A ameaça do presidente do PTB, Roberto Jefferson, de pedir de volta o mandato dos deputados que deixaram o partido em direção a legendas da base aliada reacende a discussão sobre a divisão de interesses dentro da agremiação governista. A decisão do deputado cassado quebra um acordo tácito da bancada governista, que combinou não brigar por troca-trocas dentro da base aliada, e traz à tona o desconforto de o PTB ser presidido por Jefferson - forte crítico ao governo Lula -, mas manter uma bancada majoritariamente alinhada com o Planalto. Mas a maior parte dos membros do partido minimiza os problemas decorrentes da divisão.
- É bom ter uma corrente dupla, que acaba oxigenando o partido. Se seguisse uma só linha talvez o PTB estivesse até mais inchado, mas isso não seria interessante - afirma o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), destacado opositor do governo e único petebista, além de Armando Monteiro (PTB-PE), a votar contra a CPMF, espécie de termômetro de "governismo".
O parlamentar paulista nega que sua postura diferenciada tenha qualquer ligação com Roberto Jefferson. Ele afirma que sempre foi um dissidente e que sua postura é aceita pelo partido.
- Eu divirjo de tudo e ninguém reclama disso - afirma.
Os principais expoentes do PTB na Câmara preferem destacar, em vez da união, a "convivência democrática" da legenda. É o caso do líder do governo, José Múcio Monteiro (PTB-PE), que, ao lado do ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, destaca-se entre os petebistas na proximidade com o Planalto.
- O partido está absolutamente unido. O presidente (Jefferson) tem o absoluto e inquestionável comando do partido, mas entende o posicionamento programático da bancada em relação ao governo Lula - argumenta José Múcio.
Por meio de sua assessoria, o líder do partido na Câmara, Jovair Arantes (GO), ressalta que apóia o governo "por convicção". Ele lembra que a bancada tem votado de maneira unida nas últimas votações e diz não observar interferência da Executiva do partido.
Segundo o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto Queiroz, o delicado equilíbrio de forças dentro do PTB é resultado de uma divisão de poderes operada por Jefferson, que não queria perder a presidência. Ele teria concedido autonomia às bancadas no Senado e na Câmara, que têm a prerrogativa de indicar cargos para o governo, e em troca se manteve no poder. Caso o ex-deputado não fizesse isso, aponta o analista, governistas como José Múcio e Walfrido poderiam até mesmo sair do partido.
- Ele também manteve o poder porque está no PTB desde o início, conhece a trajetória, tem informações sobre os integrantes da bancada. O pessoal se rendeu devido à "memória" que ele tem - explica Queiroz.
O acordo com os parlamentares permite que Jefferson se sinta livre para extravasar sua veia oposicionista. No episódio da expulsão - seguida de reintegração - dos senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Pedro Simon (PMDB-RS) da Comissão de Constituição e Justiça, o presidente do PTB fez questão de fazer um convite inusitado em seu blog:
"Aos senadores peemedebistas Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos: se vocês querem construir um partido democrático que tenha como sonho corresponder aos anseios da sociedade brasileira, tem lugar para vocês no PTB. Eu, Roberto Jefferson, abono a ficha".
No Senado, a bancada do PTB conta com cinco deputados. O único com uma postura mais independente é Romeu Tuma (SP), recém-chegado que já indicou que votará contra a CPMF.
- O PTB é um partido dúbio. Tem cargos no governo, mas libera deputados - afirma Queiroz.
O diretor do Diap faz uma última análise sobre a trajetória de poder de Jefferson:
- Ele tem parlamentares afinados com ele, que são os mais antigos, que dependem dele. Mas quem chegou há menos tempo não é alinhado. Quem está conduzindo o partido não é o grupo de Jefferson. São os novos, da base do governo, que têm outra roupagem.
O ex-deputado Roberto Jefferson não foi encontrado para comentar o assunto.
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