A presidente afastada Dilma Rousseff voltou a afirmar que um dos objetivos do processo de impeachment é evitar que a Lava Jato atinja integrantes do governo do PMDB e seus aliados – entre eles o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), alvo de pedido de cassação. Segundo ela, a delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que cita diretamente o presidente em exercício Michel Temer por suposto direcionamento de propina para campanha eleitoral do PMDB, é mais uma evidência disso.
“Há uma tentativa que deu certo quando a solução Temer virou um processo de impeachment de evitar duas coisas. De um lado submeter (ao país) o que você acredita, a sua pauta. E a outra é impedir que o processo de investigação atinja integrantes do governo provisório”, afirmou Dilma depois de participar de um evento em João Pessoa.
A presidente afastada disse ainda não ter tido acesso ao teor da delação de Machado. Segundo ela, suas conclusões se baseiam em uma frase do senador Romero Jucá (PMDB-RR) gravadas pelo ex-presidente da Transpetro: “Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria”. Dilma reiterou que os acontecimentos posteriores ao seu afastamento deixam mais clara a “forte relação” entre Temer e Cunha.
Audiência
A presidente iniciou nesta quarta-feira (15) um giro de três dias pelo Nordeste, região onde teve a maioria dos votos nas eleições de 2010 e 2014 e mantém os melhores índices de aprovação. Acompanhada pelo governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), contrário ao impeachment, a petista participou de uma audiência pública convocada pela Assembleia Legislativa sobre a democracia brasileira que se transformou em um ato contra o governo Temer.
Para poder receber um número maior de pessoas, a audiência foi realizada no Espaço Cultural José Lins do Rêgo, administrado pelo governo estadual. O local não estava completamente lotado, mas milhares de pessoas, boa parte militantes de movimentos sociais, foram manifestar apoio e ovacionaram Dilma.
Embora um dos objetivos da caravana pelo Nordeste seja reverter o impeachment no Senado, a chance de mudar o voto dos senadores paraibanos é mínima. Cássio Cunha Lima (PSDB), José Maranhão (PMDB) e Raimundo Lira (PMDB) são aliados de Temer e foram favoráveis ao processo.
Ambulância
Segundo Dilma e Coutinho, o governo federal se recusou a liberar uma ambulância do SAMU e batedores da Polícia Rodoviária Federal para acompanhar a visita da presidente afastada. “Este é um direito meu, líquido e certo. Eu tenho direito a segurança. Isso apavora eles. Se a minha segurança for comprometida a responsabilidade é do presidente da República, sob exercício provisório do Temer. Isso é a mesquinharia do Temer”, disse ela.
Segundo Dilma, o governo Temer cortou R$ 17 milhões que haviam sido liberados para o término das obras de um viaduto na capital paraibana. Ela chamou a atitude de “patrimonialista”. “Confundir o público com o privado é a base da visão que leva à corrupção. É achar que o dinheiro público pode ser desviado.”
Em seu discurso, a presidente afastada voltou a mostrar simpatia pela ideia de um plebiscito para decidir, entre outras coisas, sobre a possibilidade de convocação de novas eleições.
Segundo Dilma, o modelo de governabilidade adotado desde a Constituição de 1988, baseado no “toma lá dá cá” se esgotou e o Brasil precisa de um novo pacto político que passe pelo voto popular. “Acho que esse toma lá dá cá já deu o que tinha que dar e não é só por uma questão ética, é sobretudo porque o padrão, o modelo, se esgotou. Ele não dá conta do Brasil. Tanto que uma parte dos meus ministros mudou literalmente de lado.”
A petista admitiu que não existe consenso sobre o formato e conteúdo do plebiscito e que a iniciativa não cabe ao presidente e sim ao Legislativo mas defendeu a participação popular na elaboração de uma saída para a crise política. Nesta quinta-feira, 16, Dilma participa tem agenda em Salvador e na sexta no Recife.