Preocupados com a decisão do governo brasileiro de se distanciar das turbulências políticas na Venezuela no início do ano passado, diretores da Andrade Gutierrez decidiram procurar o ex-presidente Lula para que ele ajudasse a empresa, segundo e-mails anexados nesta sexta-feira em processo da Operação Lava Jato. Pelas mensagens, não é possível dizer se algum pedido foi feito ou se Lula ajudou a empresa.
A conversa sobre o assunto ocorreu em março de 2014. Ao receber de executivos cópia de reportagem que noticiava a decisão de Dilma Rousseff de se manter distante dos conflitos no país vizinho por causa da eleição brasileira, Sérgio Andrade respondeu: “isto pode complicar a situação dos contratos lá”.
O diretor Flávio Machado respondeu dizendo ser necessário “tomar todos os cuidados”, pois Maduro já estaria incomodado com a postura de Dilma há algum tempo. “O nosso ponto focal de apoio tem que ser o ex-presidente Lula. O presidente Maduro o reconhece como um grande amigo pessoal e um grande amigo da Venezuela”, diz o executivo. “Estou marcando um encontro com o presidente Lula na próxima semana em SP para discutir com ele a situação da Venezuela e uma estratégia de apoio”, completa Flávio.
Machado é o executivo da Andrade responsável por lidar com questões político-partidárias na empresa. Em outras mensagens, ele ordena doações que totalizam de R$ 1 milhão para o Diretório Nacional do PT e R$ 4,8 milhões para o Diretório Nacional do PSDB.
Equador
Uma troca de e-mails entre executivos da AG em junho de 2008, eles avaliam procurar o então presidente Lula para ajudar numa crise da empresa no Equador. Na época, o presidente equatoriano Rafael Corrêa começara uma campanha para expulsar empresas multinacionais do país.
O executivo Paulo Monteiro avalia com Ricardo Sena o cenário no país latino-americano. Ele pondera que se construtora tentar “mostrar a cara sozinha” seria “ferro na certa”, e sugere, primeiro, buscar o apoio de Lula. “Ele acha que seria um suicídio fazer isto agora. Segundo ele, o ambiente está muito hostil a nós e precisamos de algo que venha do Lula”.
Góes, Cerveró e Baiano
Em maio de 2015, Roberto José Rodrigues encaminha a Ricardo Coutinho notícia de depoimento de Mário Góes, Fernando Baiano e Cerveró na CPI da Petrobras, onde invocam o direito ao silêncio. Coutinho responde: “pode ser bom, mas também pode ser porque estão se reservando para uma delação premiada... e aí é ruim”.
A preocupação é justificada pela relação da Andrade com empresas de Góes. Em mensagem de setembro de 2010, os diretores da Andrade Gutierrez Leandro Aguiar, Rogério Nora de Sá e Elton Negrão falam sobre faturas a pagar da Phad Corporation, empresa de Mário Goes. O valor do contrato é de 6,4 milhões de dólares.Através de sua assessoria, a Andrade Gutierrez informou que não vai se pronunciar.
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