O ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE) disse nesta quarta-feira que a disputa entre PT e aliados pela presidência da Câmara esfarela a coalizão", ameaça a aprovação do PAC e pode envolver o governo em novos escândalos. Para ele, o PT não deve atuar "de forma truculenta''.
Aliado do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), na disputa com Arlindo Chinaglia (PT-SP), Ciro disse que a candidatura do PT é legítima, mas acha que a coalizão deve buscar a unidade antes da eleição, em 1o de fevereiro.
- Viemos de um momento dramático para as forças progressistas e, na primeira oportunidade, eles (o PT) vêm para cima de um aliado - criticou o ex-ministro em entrevista à Reuters, por telefone.
Deputado eleito, Ciro Gomes disse que ouviu "de pessoas sérias'' relatos sobre oferta "de Ministério e até de carguinhos'' em meio à disputa. Não cita nomes, mas aliados de Aldo acusaram o PT de oferecer cargos por apoio a Chinaglia.
- Estamos saindo do centro de uma crise moral, não é possível que o PT esqueça isso. A hegemonia moral na coalizão tem de ser clara: não quero ver o governo Lula perto de novos escândalos' - acrescentou Ciro.
Ainda sem fazer acusações pessoais, o ex-ministro disse que esse tipo de oferta seria "uma deslealdade'' com Lula, que não estaria interferindo. Para ele, quem ofereceu cargos em nome do governo "vendeu bilhetes de loteria vencidos''.
O ex-ministro disse que o PT "gramou muito tempo'' para conquistar uma posição de destaque, mas ressalvou que "essa hegemonia não pode se exercer de forma truculenta, pelo volume''.
Ciro respondeu com ironia à recente declaração do presidente do PT, Ricardo Berzoini, de que o partido poderá apoiar um nome de outra legenda para a sucessão de Lula em 2010. A declaração foi lida como um aceno a Ciro.
- Isso é falso, é vesgo, e fica até parecendo tentativa de suborno, como se eu fosse pensar que serei esse candidato. Não há necessidade desse tipo de aceno para mim, pois sei que o PT terá candidato em 2010' - reagiu.
Um dos políticos mais próximos de Lula, fora do PT, Ciro Gomes, avalia que a disputa na Câmara é "o primeiro sinal'' de uma crise entre os partidos de esquerda (PT, PSB, PCdoB) mais identificados com o presidente.
- O governo vai se dar muito mal se não entender que há um episódio muito grave envolvendo a coalizão. O núcleo original da coalizão está se esfarelando, de forma agressiva, o que é dramaticamente ruim - afirmou.
Ele cita como exemplo o processo de votação das sete medidas provisórias e dos projetos de lei que compõem o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para o qual é necessária a unidade da base governista.
- Não pode a coalizão se estilhaçar numa luta entre frações, mas é inevitável que isso aconteça quando uma fração derrotar a outra - previu, acrescentando que a divisão da base pode levar a uma vitória da oposição nas eleições de 2010.
- O processo político vai se dar na economia. Se ficar na mediocridade de 3,5 , estaremos em desvantagem contra as forças que já estão se organizando para nos derrotar - acrescentou, ressaltando a importância do PAC.
Para o ex-ministro, as condições do presidente Lula para interferir na sucessão em 2010 serão proporcionais ao sucesso do PAC e à sua capacidade de evitar "a síndrome do segundo mandato ruim''.
- Em 2010 não existirá mais o Lula como candidato nem vai dar pra fazer outro até lá, mas Lula será protagonista. O sucesso do nosso projeto depende do êxito do governo e a coalizão é essencial para esse êxito - acrescentou.
Para o ex-ministro, o que está em jogo na eleição do presidente da Câmara é também a liderança "intelectual e moral'' das forças governistas.
- Estou preocupado é com o futuro. Se a base da coalizão for o fisiologismo, a miudeza, não vai funcionar - prosseguiu.
Ciro avalia que a disputa na Câmara já se transformou numa ''marcha da insensatez'' e que os maiores partidos da coalizão, PMDB e PT, principalmente, devem "fazer um intervalo'' e rediscutir o quadro.
- Os acordos anteriores devem ser considerados prescritos, porque foram firmados antes do lançamento de um terceira candidatura, qualificadíssima, de um deputado da oposição - disse, referindo-se ao tucano Gustavo Fruet (PR).
O ex-ministro afirma que a hora não é mais de pedir que um dos candidatos renuncie, mas de "despertar a coalizão'' para os riscos da disputa. Sem abrir mão do apoio a Aldo, ele admite até um terceiro nome para evitar o confronto.
- As seqüelas serão inevitáveis, mas não me conformo com isso - concluiu.
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