Crescimento de Marina pode levar disputa para o 2.º turno
Se até poucos dias atrás o quadro das eleições presidenciais parecia definido, com a vitória da candidata Dilma Rousseff (PT) já no primeiro turno, as últimas pesquisas apontam para uma queda em intenção de votos da petista provavelmente em função das denúncias envolvendo tráfico de influência na Casa Civil, com a participação de sua ex-assessora Erenice Guerra. Dilma ainda tem a maior parte dos votos válidos, de acordo com as sondagens, mas não de maneira folgada.
Se as eleições fossem hoje, o destino de 19 estados brasileiros, além do Distrito Federal e a disputa para a Presidência da República, poderia ser decidido já no próximo domingo, sem a prorrogação da votação para o segundo turno. Em outros dois estados a disputa também está apertada podendo, ou não, terminar neste fim de semana. O quadro eleitoral é baseado no resultado de pesquisas de intenção de voto divulgadas até ontem, projetando um aumento da porcentagem de governadores eleitos no primeiro turno, já que em 2006 foram 17.
As eleições em dois turnos, nas quais o primeiro serviria para a apresentação da plataforma de cada partido e o segundo provocaria a união de forças que levaria o eleito a ter mais da metade dos votos úteis, parece ter virado uma ideia obsoleta. Ao menos na maior parte dos estados, o segundo turno, na prática, está sendo disputado nesse momento.
Para que um candidato ganhe no primeiro turno, basta que ele tenha mais votos do que os outros candidatos somados, já que os votos brancos e nulos não são considerados válidos. Nesses estados, incluindo o Paraná, a situação é parecida: dois concorrentes concentram as intenções de votos, com porcentagens que, somadas, ultrapassam 80%. Os outros candidatos não pontuam, ou ao menos não o suficiente para "despolarizar" a disputa. Assim, a porcentagem de votos válidos fica acumulada entre os dois principais candidatos e ganha já no primeiro turno o que tiver o maior número de votantes.
No Paraná, ainda que com a impugnação de pesquisas, o quadro não deve mudar e os dois principais candidatos, Beto Richa (PSDB) e Osmar Dias (PDT) disputam entre si. Mesmo com o "sobe" e "desce" em cada pesquisa de opinião, os dois iniciaram a campanha acumulando 81% das intenções de voto e pela última pesquisa, juntos, somam 85% da preferência dos eleitores. São sete candidatos, porém os outros cinco não pontuam. Se as eleições confirmarem o que as pesquisas apontam, mesmo que Richa ou Osmar consigam modificar os números entre si, ganhará quem fizer mais votos. A disputa parece estar mais apertada do que o segundo turno da eleição para o governo em 2006, quando Roberto Requião (PMDB) ganhou do próprio Osmar por 10.479 votos, ou 2% dos votos válidos.
Motivos
De acordo com o cientista político David Fleisher, da Universidade de Brasília, o número grande de estados em que a decisão será no primeiro turno não é fruto de decisão dos eleitores e sim dos partidos. "O eleitor não faz essa previsão certeira de que consegue votar de forma que não haja segundo turno. Isso é resultado das configurações de campanha", diz Fleisher. Tanto nas eleições presidenciais quanto nas estaduais do Paraná, os maiores partidos trabalharam para que alguns candidatos que tinham potencial de levar a disputa para a segunda etapa não disputassem. Foi o caso do presidenciável Ciro Gomes (PSB) e do governador Orlando Pessuti (PMDB), que pretendia disputar o governo.
O cientista político Emerson Cervi, professor da Universidade Federal do Paraná, critica a "covardia" dos partidos políticos. "Partidos médios têm preferido não lançar candidato próprio para negociar coligações maiores e participar do governo eleito no futuro. É uma estratégia covarde e, a médio prazo burra, pois tende a reduzir a importância e a participação eleitoral desses partidos, reduzindo na prática as opções que os eleitores têm", diz Cervi.
Outro fator que contribui para a polarização das campanhas é a possibilidade de reeleição. O chefe do Poder Executivo tem diversas vantagens sobre os demais, como a publicidade de seus atos oficiais, a maior facilidade de conseguir verbas para a campanha por ter poder em mãos e de fazer alianças partidárias. "A reeleição desequilibra a competição na medida que a figura do governante, que disputa o cargo que ocupa, tem uma série de vantagens. São vistos como candidatos naturais", diz o cientista político Antônio Lavareda. Além disso, o segundo turno introduz uma lógica, de acordo com Lavareda, de um voto estratégico dos eleitores, que levam em conta as chances de cada candidato e usam seu voto para evitar, por exemplo, que concorrentes que eles rejeitam não sigam para o segundo turno.
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Interatividade
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