Série mostra demandas regionais
A partir de hoje, a Gazeta do Povo publica uma série de reportagens sobre as principais necessidades de investimentos e ações nos próximos anos nas 11 regiões do estado. Uma equipe de repórteres pegou a estrada para levantar as demandas, conhecer a realidade de cada local e, a partir disso, contar a história de pessoas envolvidas diretamente com esses problemas. Para isso, foram percorridos 3.264 quilômetros e realizadas cerca de 90 entrevistas.
O resultado desse trabalho você começa a conhecer hoje. A primeira região visitada foi o Norte Pioneiro. Na sequência, serão publicadas reportagens sobre as demais localidades: Norte Central, Noroeste, Centro-Oeste, Oeste, Centro-Sul, Sudoeste, Sul, Campos Gerais, Litoral e Região Metropolitana de Curitiba.
Cursos superiores não acompanham a vocação da economia regional
Cinco amigos e um problema em comum: apesar da vontade de estudar e trabalhar com a agricultura, todos têm dúvida a respeito do que conseguirão. Ygor, Edson, Felipe, Luís e Lucas moram em Santo Antônio da Platina, uma cidade com um dos maiores comércios do Norte Pioneiro mas, como os demais municípios da região, com forte base econômica na agricultura. A gurizada enxerga o futuro no campo, mas não tem possibilidade de se qualificar por causa da falta de oferta de cursos na área.
Daniel Gomes Filho, o Ceará, tem mais filhos do que dentes. Nove contra três. Mas ele não se importa: é feliz porque mora em uma boa casa, com sete filhos e cercado pelos netos. Duas filhas ainda moram no Ceará. Há 14 anos no Paraná, o nordestino ainda não perdeu o sotaque, mas pode perder a fonte de renda de quase toda a família: o corte de cana de açúcar. Ele e os filhos são funcionários com carteira assinada de uma usina, em Bandeirantes.
Os Gomes de Oliveira ajudam o Norte Pioneiro a ser uma das principais regiões no cultivo da cana usada para a produção de álcool combustível e açúcar com a colheita de 9,7 milhões de toneladas em 100 mil hectares de terra. A tendência, porém, é que as queimadas, que antecedem o corte manual, sejam cada vez menos frequentes devido ao impacto ambiental que causam. Por isso, a colheita mecanizada deve ganhar espaço nos próximos anos.
Para criar alternativas de trabalho, a criação de novas oportunidades de emprego a partir da agroindustrialização é o principal desafio para a região do Norte Pioneiro, que reúne 46 municípios e viu a prosperidade econômica até a década de 60, no auge do cultivo café. Hoje a região amarga renda per capita abaixo da média estadual por causa da pouca qualificação da mão de obra, refletida na baixa remuneração dos salários.
Bandeirantes, por exemplo, tem renda per capita de R$ 230,81, contra R$ 321,39 da média do estado, segundo dados de 2000 do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, o Ipardes. "Não é concebível que a gente esteja em uma região com solo rico, com clima regulado e próximo ao maior mercado consumidor do Brasil, que é São Paulo, estrategicamente próximos aos portos de Santos e Paranaguá, e ainda sejamos conhecidos como o Vale da Pobreza", lamenta o prefeito Celso Benedito da Silva, presidente da Associação dos Municípios do Norte do Paraná (Amunop).
A mortalidade infantil é um dos problemas decorrentes dessas características econômicas. Há cidades com números distantes da média estadual, como Barra do Jacaré e Bandeirantes, que têm 66,6 e 21,1 mortes por mil nascidos vivos, respectivamente, enquanto o Paraná tem 12,9 mortes por mil.
Ceará gosta da região e não pensa voltar para sua terra natal. Ele é otimista. Não acredita que a máquina tomará todos os empregos dos cortadores de cana, mas sabe que as oportunidades de trabalho na região são pequenas. "Tem serviço de servente, mas é avulso. Para eles [os filhos] não compensa porque não tem carteira assinada. O serviço que a gente tem aqui é a cana", afirma. Dois dos cinco filhos de Ceará já buscaram emprego dentro da usina.
Industrialização
De olho na mão de obra barata, algumas indústrias se instalaram no Norte Pioneiro nos últimos anos e puxaram o crescimento do setor (71%), segundo o Ipardes. O aumento foi acima da agricultura (45%), mas perdeu para a área de serviços (77%). Porém, falta uma melhor qualificação para os trabalhadores da região.
Siqueira Campos, por exemplo, aumentou o patamar de industrialização. Hoje tem uma fábrica de roupas e a maior indústria de peças para motos da América Latina, a ProTork. Muitas famílias moram e trabalham em sítios e conciliam a atividade com um emprego nas lojas da cidade ou nas fábricas.
A família Toniette tem 21 pessoas que moram no sítio em Siqueira Campos, que reúne cinco dos seis filhos de Claucília Volpato Toniette, 76 anos. Os quatro filhos homens trabalham com agricultura e uma das filhas é costureira em uma fábrica de roupas. Eles plantam café e criam gado, mas a principal fonte de renda é a criação de frango no sistema integrado, em parceria com um abatedouro, a Seara, de Jacarezinho.
São seis aviários aos quais a empresa fornece os pintinhos e assistência técnica. Os agricultores ficam responsáveis pela alimentação, engorda e cuidado com as exigências sanitárias. A renda é garantida porque a venda é certa. "Eu fui largando a lavoura, que usava veneno, e fiquei só com o frango", conta Liver, um dos irmãos Toniette que plantava tomate e era acostumado com grandes perdas por causa do clima ou de pragas.
O filho de Liver saiu do campo. Mora em Siqueira Campos com a mulher e a filha, mas sua renda depende da agricultura e da indústria. Leandro é caminhoneiro de outro abatedouro, a Frangos Pioneiro, de Joaquim Távora. Ele transporta ração da fábrica até as propriedades rurais. "
Para o diretor de Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico da prefeitura de Siqueira Campos, Cláudio Chomiski, é preciso levar mais indústrias para a região e processar ali mesmo os produtos agrícolas. Ele diz que isso depende da ajuda estadual e federal. "É necessário incentivo fiscal e auxílio no fornecimento de grandes estruturas, como a água, por exemplo. A região é ruim para grandes aquíferos."
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