O Itamaraty “puniu” na quarta-feira (23) o diplomata Milton Rondó Filho – que enviou mensagens a todas as embaixadas e representações diplomáticas brasileiras no exterior solicitando divulgação de mensagens alertando para risco de golpe no país. Ele perdeu o direito de mandar circulares por conta própria e, agora, precisará de autorização superior para fazer isso. Segundo o Itamaraty, não houve sanção administrativa. A medida desautorizando o diplomata foi apenas verbal. Apesar disso, a presidente Dilma Rousseff decidiu conceder nesta quinta-feira (24) entrevista a jornais estrangeiros para denunciar à comunidade internacional o que chama de “tentativa de golpe” contra a gestão da petista e, assim, tentar angariar apoio para diminuir a pressão pela sua saída. Dilma, aliás, vem denunciando em praticamente todos os seus pronunciamentos públicos o que chama de “golpe”.
Na quarta (23), a revista britânica The Economist defendeu a renúncia de Dilma em editorial. A presidente foi a capa da edição para as Américas da revista com o título “Time to go” (“Hora de Partir”). A revista avalia que, até recentemente, mesmo sob os protestos, o governo Dilma tinha legitimidade intacta, e que a presidente podia dizer que tinha o desejo de ver a justiça ser feita. Agora, contudo, segundo a publicação, Dilma “rejeitou o que vestia de credibilidade”. A opinião da revista se baseia na decisão da presidente de nomear Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo de ministro chefe da Casa Civil, o que garantiria foro privilegiado ao ex-presidente, investigado pela Operação Lava Jato.
Nesta semana, a presidente também escalou os ministros Jaques Wagner (Gabinete da Presidência) e José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União, AGU) para também darem entrevistas a veículos internacionais como parte da estratégia de angariar apoio. Na quarta (23), Wagner afirmou à jornais estrangeiros que o impeachment trará como consequência o agravamento da crise econômica e não sua solução.
Repercussão no Congresso
A circular do diplomata Milton Rondó Filho alertando para risco de golpe provocou a reação no Congresso. A oposição rechaça que o impeachment, em análise numa comissão na Câmara, seja golpe. No Senado, DEM e PSDB apresentaram requerimentos solicitando explicações ao Itamaraty e a convocação de Mauro Vieira. Na Câmara, PSDB e PPS anunciaram que pediriam a convocação do ministro.
“O que foi feito no Itamaraty é um crime de lesa-pátria ao atacar a oposição democrática. Não estamos em uma guerra civil para se politizar órgãos de Estado”, disse o deputado Raul Jungmann (PPS-PE). O vice-líder do PSDB na Câmara, Betinho Gomes (PE) também comentou o episódio: “O que ocorreu é gravíssimo. Golpe é usar o Estado brasileiro para tentar confundir a opinião da comunidade internacional. Exigimos a presença do chanceler no plenário da Câmara”.
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) cobrou uma reação de Renan Calheiros (PMDB-AL), como presidente do Congresso, mas ele não respondeu. Mais tarde, em entrevista, Renan repetiu os termos de que o impeachment sem provas não pode ser chamado de impeachment. “O governo está querendo implantar um Estado de Defesa”, disse o líder do DEM, Ronaldo Caiado.
O vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), saiu em defesa do governo: “O secretário-executivo do Itamaraty, embaixador Sérgio Danese, mandou telegrama-circular a todas as embaixadas do Brasil informando que o governo não tinha posição oficial”.