Se mantiver o cargo até a volta do recesso parlamentar (fevereiro de 2016), Eduardo Cunha (PMDB-RJ) será o mais longevo dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado que enfrentaram graves denúncias de corrupção no século 21. Na comparação com os três colegas que tiveram de renunciar desde 2001, Cunha é o alvo das investigações judiciais mais avançadas e o que supostamente mais se beneficiou financeiramente. Ainda assim, é o que mais concentra respaldo político.
Pelos acontecimentos da última semana, governistas e oposicionistas dão como certo que ele vai conseguir permanecer intocável até fevereiro de 2016, quando recomeçam os trabalhos legislativos. “Eduardo está blindado. Até porque todos temos medo de falar alguma coisa, ele se safar e depois partir para a vingança”, descreve um deputado peemedebista.
Professor de Ciência Política da Universidade de Brasília e especialista em Direito Constitucional, Valdir Pucci diz que Cunha usa a prerrogativa de dar ou não o pontapé de um impeachment contra a presidente Dilma Rousseff para se manter no cargo. “Ele sobrevive por ser esse pêndulo entre governo e oposição, coisa que não aconteceu com os antecessores que caíram.”
Prova de resistência
Quanto tempo permaneceram no cargo presidentes da Câmara e do Senado sob suspeita?
Leia a matéria completaO primeiro episódio similar ao de Cunha no Congresso envolveu Jader Barbalho (PMDB-PA), em 2001. Após uma desgastante disputa por poder com Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA) no ano anterior, ele começou a ser fustigado por denúncias de corrupção em maio e se afastou do cargo quatro meses depois. O pacote de acusações era complexo, de desvios no Banpará, passando por irregularidades na emissão de Títulos da Dívida Agrária ao financiamento de um projeto de R$ 9,6 milhões feito pela própria esposa de um ranário (criação de rãs) agraciado com recursos da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). O episódio só virou inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) em 2003 e acabou arquivado em 2015.
Em fevereiro de 2005, a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara foi um duro golpe na articulação política do então presidente Lula. Em setembro, no entanto, o “Rei do Baixo Clero”, como era chamado, foi acusado de cobrar “mensalinho” para renovar a concessão de restaurantes da Câmara, que teria lhe rendido R$ 110 mil. Mesmo sem o caso chegar à Justiça, não aguentou a pressão e preferiu renunciar ao cargo e ao mandato apenas 14 dias depois.
O episódio mais recente envolveu o atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Em 2007, ele também comandava a Casa quando reportagens revelaram que teve despesas com uma filha fora do casamento pagas pelo lobista de uma empreiteira. Renan sobreviveu a dois processos de cassação, mas renunciou à presidência da Casa quatro meses e meio após as primeiras denúncias.
“Os três episódios anteriores só comprovam que Cunha criou um modelo de sustentação política muito mais eficiente”, diz o consultor político Antonio Flávio Testa. Para Valdir Pucci, há diferença no perfil da atual Legislatura. “É fato que conseguimos regredir na nossa representação. Na década passada, nossos deputados e senadores tinham bem mais pudor contra colegas envolvidos em corrupção.”
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