Cuidadosamente calculada pelo presidente Lula e executada com mão de ferro pelo PT, a blindagem da campanha de Dilma Rousseff à Presidência se mostrou frágil diante dos escândalos que atingiram nomes da confiança da candidata: o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e a ex-ministra Erenice Guerra. Lula e integrantes do Planalto já temiam a "maldição de setembro", numa referência a 2006, quando apareceram as denúncias sobre os "aloprados do PT", que levaram o presidente ao segundo turno contra o tucano Geraldo Alckmin. Mas, nesta campanha, os escândalos respingaram antes.
Pimentel, amigo de Dilma desde a militância estudantil, foi a primeira baixa do "núcleo duro" da campanha. Apontado pelos próprios petistas como o responsável por levar para a campanha o núcleo de inteligência que elaborou o dossiê contra o presidenciável tucano, José Serra, o ex-prefeito e candidato ao Senado pelo PT de Minas se afastou discretamente quando surgiram as denúncias. Até então, Pimentel era fortemente cotado para cuidar da coordenação política de um eventual novo governo petista. Pimentel desfilou com Dilma na pré-campanha era chamado de "o inseparável Pimentel" , mas depois sumiu, ao menos publicamente, e ficou exilado em Minas Gerais.
A denúncia do dossiê no início da campanha oficial, em julho, era apenas o começo. Em agosto e setembro, houve acusações mais graves: veio à tona a quebra do sigilo fiscal, por servidores ligados ao PT, do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, da filha de Serra, Verônica, do marido dela e de outros tucanos. Mas a bomba maior, que levou a eleição ao segundo turno, ainda estava por explodir: as denúncias envolvendo Erenice Guerra, que substituiu Dilma na Casa Civil depois de ter sido seu braço-direito no cargo. As denúncias envolvendo Erenice começaram com acusações de tráfico de influência do filho Israel Guerra na Casa Civil. Foram ampliadas para suspeitas sobre a própria participação da ministra no esquema, além de casos de nepotismo e favorecimento de familiares e amigos em cargos públicos.
O escândalo Erenice provocou uma meia dúzia de demissões e exonerações. De imediato, Dilma prestou solidariedade à amiga. Mas logo se referiu a ela com um frio "ex-assessora". Mais escolado, Lula deu o sinal de que cortaria o mal Erenice pela raiz. Mesmo assim, o escândalo afetou a imagem de Dilma como gestora. E deixou dúvidas sobre sua capacidade de escolher subordinados.
Dilma passou a dizer que não foi responsável pela indicação de Erenice para comandar a Casa Civil, mas até ministros lembram que foi ela quem pediu a Lula para promover a assessora de longa data.
O núcleo da campanha teve a preocupação de "esconder" outros "incômodos", como o ex-ministro da Fazenda, o deputado Antonio Palocci (PT-SP). Fiel escudeiro de Dilma, ele ontem apareceu novamente a seu lado logo após o anúncio de que ela estava eleita. O ponto fraco dele foi o escândalo da quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa, em 2006, embora tenha sido inocentado pelo Supremo Tribunal Federal. Volta e meia a denúncia é lembrada, mas Palocci está forte politicamente e pode ser ministro de Dilma.
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