A presidente afastada Dilma Rousseff sinalizou a senadores e aliados que aceitaria propor um plebiscito para definir a convocação de novas eleições presidenciais, caso seja reconduzida ao cargo. Segundo pessoas próximas à petista e parlamentares que a procuraram para tratar do assunto na quarta-feira (8), Dilma demonstrou disposição em abraçar a proposta, se ela for adotada, primeiro, pelos movimentos sociais.
A promessa de que terá disposição para deixar o Planalto caso seja reconduzida é o principal argumento que aliados da petista têm usado para tentar reverter votos no Senado contra sua cassação. No Senado Dilma teve 22 votos contra seu afastamento. Precisa de 27 para barrar o impeachment.
A ideia é que a proposta de novas eleições surja como uma demanda das ruas, para minimizar a tese de que, na verdade, esse caminho representa uma admissão de que a petista não tem condições de governar até 2018.
O problema é que não há consenso sobre o assunto entre os movimentos sociais e, ainda que houvesse, o fato de a petista deixar o cargo não garante que o hoje presidente interino, Michel Temer, seu vice, fará o mesmo. Os principais articuladores da proposta reconhecem que esse é o principal entrave, inclusive jurídico, à viabilidade das novas eleições. No Congresso, aliados de Temer dizem ainda que, de saída, a medida é inconstitucional, porque implica o encurtamento do mandato.
Resistência da base
Há também resistência na base social do PT. A principal vem do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da CUT (Central Única dos Trabalhadores). Procurado, o líder do MST João Pedro Stédile refutou a tese e disse que “não há fórmula mágica de antecipação de eleições”. “O MST e a ampla maioria dos movimentos da Frente Brasil Popular têm como linha política lutar contra o governo golpista de [Michel] Temer e exigir a revogação do processo contra a presidente Dilma, para que ela reassuma”, disse Stédile.
Segundo ele, o MST já deixou claro para a petista que, se ela voltar ao Planalto, precisaria repactuar o governo, sinalizando para os grupos que a apoiaram. O discurso do MST é o de que só uma reforma política ampla poria fim à crise. Por isso, defende que Dilma convoque um plebiscito sobre a realização de Assembleia Nacional Constituinte para discutir esse tema. Stédile admite, por fim, que “antecipar eleições presidenciais ou gerais não resolve os problemas”. “Ao contrário, poderia legitimar as mesmas forças conservadoras que deram o golpe.”
Outros líderes, no entanto, como Guilherme Boulos, do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), concordam com a convocação de novas eleições. Por isso, até que o impasse se resolva, a ordem é que Dilma não fale publicamente sobre o assunto.
Aliados de Dilma já trabalham com um cronograma. Ele que prevê que, uma vez reempossada, a petista convoque o plebiscito, e, vencendo a tese de novas eleições, envie uma mensagem ao Congresso dizendo que abre mão de seu mandato.
Outra frente
Diante da resistência da base social à proposta de novas eleições, Dilma também trabalha em outra frente: prepara uma carta de compromissos para o “novo governo” caso consiga reverter o processo de impeachment no Senado. O documento será entregue às frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, que lideram as manifestações contra Michel Temer, e vai indicar a intenção de uma guinada à esquerda, na direção contrária do que foi o segundo governo da petista.
A carta, que ainda não tem título nem data para ser entregue, é uma reivindicação tanto dos movimentos sociais que integram as duas frentes quanto do núcleo próximo de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em diversas ocasiões, afirmou que a presidente afastada deve dizer claramente como e para quem vai governar se conseguir retomar o cargo.
Entre os pontos cobrados pelos movimentos sociais estão a garantia de uma política econômica com foco no crescimento econômico, manutenção dos programas sociais e geração de empregos, compromisso com a reforma política e a montagem de um Ministério formado por notáveis e representantes dos setores que lutaram contra o impeachment.
O objetivo seria quebrar resistências de setores da esquerda que têm defendido a realização de novas eleições presidenciais ou por desconfiarem da capacidade de Dilma em criar condições mínimas de governabilidade ou porque ainda guardam ressentimentos em relação às escolhas da petista no segundo governo. Um petista chamou atenção para o detalhe de que o mote dos atos de hoje é “Fora Temer” em vez de “Volta Dilma”.
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