Gazeta publica série sobre a ditadura militar
A Gazeta do Povo está publicando uma série de reportagens especiais que tentam analisar o regime militar e suas consequências para a vida atual do país.
Comissão das Forças Armadas comemora golpe no Rio
Com medo de hostilidades e violência em possíveis manifestações contrárias ao golpe militar, a comissão que reúne dos Clubes Militar, Naval e de Aeronáutica escolheu a zona oeste da cidade, a mais de 20 quilômetros do centro, para sessão solene de comemoração aos 50 anos do movimento que derrubou o presidente João Goulart. Embora os três clubes tenham sede no centro, a solenidade, seguida de um almoço, aconteceu na unidade da Barra da Tijuca do Clube de Aeronáutica. "Não deixaríamos passar a data em hipótese alguma. Mas, nas sedes do centro, não havia como garantir segurança das nossas instalações, do nosso pessoal", disse o presidente do Clube de Aeronáutica, brigadeiro Ivan Frota, que classificou a Comissão Nacional da Verdade de "uma afronta à verdade".
"Há quase um massacre a um episódio da história que foi a participação dos militares. Nosso poder de comunicação é ínfimo diante da mídia, mas será a briga de Davi e Golias. A contrapropaganda é o que nos resta", discursou o presidente do Clube Naval, almirante Paulo Frederico Dobbin. O almirante reclamou das edições dos jornais pelos 50 anos do golpe: "Da mesma maneira que apoiaram, agora criticam".
O encontro, que reuniu cerca de 80 militares da reserva, teve palestra do general reformado Álvaro Pinheiro. Integrante da operação de repressão à resistência armada no Araguaia, o militar negou a execução sumária de guerrilheiros e disse que os "companheiros despreparados" que torturavam os presos eram repreendidos.
A presidente Dilma Rousseff defendeu nesta segunda-feira (31) aqueles que "morreram e desapareceram" na luta contra o regime e também "pactos" conseguidos por meio de negociações com o governo autoritário da época, em uma referência aos 50 anos do golpe militar. Dilma participou no Palácio do Planalto da assinatura de contrato para execução das obras da segunda ponte do rio Guaíba, em Porto Alegre. Em cerimônia fechada a jornalistas, defendeu a liberdade de imprensa e as eleições diretas e homenageou os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva - ambos perseguidos políticos na época do regime militar.
"Cinquenta anos atrás, na noite de hoje (segunda), o Brasil deixou de ser um país de instituições ativas, independentes e democráticas. Por 21 anos, nossas instituições, nossa liberdade, nossos sonhos foram cassados", disse a presidente. "Nós conquistamos a democracia à nossa maneira, por meio de lutas e sacrifícios humanos irreparáveis, mas também por meio de pactos políticos", disse em seu discurso. "Assim como respeito e valorizo [quem lutou pela democracia] enfrentando a truculência do Estado - e nunca deixarei de enaltecer -, também reconheço e valorizo os pactos políticos que levaram à democratização", disse.
"Aprendemos o valor da liberdade, o valor de um Legislativo e de um Judiciário independentes. O valor da liberdade de imprensa, o valor de eleger no voto direto e secreto (...), de eleger um exilado, um líder sindical que foi preso várias vezes e uma mulher também que foi prisioneira. Aprendemos o valor de ir às ruas", continuou.
Segundo Dilma, "aqui no Brasil não houve um processo de abafamento desse processo". "Embora nós saibamos que o regime de exceção sobrevivem sempre pela interdição da verdade, da transparência, nós temos o direito de esperar que, sob a democracia, se mantenha a transparência, se mantenha também o acesso e a garantia de verdade, a memória e da história." "Devemos isso a todos os que morreram e desaparecem. Devemos aos torturados e aos perseguidos, devemos a suas famílias, devemos a todos os brasileiros."
"Como eu disse, neste palácio, repito há quase dois anos atrás quando instalamos a Comissão da Verdade: se existem filhos sem pais, se existem pais sem túmulo, nunca, nunca pode existir uma história sem voz. E quem dá voz à história são os homens e as mulheres livres que não têm medo de escrevê-la", completou a presidente.
Ato lembra 50 anos do golpe e pede punição a torturadores da ditadura
Um grupo de manifestantes participa nesta segunda-feira (31) de um ato unificado para exigir a punição dos torturadores, assassinos e ocultadores de cadáveres durante a ditadura militar (1964-1985) na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. De acordo com a Polícia Militar, cerca 400 pessoas participam do ato "Ditadura Nunca Mais: 50 anos do golpe militar" em frente ao 36º DP, sede do antigo Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna (DOI-Codi), um dos principais centros de repressão e tortura da ditadura.
Os manifestantes seguram cartazes com imagens de desaparecidos durante o regime militar e pedem punição aos torturadores. Segundo pesquisadores, 46 presos políticos foram mortos no DOI-Codi paulista, entre eles o jornalista Vladimir Herzog, em 1975.
"As práticas de repressão e de violência de Estado que marcaram o período autoritário ainda permanecem ocorrendo contra a população pobre e negra da periferia, bem como contra as manifestações populares que têm sido realizadas e todo o país", diz nota dos organizadores do evento.
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