Ministro paranaense
Governo analisa denúncia contra Balbinotti e adia posse. O futuro ministro se reuniu ontem pela primeira vez com o presidente Lula, que não o conhecia pessoalmente, mas confirmou a sua indicação antes mesmo do encontro.
Leia entrevista de Odílio Balbinotti à Gazeta do Povo impressa
José Alencar diz que Balbinotti precisa convencer a sociedade
Para o vice-presidente da República, José Alencar, o deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR), indicado para o Ministério da Agricultura, precisa convencer a sociedade de que tem condições de assumir a pasta. Tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) um processo em que Balbinotti é acusado de falsidade ideológica, o que pode levar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a desistir da indicação.
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Nomeação de Balbinotti para Agricultura na corda bamba
O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), participou na tarde desta sexta-feira de reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir a nomeação do deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR) para o Ministério da Agricultura. Após a cerimônia de posse dos três novos ministros da Justiça, Integração Nacional e Saúde, o presidente do PMDB Michel Temer garantiu que o partido deixaria Lula à vontade para decidir sobre o destino de Balbinotti, que responde a processo por falsidade ideológica no Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente disse que, por ora, a nomeação está mantida, mas como a posse está marcada apenas para a próxima quinta-feira, pode haver mudanças. Leia mais
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Um demonstrativo emitido pelo Banco do Brasil pode tornar curta a carreira do deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR), no Ministério da Agricultura. O documento pode ser o que o Ministério Público vem procurando para provar que Balbinotti usou ex-empregados de sua empresa de produção de sementes de soja, em Mato Grosso, como laranjas numa operação financeira.
O documento, obtido pelo GLOBO, foi produzido no início de 2004, para que o funcionário de escritório Sidiney Rodrigues da Silva, de 37 anos, declarasse o seu Imposto de Renda. Ao recebê-lo, Sidiney descobriu que figurava, juntamente com outras 13 pessoas, na lista de sócios da empresa para a qual trabalhou.
Segundo as investigações, Balbinotti teria usado o nome de seus empregados para conseguir alongar uma dívida de sua empresa. A inclusão de novos sócios teria o objetivo de driblar uma cláusula que estabelece limites para renegociações, calculados por cada proprietário. Os detalhes dessa operação são pouco conhecidos porque o inquérito no Supremo corre em segredo de Justiça.
Balbinotti também responde a uma ação civil pública na 1ª Vara Cível de Maringá (PR) por suposto desvio de dinheiro público da Prefeitura. A Promotoria de Defesa do Patrimônio Público da cidade informou que investiga atos de improbidade do então prefeito, Jairo Gianotto (PMDB), e que, pelo que já se apurou até agora, Balbinotti não tem responsabilidade.
A ação diz respeito a um cheque de R$ 90,5 mil que Gianotto teria dado à empresa de sementes Adriana, de Balbinotti, em setembro de 1998, para pagar uma compra de sementes. Balbinotti usou o cheque do prefeito, que não tinha fundos, para pagar parte de uma dívida com a empresa Produquímica, de São Paulo. Ao trocar o sem fundos por outro, em dezembro de 1998, o prefeito saldou a dívida com um cheque da Prefeitura de Maringá, embora a despesa fosse pessoal.
Nomeação corre risco
A situação de Balbinotti levou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), a uma conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto nesta sexta-feira. O presidente disse que, por ora, a nomeação está mantida, mas como a posse está marcada apenas para a próxima quinta-feira, pode haver mudanças.
Ao sair, o líder disse que é preciso aguardar a decisão do presidente Lula.
- Está na hora de preservar nosso ministro e aguardar os acontecimentos - afirmou.
De acordo com a assessoria do PMDB, à noite, Balbinotti encaminhou esclarecimentos ao presidente Lula sobre o processo no STF. Ainda segundo o partido, em nota, o advogado do deputado, Aristides Junqueira Alvarenga, informa que o fato que deu origem ao processo teria ocorrido em 1996, quando o peemedebista já era deputado federal e não administrava mais sua empresa rural. Nesse período, segundo Junqueira, os negócios estariam sendo administrados por procuradores nomeados pelo deputado.
Após a cerimônia de posse dos três novos ministros da Justiça, Integração Nacional e Saúde, o presidente do PMDB Michel Temer garantiu que o partido deixaria Lula à vontade para decidir sobre o destino de Balbinott.
- Está nas mãos do presidente. Se ele decidir rever, tem outros cinco nomes - disse Temer, que teria sido informado de que mais denúncias poderão vir contra o ruralista no fim de semana.
Balbinotti, porém, já começa a perder o apoio de deputados da bancada de seu próprio partido, que falam em desistência o quanto antes para evitar mais desgaste, disseram três fontes do PMDB à agência Reuters na condição do anonimato. Mais cedo, a bancada do PMDB se reuniu na Câmara e alguns integrantes avaliaram que o desgaste será maior se a espera se estender até segunda-feira.
- A melhor saída para ele é desistir entre hoje e amanhã (sexta e sábado) - disse à Reuters um parlamentar do PMDB que pediu para não ser identificado.
Para o vice-presidente da República, José Alencar, Balbinotti precisa convencer a sociedade de que tem condições de assumir a pasta.
- Penso que nenhum homem público pode deixar de ter a sua vida rigorosamente transparente. Não tenho nenhuma opinião a respeito disso (assumir com processo). É preciso que haja uma forma para convencer a sociedade de que ele é um homem que está em condições de assumir o ministério - afirmou.
Integrantes da bancada peemedebista alegam que a escolha de Balbinotti se deveu ao apoio dos governadores Blairo Maggi (MT) e Roberto Requião (PR) e que um veto ao parlamentar não atingiria a bancada como um todo.