Opinião
O debate esquentou
Caroline Olinda, repórter de Vida Pública da Gazeta do Povo
A série de entrevistas do Jornal Nacional com os presidenciáveis esquentou o até agora morno debate eleitoral. Na segunda-feira, os jornalistas William Bonner e Fátima Bernardes foram direto aos pontos fracos da candidata do PT, Dilma Rousseff sorteada para ser a primeira entrevistada do programa.
Perguntaram sobre o risco de o presidente Lula virar uma espécie de tutor do seu governo. Questionaram as alianças que o governo petista fez. E indagaram até mesmo sobre o temperamento considerado difícil da candidata. A petista, que tem investido tanto no treinamento de entrevistas, se enrolou para dar as respostas. Pareceu surpreendida pelas perguntas. Não deveria estar, para quem está sendo treinada para enfrentar a campanha. Afinal, a postura de confrontar os candidatos à Presidência na bancada do Jornal Nacional não é novidade nesta eleição. As entrevistas realizadas no pleito de 2006 seguiram o mesmo estilo "agressivo".
Segunda a ser entrevista, a candidata do PV, Marina Silva, pareceu estar mais preparada. Respondeu com calma às questões, embora os jornalistas também tenham atacado seus pontos fracos.
O entrevistado de hoje é José Serra (PSDB). O tucano declarou que vai responder com naturalidade às perguntas, mas deve estar treinando muito para não escorregar. Pelo menos deveria. Considerando as duas últimas entrevistas, é de se esperar que mais questões desconfortáveis sejam apresentadas.
Aparentando menos nervosismo que a adversária Dilma Rousseff (PT), a candidata à Presidência do PV, Marina Silva, foi a segunda presidenciável entrevistada pelo Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão. Ela tentou descolar de si a ideia de que seria uma candidata preocupada unicamente com questões ambientais e buscou reafirmar o discurso de ser a terceira via desta eleição. Ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula e ex-integrante do PT, também teve de justificar sua postura durante o escândalo do mensalão que estourou em 2005.
Marina negou que tenha permanecido no PT durante o escândalo por ser conveniente ficar com o cargo. "Permaneci para dar contribuição que eu achava que poderia dar dentro do governo e não por ser conveniente", disse na entrevista de 12 minutos. Também negou ter sido conivente. "Eu sempre dizia que aquilo [o mensalão] era condenável", disse a candidata, que afirmou que não teve espaço na mídia para amplificar sua opinião.
Na época que estourou o mensalão, Marina era ministra do Meio Ambiente, cargo que só deixou em 2008, sob o argumento de conflitos internos com o governo. A desfiliação dela do PT ocorreu um ano depois, em agosto de 2009, quando ela deixou o partido para entrar no PV, já com o projeto de ser candidata à Presidência.
Marina também foi questionada sobre sua força para formar uma base aliada que dê sustentação a seu eventual governo. Perguntada sobre sua capacidade de construir uma base de apoio no Congresso caso seja eleita, já que nem sequer conseguiu alianças nestas eleições, Marina afirmou que, para ela, uma coalizão governamental seria até mais fácil que para os adversários José Serra (PSDB) e Dilma segundo a candidata, justamente, por ainda não ter conseguido fechar nenhuma aliança de apoio a sua candidatura. "Dilma e Serra estão tão comprometidos que eles só podem repetir mais do mesmo", afirmou a ex-ministra.
Ela também aproveitou para criticar a relação do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com o DEM e do presidente Lula com o PMDB. "Temos que acabar com a ideia de situação por situação e oposição por oposição e trabalhar pelo Brasil", completou.
Ainda na tentativa de se mostrar como uma candidata que pode buscar um caminho de unificação, Marina afirmou que não terá problemas em chamar nomes de outros partidos incluindo do PT e do PSDB para fazer parte do seu governo. Para demonstrar que tem essa capacidade de unir diferentes grupos, Marina ainda destacou sua atuação no Congresso. Ela afirmou que, quando estava no Senado, sempre conseguiu aprovar as matérias de sua autoria graças aos apoios que conquista de integrantes de outros partidos.
A candidata também afirmou que sua candidatura não é apenas para marcar posição sobre a questão ambiental. "A minha candidatura é para agora porque o Brasil não pode esperar", afirmou. Marina também buscou reafirmar que a questão ambiental não é a sua única bandeira e que tem capacidade para tratar das diversos outros setores. E ainda buscou desconstruir a contradição entre preservação do meio ambiente e crescimento. "Vamos trabalhar no sentido de fornecer a infraestrutura e vamos fazer isso sem descuidar do meio ambiente."