O dono da UTC, Ricardo Pessoa, dará nesta quarta-feira (2) o seu primeiro depoimento à Justiça depois que firmou um acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR). Este será também o primeiro depoimento do empreiteiro que se tornará público. O empresário, que segundo as investigações era o chefe do clube de empreiteiras que fraudavam os negócios da Petrobras, é apontado até aqui como delator-chave da Operação Lava Jato, envolvendo vários outros réus.
O advogado Nabor Bulhões, que defende Marcelo Odebrecht, proprietário da empresa Odebrecht preso na 14ª fase da Lava Jato, foi um dos criminalistas que solicitou à Justiça acesso ao depoimento integral de Pessoa sem sucesso. “Isso é preocupante e traduz um enorme cerceamento de defesa para todos os acusados, entre eles o próprio Marcelo”, disse. “Acredito que esse cerceamento pode até gerar nulidade do processo”, emendou o Bulhões.
Na segunda-feira (31), o defensor de José Dirceu, Roberto Podval, afirmou que o motivo de seu cliente ter se mantido em silêncio no depoimento para a Polícia Federal realizado na mesma data também foi a negativa do acesso à delação de Pessoa. Ele solicitou acesso à delação do empreiteiro ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, mas foi negado. “Fui obrigado a manter o Zé em silêncio para poder ter conhecimento pleno da acusação, para depois poder falar. Obviamente que a defesa está prejudicada nesse quesito”, disse.
Entre as revelações que Pessoa fez aos investigadores da Lava Jato, está a informação de que realizou pagamentos à consultoria do ex-ministro José Dirceu e que eles eram parte da propina cobrada pelo esquema.
Em agosto, a criminalista Dora Cavalcanti, que atua na defesa do ex-executivo da Odebrecht Marcio Faria, também pediu acesso integral à delação do dono da UTC por meio de uma petição direcionada ao juiz Sergio Moro.
O documento pede que o material seja disponibilizado à defesa de Faria cinco dias antes da oitiva de Pessoa, marcada para esta quarta-feira (2), e solicita que o depoimento do empreiteiro seja cancelado caso o pedido não seja cumprido. Até a data da oitiva, Moro não havia se manifestado sobre a petição.
A delação de Ricardo Pessoa ainda está sob sigilo.