Decisão do STF sobre lavagem de dinheiro fica para 13 de março
Após a decisão que absolveu do crime de formação de quadrilha oito condenados na Ação Penal 470, o processo do mensalão, os ministros do Supremo Tribunal Federal começaram a julgar, na tarde desta quinta-feira (27), os embargos infringentes que questionam a condenação do ex-deputado João Paulo Cunha, do ex-assessor do PP João Claudio Genu e do ex-sócio da corretora Bonus Banval Breno Fischberg pelo crime de lavagem de dinheiro.
Por decisão do plenário, a sessão foi destinada a ouvir apenas os defensores dos condenados e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Com isso, o desfecho do julgamento ficou para o dia 13 de março, quando o Supremo vai decidir se os três tinham conhecimento dos crimes antecedentes à lavagem de dinheiro, ou seja, de que o dinheiro era oriundo de irregularidades.
Absolvição atinge coração da acusação, diz defesa de Dirceu
O advogado do ex-ministro José Dirceu (PT), José Luis Oliveira Lima, divulgou uma nota nesta quinta-feira (27) dizendo que a absolvição de seu cliente atinge o "coração" da acusação apresentada pelo Ministério Público e demonstra "de maneira cabal" que "jamais existiu uma organização criminosa" chefiada por Dirceu.
Gleisi rebate Barbosa
A ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR) criticou nesta quinta-feira (27) o presidente do STF, Joaquim Barbosa, a quem acusou de levantar "ilações" sobre o processo de indicação dos ministros da corte. "Ele abre mão da argumentação jurídica e técnica para insinuar que o processo de escolha careça de seriedade e responsabilidade. Estaria sua indicação também sujeita à suspeição?", discursou Gleisi no plenário do Senado.
Por 6 votos a 5, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou o crime de formação de quadrilha no processo do mensalão e beneficiou o ex-ministro José Dirceu (PT) e outros sete réus, que não terão suas penas aumentadas. Pouco antes de proclamar o resultado do julgamento, o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, disse que uma maioria "sob medida" foi formada e, com votos "pífios", criou uma "tarde triste para o Supremo".
"Esta é uma tarde triste para este Supremo Tribunal Federal, porque, com argumentos pífios, foi reformada, jogada por terra, extirpada do mundo jurídico, uma decisão plenária sólida, extremamente bem fundamentada, que foi aquela tomada por este plenário no segundo semestre de 2012. Peço vênia à maioria que se formou e voto pela rejeição dos embargos infringentes."
Barbosa também fez referência à nova composição da corte. No julgamento do mensalão 2012, dois ministros (Ayres Britto e Cezar Peluso) que foram favoráveis à condenação por quadrilha saíram e foram substituídos por Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki, que votam pela absolvição do crime de quadrilha. "Uma maioria de circunstância, formada sob medida para lançar por terra todo o trabalho primoroso levado a cabo por esta corte no segundo semestre de 2012 (...) [Agora] estão suscetíveis para o enquadramento do crime de quadrilha aqueles segmentos sociais dotados de certas características sócio-antropológicas. Aqueles que rotineiramente incorrem nos crimes de sangue ou patrimônio privado. Criou-se um novo determinismo social", disse.
Se a condenação fosse mantida, Dirceu e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares deixariam o regime semiaberto de prisão, quando é possível trabalhar fora do presídio durante o dia, desde que exista autorização da Justiça, e seguiriam para o regime fechado.
Votaram pela absolvição os ministros Luís Roberto Barros, Teori Zavascki, Rosa Weber, Cármen Lúcia, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski. Optaram pela manutenção da condenação os ministros Luiz Fux, Gilmar Mendes, Celso de Mello, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio Mello. Este último, no entanto, apesar de ter votado pela existência da quadrilha, considerou que as penas fixadas eram muita altas e reafirmou que elas deveriam ser baixadas para um patamar que levasse o crime à prescrição.
Penas
Com a derrubada do crime, o chamado núcleo político do mensalão, que além de Dirceu e Delúbio conta com o ex-presidente do PT José Genoino, cumprirá pena somente pelo crime de corrupção ativa. De acordo com advogados que atuam no caso, a derrubada da quadrilha tem um valor simbólico, uma vez que ela foi o fio condutor da denúncia do Ministério Público. Na última peça de acusação apresentada no processo, o então procurador-geral da República Roberto Gurgel usou a palavra "quadrilha" 42 vezes e disse que Dirceu era seu "chefe".
Pela manhã, o primeiro a votar foi Zavascki. De acordo com ele, os condenados não se uniram, exclusivamente, para cometer crimes e atingir a paz pública requisito para o crime de quadrilha. "Não se nega a ocorrência desses delitos, é difícil sustentar que o objetivo comum tenha sido a prática de todos aqueles crimes. Não está efetivamente a presença do dolo específica do crime de quadrilha, ou seja, a vontade livre de estar participando de ações do grupo", disse.
Assim como o ministro Luís Roberto Barroso, que ontem também votou pela absolvição dos réus, Teori era peça decisiva na análise dos recursos, uma vez que ele não participou da primeira etapa do julgamento. Depois do ministro, foi a vez de Rosa Weber proferir seu voto. Ela, que em 2012 foi a primeira a votar pela absolvição pelo crime de formação de quadrilha, manteve sua posição e a maioria foi formada, uma vez que os ministros Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e Cármen Lúcia haviam antecipado seus votos também pela derrubada de quadrilha ontem.
Votação
Na manhã desta quinta, o primeiro da agora corrente minoritária a votar foi Gilmar Mendes. Ele criticou o fato da composição da corte ter sido alterada em meio ao julgamento e insinuou que uma nova mudança pode acontecer para inocentar os condenados por outros crimes quando um recurso conhecido como revisão criminal for apresentado. "O julgamento se alongou e não precisava se alongar tanto. Dois colegas deixaram de integrar a corte. Quiçá no futuro, dali a pouco, a corte será várias vezes recompostas para a revisão do crime."
Apesar disso, o ministro disse que, como réus foram condenados e já cumprem pena por outros crimes, "o Brasil saiu fortalecido" do julgamento, uma vez que, em sua opinião, existia um projeto para transformar o STF numa "corte bolivariana".
A alteração da composição do Supremo também foi criticada no voto do ministro Marco Aurélio Mello. De acordo com ele, a mudança foi fundamental para a alteração do resultado da primeira etapa do julgamento. Para o decano ministro com mais tempo de corte Celso de Mello, o mensalão montou uma "sofisticada organização criminosa" composta de "delinquentes travestidos de altos dirigentes políticos e partidários" que nada mais são que "meros e ordinários criminosos comuns". "É incompatível a afirmação, completamente destituída de base empírica, de que teria havido um isolado, transitório, ocasional e eventual concurso de pessoas. (...) Esse processo tornou claro que os membros da quadrilha, reunidos em verdade empresa criminosa, que se apoderou do governo, agiram com dolo de planejamento, divisão de trabalho e organicidade."
Novos recursos
Findo o julgamento da formação de quadrilha, o STF analisará, à tarde, três recursos que tratam do crime de lavagem de dinheiro. Apresentaram apelações o ex-deputado do PT João Paulo Cunha (PT-SP), o ex-assessor do PP João Cláudio Genu e o ex-sócio da corretora Bonus Banval Breno Fischberg.
A situação mais crítica é a de João Paulo. Condenado pelos crimes de peculato (desvio de dinheiro público) e corrupção passiva, está cumprindo uma pena de 6 anos de prisão.
Se a condenação por lavagem for mantida, sua pena ultrapassará os 8 anos chega a 9 anos e 4 meses e o ex-deputado terá de deixar a prisão em regime semiaberto, quando é possível se trabalhar fora durante o dia, desde que autorizado pela Justiça, e ir para o regime fechado.
Fischberg e Genu, só foram condenados por lavagem. Por isso, se o crime for mantido, as penas serão convertidas em penas alternativas. Caso contrário, serão absolvidos e totalmente inocentados no mensalão.
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