Investimentos ou "apagão logístico"
O trecho de pista simples da BR-227 entre Guarapuava e Palmeira concentra o tráfego de caminhões de várias regiões do estado. O resultado é a formação de longas filas de veículos, principalmente no período de escolamento das safras de soja e milho, entre os meses de janeiro e maio. Ao mesmo tempo, uma locomotiva da Ferrosul puxa 40 vagões de Cascavel até Guarapuava. Na cidade, ela repassa a carga para a concessionária América Latina Logística (ALL), que usa apenas 20 vagões para cada locomotiva até Ponta Grossa, por questões de segurança, já que a estrada de ferro é antiga e o trecho é íngreme.
Interatividade
Confira a opinião de moradores da Região Centro-Sul sobre as necessidades da região:
"É preciso construir novas cadeias. O erro é formar policiais militares com apenas alguns meses e armá-los e colocá-los no trabalho de rua. A preparação deve ser mais estruturada."
Francisco Carlos Sanches Antunes
"Não temos nenhuma opção de lazer e esporte. As únicas opções de lazer para os jovens é encostar o carro na praça e beber até cair."
Vanessa Caimi
"É preciso duplicar trechos da BR-277. O trecho entre Guarapuava e o Relógio tem um fluxo muito grande de veículos. Pelo menos a Serra da Esperança deveria ser duplicada. O valor cobrado pelo pedágio, que é um dos mais caros do mundo, seria suficiente para cobrir esse investimento."
Roni Antonio Garcia da Silva
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Existe uma abissal diferença entre duas realidades no Centro-Sul, região do Paraná que tem uma das maiores desigualdades sociais do estado. Enquanto a renda média de um morador de Guarapuava é de R$ 292,11, um morador de Santa Maria do Oeste recebe R$ 92,21, três vezes menos. E a renda média de um trabalhador de Guarapuava, cidade mais rica da região, é menor do que a renda média estadual de R$ 321,39, segundo dados do censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por isso, além de desigual, o Centro-Sul é uma das regiões mais pobres do estado. O desafio é criar novas oportunidades de renda e emprego para os 471,8 mil moradores.
A família Pereira, por exemplo, vive um impasse: José Júlio e Jandira ainda não decidiram se permitirão que o filho mais novo se mude para Foz do Iguaçu para estudar Engenharia Mecânica. A outra opção para Ângelo Felipe, 17 anos, é continuar a morar com os pais e cuidar de três vacas leiteiras e da produção de erva-mate no pequeno sítio de 5 alqueires em Santa Maria do Oeste, município com a segunda pior renda per capita do Paraná.
A 92 quilômetros dali, em Guarapuava, José Henrique Lustosa Siqueira, tataraneto do primeiro prefeito de Guarapuava, Pedro Lustosa de Siqueira, também está preocupado. Ele começou a construir um terminal intermodal no valor de aproximadamente R$ 5 milhões para integrar o transporte de cargas da BR-277 e da ferrovia (leia na página 15), mas ainda não tem certeza da viabilidade. Por enquanto, administra as três fazendas que somam 2,1 mil hectares, onde produz soja, milho, trigo e cria 900 cabeças de gado.
Segundo dados do IBGE, 41% do total de 471,8 mil pessoas da região são consideradas em situação de pobreza (veja infográfico). "Todos os municípios registram IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] abaixo da média paranaense, desempenho que se repete quanto aos componentes do índice, sendo o de renda o mais crítico. Na educação, [...] a frequência escolar é inferior à média do estado, situação que se reflete na baixa escolarização da população", registra um estudo regional do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), órgão ligado ao governo do estado.
Três das cinco piores rendas per capita do Paraná estão em cidades do Centro-Sul: Laranjal (R$ 105,86), Mato Rico (R$ 103,89) e Santa Maria do Oeste (99,21). A pior situação é registrada em Doutor Ulysses ((R$ 86), na região metropolitana de Curitiba. "Precisamos de um choque para quebrar essa apatia. Não vou dizer que estamos parados, mas nosso crescimento é pequeno. Temos ferrovia e um entroncamento rodoviário, mas não estamos tirando proveito disso", analisa o economista e professor da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) Ernesto Odílo Franciosi.
O grande desafio é criar outras oportunidades de emprego, que melhorem a renda média das famílias. Para isso, é preciso mudar a base econômica hoje calcada na grande agricultura mecanizada ou em pequenas propriedades com culturas de subsistência e acrescentar alternativas industriais. Hoje, além da agricultura, a economia da região se baseia na indústria madeireira, que paga baixos salários. "Nosso plantel de gado é abatido fora de Guarapuava. A soja e o milho colhidos aqui são colocados em um caminhão e entregues na cooperativa, e são processados em outra região", comenta Franciosi. "Por que não temos indústria de óleo aqui? Por que não processar aqui?", questiona.
O secretário de Agricultura de Santa Maria do Oeste, José Joel Bueno, diz acreditar que um projeto de desenvolvimento da cidade exigirá maior industrialização do leite, para produzir derivados como o queijo. Além disso, é preciso melhorar a genética e instrumentalizar os agricultores que tiram pequena quantidade de leite. "Chamamos de gigolôs do leite. Tiram 2 ou 3 litros por dia de cada vaca. Precisamos melhorar a tecnologia", afirma Bueno.
Atenção e investimento
Algumas iniciativas de mudança e crescimento morrem na casca por causa da falta de apoio ou infraestrutura. Ângelo Felipe já propôs ao pai a construção de uma estufa, para produzir verduras que seriam vendidas em Santa Maria do Oeste. Por causa da condições dos cerca de 6 km de estrada de chão entre o sítio e o núcleo urbano, no entanto, a ideia foi deixada de lado. Não há como garantir a entrega de produtos nos dias de chuva por causa do lamaçal. "Toda vez que chove, ninguém passa. É nossa maior necessidade", argumenta José Júlio.
A renda da família é modesta. As vacas de leite produzem 10 litros de leite por dia e os 300 litros por mês rendem cerca de R$ 300. A renda é complementada com o corte de cerca de 8 mil pés de erva-mate por mês. Com isso, a família consegue tirar cerca de 3 mil, que são administrados até o ano seguinte. "O dinheiro da erva-mate a gente usa para melhorar a propriedade", revela o agricultor. Ele torce por mais investimentos na região, para que o futuro dos dois filhos seja melhor. "O que falta mais é auxílio para os jovens", pondera.
Mortalidade
O Centro-Sul tem cidades com graves problemas sociais, como Palmital. O índice de mortalidade por nascidos vivos é um dos piores do estado: 30,89 crianças morrem no município a cada mil nascimentos. O número é duas vezes maior do que a média do Paraná, de 12,99 mortes para mil nascidos vivos. Para os pequenos municípios da região, conseguir médicos é um desafio.
Para Valdir Grigolo, presidente da Associação Comercial de Guarapuava e coordenador da Coordenadoria das Associações Comerciais e Industriais do Centro-Oeste do Paraná (Cacicopar), uma das necessidades mais urgentes da região é a criação de um curso de Medicina. "As cidades não têm infraestrutura e nenhum médico quer morar lá. O curso de medicina da Unicentro, que tinha autorização para ser criado, foi cancelado. O médico que se forma na capital não quer vir para o interior", afirma. "Se tivesse um curso na região, os médicos ficariam aqui e a qualidade do atendimento de saúde à população melhoraria."
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