As divergências internas no PSDB a respeito do espaço que o partido terá em um eventual governo de Michel Temer, se o impeachment da presidente Dilma Rousseff for confirmado pelo Senado, expuseram o racha que os tucanos enfrentarão em 2018, quando ao menos três nomes da legenda pretendem disputar a eleição presidencial. Enquanto os dois mais fortes presidenciáveis do partido – o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin – defendem apoio ao PMDB, mas sem ocupação de cargos, o senador José Serra (PSDB-SP), que corre por fora na preferência do partido, planeja se tornar ministro para, assim, se cacifar para o futuro.
A posição de Aécio e Alckmin, que ganhou ressonância ampla entre os tucanos, inclusive junto ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, é de cautela em relação ao eventual governo peemedebista. Há uma avaliação de que o PSDB pouco teria a ganhar, já que Temer enfrentará uma situação de grave crise econômica e convulsão política. Semana passada, Aécio expressou sua preocupação:
“Se você indica nomes, vira sócio de algo que não se sabe o que vai ser ainda. Parafraseando Drummond: no meio do caminho, tem um governo Temer. Vamos ver o que fazer com ele. Nosso consenso é que esse será o governo do PMDB, não é do PSDB. Nós temos um projeto próprio para o Brasil que será efetivado por meio das eleições presidenciais em 2018”, comentou Aécio.
Um interlocutor de Alckmin frisa que o governador e Aécio, apesar de estarem em trincheiras diferentes, cada um trabalhando para ser o nome do partido em 2018, fazem análises semelhantes a respeito da eventual participação num governo Temer. Caso triunfe, as glórias ficarão para o PMDB e pouco agregarão ao PSDB — os bons resultados ficariam, ainda, restritos a José Serra, cotado para ocupar um ministério, fortalecendo-se na disputa com Alckmin e Aécio. Caso fracasse, poderá afetar a imagem do PSDB e comprometer o projeto da sigla para 2018.
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“Tanto o Geraldo quanto o Aécio têm uma visão parecida sobre integrar o governo Temer. Se o governo for bem, será mérito do PMDB; se não for, o PSDB corre risco de se desgastar junto. Essa é a leitura. O cuidado em não participar formalmente é uma tentativa de preservar o PSDB para 2018”, afirma este tucano.
Alckmin apela para discurso mais enfático
A diferença no comportamento entre os dois está no nível de pressão que cada um está impondo sobre o tema. Alckmin tenta de forma mais enfática evitar que um tucano assuma um ministério no governo Temer, uma disputa que tem como pano de fundo a influência sobre o PSDB paulista, onde está o maior colégio eleitoral do Brasil. Aliado de Alckmin, o secretário-geral do partido, deputado Silvio Torres (SP), já defendeu que aqueles que queiram ingressar na gestão do PMDB se licenciem do partido.
Aécio adotou um tom mais suave, disse que não vai “dar uma de PT e expulsar do partido”. O senador afirma que não irá impedir que Serra ou outro tucano participe do governo Temer, mas que não haverá indicação do PSDB, e que a eventual participação não será “orgânica”. Para o mineiro, o partido deve dar apoio congressual por meio de uma agenda de propostas que está sendo formulada, mas sem ocupar cargos.
Já para Serra, trata-se de uma oportunidade para levar a cabo seu projeto presidencial, após duas tentativas frustradas: em 2002, quando foi derrotado por Lula, e em 2010, quando Dilma Rousseff ganhou. O senador não tem, hoje, respaldo de parte significativa do PSDB para ser o candidato tucano em 2018. Mas, segundo aliados de Serra, fazer uma gestão exitosa num governo do PMDB pode qualificá-lo para o futuro.
“Serra imagina que se pode se qualificar por aí, um pouco como Fernando Henrique fez no governo do Itamar Franco. Ele foi ministro no governo do PMDB, conseguiu estabilizar a economia e, logo depois, foi eleito presidente em primeiro turno. Serra tem 74 anos, terá poucas oportunidades pela frente. Se as coisas derem certo, o nome dele fica forte”, disse um deputado do PSDB de São Paulo.
Não à toa, Serra tem elevado a pressão para que a cúpula do PSDB dê aval à sua participação no governo Temer. Anteontem, diante de reações da base tucana para evitar o embarque, Serra divulgou em seu Twitter mensagem criticando a resistência em compor com o PMDB: “Seria bizarro o PSDB ajudar a fazer o impeachment de Dilma e depois, por questiúnculas e cálculos mesquinhos, lavar as mãos e fugir a suas responsabilidades com o país”, disse.
Após conversar com governadores e senadores sobre o tema, está previsto que Aécio se reúna amanhã com a bancada tucana, afine o discurso e, depois, leve o assunto à Executiva. Apesar da pressão de aliados de Alckmin, é pouco provável que a sigla puna quem ocupar cargos num governo Temer. Tucanos ligados a Aécio e a Serra dizem que esse tipo de reação não faz parte da tradição do PSDB.
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