Eike Batista| Foto: FREDERIC J. BROWN/AFP

As doações eleitorais do empresário Eike Batista, que teve a prisão determinada pela Justiça nesta quinta-feira (26), mostram o trânsito dele por diversos partidos. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Eike destinou, entre 2006 e 2012, R$ 12,6 milhões a políticos e diretórios regionais de 13 partidos em oito estados. Em depoimento à Força Tarefa da Operação Lava Jato em maio, Eike admitiu ter feito pagamentos ao casal João Santana e Mônica Moura a pedido do ex-ministro Guido Mantega por despesas de campanha do PT, mas disse que todas as demais doações feitas foram “oficiais”. Sua defesa destacou, na ocasião, o caráter “republicano” da contribuição.

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As doações abrangem as campanhas presidenciais de 2006 e 2010. Eike doou R$ 1 milhão para o comitê financeiro do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 e R$ 100 mil para Cristovam Buarque (então no PDT, hoje no PPS). Quatro anos depois, quando já era o homem mais rico do Brasil, Eike fez transferências de R$ 1 milhão para os comitês de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) e de R$ 500 mil para o de Marina Silva (então no PV, hoje na Rede).

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Os partidos que receberam recursos foram PT, PMDB, PSDB, PP, PSD, PSB, DEM, PR, PDT, PV, PCdoB, PTB e PTC. Os estados dos políticos são Rio, Minas Gerais, Santa Catarina, Maranhão, Ceará, Mato Grosso do Sul, Amapá e o Distrito Federal. A maior parte das doações (R$ 12,1 milhões) foram feitas por Eike como pessoa física. Somente em 2012 ele se valeu de uma das empresas, MMX Mineração, para fazer repasses totalizando R$ 500 mil.

Algumas doações foram feitas diretamente para candidatos. O ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), preso desde novembro e acusado de ter recebido propina de Eike, registrou uma contribuição de R$ 750 mil do empresário para sua campanha à reeleição, em 2010. Há ainda repasses declarados para os ex-governadores André Puccinelli (PMDB-MS), de R$ 400 mil em 2006, e Luiz Henrique (PMDB-SC), este já falecido, de R$ 200 mil.

Cristovam Buarque, que tinha recebido R$ 100 mil em sua campanha presidencial em 2006, obteve o mesmo valor quatro anos depois em sua campanha para o Senado. Em depoimento de Eike de maio passado, o caso foi usado para justificar o caráter republicano de suas doações porque o empresário disse que nem o conhecia quando da primeira contribuição.

O senador cassado Delcídio Amaral (sem partido), que já foi preso e se tornou delator na Lava Jato, foi beneficiário de doações de Eike em 2006 e 2010, totalizando R$ 900 mil. O deputado Vander Loubet (PT-MS) recebeu R$ 400 mil em 2006. Também receberam contribuições de forma direta o deputado estadual Paulo Melo (PMDB-RJ), R$ 100 mil em 2010, e os ex-deputados Zé Fernando (PV-MG), R$ 50 mil em 2006 e Dalva Figueiredo (PT-AP), R$ 30 mil no mesmo ano.

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Em 2008, Eike repassou recursos de forma direta às campanhas de Eduardo Paes (PMDB-RJ), R$ 500 mil, Fernando Gabeira (PV-RJ), R$ 100 mil, e Márcio Lacerda (PSB-MG), R$ 400 mil, além de ter destinado R$ 100 mil para dois candidatos da cidade de Conceição do Mato Dentro (MG), onde o empresário atuou na área de mineração.

Repasse a partidos

A maior parte dos repasses, porém, foi feita por meio de diretórios e comitês. Eike destinou, em 2010, R$ 100 mil à direção nacional do DEM. Na época, o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia, era o presidente do partido. No mesmo ano, foram repassados R$ 300 mil à direção nacional do PCdoB, que já era comandado pelo atual presidente Renato Rabelo. DEM e PC do B não tiveram candidatos a presidente da República em 2010 e a legislação não obrigava a identificar para qual campanha foram destinados os recursos.

O empresário fez ainda mais uma doação a um comitê nacional. Em 2012, a MMX mineração repassou R$ 100 mil para o PMDB nacional, presidido na época pelo senador Valdir Raupp durante licença do presidente Michel Temer. Também neste caso não há identificação do destino final da contribuição.

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As demais contribuições foram feitas para diretórios regionais. Em 2006 foram beneficiados o PMDB do Rio, que era comandado por Sérgio Cabral e recebeu R$ 400 mil, o PFL (atual DEM) do Maranhão, que tinha à frente a ex-governadora Roseana Sarney e obteve R$ 1 milhão, o PSB cearense, comandado então pelos irmãos Ciro e Cid Gomes e que ficou com R$ 200 mil, o PSB do Amapá, liderado por João Capiberibe e que captou R$ 200 mil, e o PDT do Amapá, que é comandado até hoje pelo atual governador Waldez Góes e recebeu na época R$ 200 mil.

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Em 2010, as doações beneficiaram o PT de Mato Grosso do Sul, comandado por Zeca do PT e que recebeu R$ 500 mil, o PR fluminense, que tinha Anthony Garotinho à frente e recebeu R$ 200 mil, o PMDB maranhense, de Roseana Sarney, que ficou com R$ 500 mil, e o PT catarinense, da ex-ministra Ideli Salvatti, que recebeu R$ 300 mil.

Em 2008, ano de eleições municipais, Eike fez repasses de R$ 100 mil ao comitê do PDT de Macapá (AP), que tinha Roberto Góes como candidato, e de R$ 500 mil ao PMDB do Rio, representado por Eduardo Paes na disputa da prefeitura. Em 2012, foram repassados R$ 400 mil pela MMX a diretórios mineiros de oito partidos (PMDB, PSDB, PSD, PSB, DEM, PP, PTB e PTC). Neste caso, não houve a identificação de em quais cidades os recursos foram empregados.