada, a presidente reuniu mais de 400 juristas no Planalto, quando recebeu manifestos de apoio à legitimidade de seu governo.
Participaram do evento, entre outros, Beth Carvalho, Letícia Sabatella, Osmar Prado, Sérgio Mamberti, o escritor Fernando Morais e a cineasta Anna Muylaert, do filme “Que horas ela volta?”.