A doméstica Sirley Dias de Carvalho Pinto, que foi agredida por um grupo de jovens na Barra da Tijuca neste sábado , foi nesta terça-feira à 16.ª DP, onde reconheceu quatro dos cinco jovens presos . Segundo ela, um dos jovens riu e debochou. A doméstica criticou a declaração do pai de um dos jovens que disse que eles eram crianças e disse que o caso tem que servir de exemplo para a sociedade. Perguntada se perdoaria o grupo, Sirlei disse que sim, mas quer que os rapazes sejam punidos.
"Eu perdôo pelo fato de serem humanos. Mas não é porque eu perdôo que eles podem ser soltos. Não, eles têm que pagar. Um pai falou que eles são crianças para ficar na cadeia. Por que não pensaram que eram crianças na hora de me agredir, bater, de me xingar. Eles não foram crianças neste momento. No momento em que eu estava ali, pensei que ia morrer. Os chutes foram muito fortes. Pensei muito o meu filho naquela hora. Eu espero que a prisão deles sirva de exemplo para que os jovens que estão por aí fazendo a mesma coisa, sejam eles de que classe for, ricos, pobre, de classe média. Que eles parem com isso. Que sirvam de exemplo para a lei e para a sociedade. Que os jovem reflitam sobre o que estão fazendo. Eles tinham uma oportunidade de vida, de carreira e jogaram tudo isso fora com um ato bruto", disse ela.
Nesta segunda-feira, o pai de um dos agressores, o estudante de direito Rubens Arruda, de 19, disse que "manter essas crianças presas é desnecessário. Elas estudam, têm famílias e não são bandidas". A declaração do empresário Ludovico Ramalho Bruno, de 47 anos, foi feita na 16.ª DP (Barra), logo após ver seu filho ser preso na Ilha.
"Existem crimes piores. Eles não podem se misturar com bandidos na Polinter. Bandidos esses que diariamente estão trocando tiros com policiais em morros como o da Vila Cruzeiro", disse o empresário.
Como castigo para o filho, Ludovico defende uma surra, que ele mesmo daria.
"Se eu pudesse, pegava o meu filho e dava uma surra. Isso destruiu a minha vida e de toda a família. Eles fizeram uma bobagem e terão que pagar por isso. Queria dizer à sociedade que nós, pais, não temos culpa. Mas não é justo manter presas crianças que estão na faculdade, estão estudando, trabalham. Não concordo com a prisão na Polinter, ao lado de bandidos. Vão acabar com a vida deles. Peço ao juiz que dê uma chance aos nossos filhos."
"Mais frágil por ser mulher"
Ao tentar explicar a quantidade de hematomas que a vítima carrega no corpo, o pai de Rubens disse que "Sirley é mais frágil por ser mulher, por isso fica roxa com apenas uma encostada". Ao contrário do homem que, segundo ele, é mais resistente.
"Lógico que é difícil compreender o que eles fizeram. O álcool e, talvez até drogas, pode ter sido um fator motivacional para tamanha brutalidade. Isso tudo mudou a minha vida. Agora, vão ver o meu filho como o monstro que ele não é", disse ele.
Rubens estava escondido na casa de um amigo, na Ilha. O delegado Carlos Augusto Nogueira Pinto, titular da 16ª DP, disse que o amigo pode responder por favorecimento pessoal. Ludovico afirmou que a família entregaria o estudante. A polícia, entretanto, acabou chegando primeiro.
Três outros rapazes o estudante de administração Felippe de Macedo Nery Neto, de 20 anos; o estudante de gastronomia Júlio Junqueira, de 21; e o técnico de informática Leonardo Andrade, de 19 estão presos desde sábado. Às 23h, o último jovem se entregou: Rodrigo Bassalo, de 21, chegou de boné e não deu declarações.
O padrasto de Felippe, que não teve o nome divulgado, prestou depoimento no domingo e revelou ao delegado que o jovem ganhara dois dias antes o carro usado pelos grupo no crime. Ainda segundo o padrasto, o rapaz sofre de déficit de atenção e hiperatividade e toma dois remédios de venda controlada.
Nesta segunda, a vítima teve que voltar ao hospital para fazer novos exames. Os médicos constataram uma fratura no rosto.
"Tenho muita dor na cabeça, principalmente. Dói a cabeça e dói por causa das pancadas também, porque foram muitas. A pancada foi concentrada só na cabeça. Foi muito chute, pontapé, soco e cotovelada", disse Sirley.
A doméstica contou ainda que teve que reunir forças para explicar ao filho - o pequeno João Gabriel, de 3 anos - o que lhe havia acontecido:
"Tentava dormir quando o meu filho acordou de madrugada. Ele começou a chorar e a me perguntar quem tinha feito aquilo comigo. Achei melhor não esconder, e explicar. Agora, ele está com medo. Não quer que eu saia de perto, pois teme que eu seja espancada novamente."
Ao saber que Sirley teria de ir ao médico, João Gabriel se agarrou na saia da mãe. Foi difícil convencê-lo a deixá-la sair.
"Esses garotos tiveram o máximo na vida. Famílias que deram tudo o que eles precisavam. E acho que foi justamente por isso que nenhum deles soube valorizar essas vantagens. Tudo veio fácil demais. Muitos jovens daqui de Imbariê gostariam de ter tido as mesmas chances que eles tiveram", revoltou-se a doméstica.
Aos parentes da vítima, restava pedir que os pais dos agressores passassem a ser mais cuidadosos com a criação dos filhos.
"Tudo isso aconteceu porque eles não foram educados de forma correta", disse a mãe de Sirley, Adélia Dias, de 53 anos.
"O país está atravessando uma fase de jovens violentos porque muitos pais estão dando muita liberdade, dando muita mordomia e procurando pouco saber da vida que o filho leva fora da porta da sua casa. Eu quero que se faça justiça", disse o pai de Sirley, Renato Carvalho.
O advogado da doméstica, Marcus Fontenelle, informou que moverá uma ação contra os agressores:
"Além dos danos físicos, ela também tem prejuízos materiais."
Ato de racismo
Presidente da ONG Davida, a ex-prostituta Gabriela Silva Leite classificou como racista a justificativa dos jovens, que alegaram ter confundido a empregada com uma prostituta.
"Quer dizer que se fosse uma prostituta poderia apanhar? Isso preocupa, pois eles não vêem as prostitutas como seres humanos."
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