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O projeto de José Henrique Siqueira é ousado, mas depende de participação do governo do estado: “Vejo um futuro grande no transporte multimodal, desde que exista investimentos” | Albari Rosa / Gazeta do Povo
O projeto de José Henrique Siqueira é ousado, mas depende de participação do governo do estado: “Vejo um futuro grande no transporte multimodal, desde que exista investimentos”| Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo

O trecho de pista simples da BR-227 entre Guarapuava e Palmeira concentra o tráfego de caminhões de várias regiões do estado. O resultado é a formação de longas filas de veículos, principalmente no período de escolamento das safras de soja e milho, entre os meses de janeiro e maio. Ao mesmo tempo, uma locomotiva da Ferrosul puxa 40 vagões de Cascavel até Guara­puava. Na cidade, ela repassa a carga para a concessionária América Latina Logística (ALL), que usa apenas 20 vagões para cada locomotiva até Ponta Grossa, por questões de segurança, já que a estrada de ferro é antiga e o trecho é íngreme.

Guarapuava virou um "funil logístico" para o Paraná. Reverter essa situação é uma das necessidades não só da Região Centro-Sul, mas de todo o estado, já que a região é rota de quase todas as outras regiões em direção ao Porto de Paranaguá. "Precisamos investir em transporte ferroviário, senão teremos um apagão logístico na BR-277", afirma o agricultor José Henrique Lustosa Siqueira.

Esse problema influencia diretamente no interesse dos empresários em investir. "A viagem [de trem] leva um dia e meio até Paranaguá. A velocidade máxima [até Ponta Grossa] não pode passar dos 40 quilômetros por hora, por causa dos trilhos velhos e do trecho de serras", diz o presidente da Associação Comercial de Guara­puava, Valdir Grigolo. "Esse gargalo trava o desenvolvimento. Tive­mos a visita de vários empresários da Europa na região e eles batem na mesma tecla: dificuldade de acesso ao Porto de Paranaguá."

Entreposto logístico

Siqueira aposta na região como um futuro entreposto logístico. Ele investiu R$ 2,5 milhões e comprou uma área entre a ferrovia e a BR-277. Ergueu dois silos de armazenagem e pretende construir mais quatro se o projeto vingar. A intenção é construir um terminal intermodal, em que caminhões descarreguem soja e milho que sejam levados de trem até Paranaguá. O trem traria fertilizante do porto.

O futuro do empreendimento, porém, depende de uma negociação do próximo governo com a iniciativa privada. Seria necessário incentivar esse tipo de investimento e resolver o problema da ferrovia entre Guarapuava e Ponta Grossa. "Guarapuva está muito bem localizada, a 340 km de Foz do Iguaçu e a 350 km do Porto de Paranaguá. Vejo um futuro grande no transporte multimodal, desde que exista investimentos", comenta o agricultor.

Quem também aguarda uma parceria com o governo é a ALL, concessionária da ferrovia. A empresa diz que uma nova ligação ferroviária com a região de Ponta Grossa reduziria o tempo de transporte e a capacidade de carga das locomotivas. "O traçado sugerido pela ALL tem 138 km, ligando os municípios de Guarapuava a Ipiranga. Considerado um traçado mais objetivo e menos íngreme, permite um aumento de produtividade para 11.100 toneladas por dia e redução do tempo de trânsito em 40%", afirma nota da empresa.

Duplicação

A concessionária Caminhos do Paraná, que administra a BR-277, informou que em 2011 pretende duplicar 1,3 km da rodovia perto de Guarapuava. Já a duplicação de um trecho de 45 km entre a cidade e o distrito de Relógio só deverá ser feita entre 2018 e 2020. Até lá, os usuários terão de conviver com um tráfego de cerca de 5 mil veículos por dia em pista simples, sem a perspectiva de duplicação no trecho de aproximadamente 150 km entre Relógio e o encontro com a BR-376, na região de Palmeira.

A esperança é que esse gargalo seja solucionado para reduzir os custos do transporte e isso torne os municípios atrativos para novos investimentos. "Temos aqui a oficina de manutenção da Ferroeste. Dá para fazer uma fábrica de vagões. Tem poucas no Brasil", palpita o economista e professor da Unicentro Ernesto Odílo Franciosi.

O secretário municipal de Indústria e Comércio de Gua­rapuava, Mauro Temochko, lembra que há necessidades mais básicas de transporte. "Não podemos conceber que estradas que ligam os municípios da região não estejam asfaltadas", critica.

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