Para Serra, ligação com campanha é "irrelevante"
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou ontem que é "irrelevante" o fato de a gráfica que imprimia panfletos contra a adversária Dilma Rousseff (PT) pertencer à irmã de um coordenador de sua campanha.
YouTube diz que não houve censura a vídeo de pastor
Os temas religiosos ganharam força na campanha eleitoral com o vídeo em que o pastor Paschoal Piragine Jr., da Primeira Igreja Batista de Curitiba, critica o posicionamento do PT sobre assuntos como aborto e criminalização da homofobia e pede que os fieis não votem em candidatos do partido. O vídeo foi visto por mais de 3 milhões de pessoas.
Dona da gráfica é filiada ao PSDB
Os cerca de 1,1 milhão de folhetos anti-Dilma Rousseff apreendidos no domingo pela Polícia Federal em São Paulo foram impressos na gráfica Pana Editora, que tem como uma de suas proprietárias Arlety Satiko Kobayashi, irmã do coordenador de infraestrutura da campanha do tucano José Serra, Sérgio Kobayashi.
A apreensão de cerca de 1 milhão de panfletos que pregavam voto contra o PT e a presidenciável Dilma Rousseff por causa do posicionamento favorável à descriminalização do aborto, no domingo, em São Paulo, revelou um racha dentro da Igreja Católica. Parte dos bispos e padres estimula o posicionamento eleitoral da entidade, inclusive com aconselhamentos aos fiéis. A ala é liderada pelo bispo dom Luiz Gonzaga Bergonzini, da diocese de Guarulhos, que teria encomendado o material. Outra seção orienta apenas o voto consciente e a favor da vida.
"Não precisa nem ser teólogo para verificar que há conflitos internos, incongruência de opinião dentro da nossa religião", disse o padre João Carlos Almeira, diretor geral da Faculdade Dehoniana, em Taubaté (SP). Joãozinho, como é conhecido artisticamente, tem 30 CDs gravados e seis livros publicados. "É preciso ampliar a discussão", acrescentou.
A cisão ficou ainda mais evidente nesse fim de semana. O texto que deu origem ao material impresso impedido de circular pela Justiça Eleitoral continha trechos do "Apelo a todos os brasileiros e brasileiras", divulgado em 26 de agosto pela Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), braço paulista da organização. Entre outras coisas, o material orientava os eleitores religiosos a votar "somente em candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalização do aborto". O texto, distribuído em Belo Horizonte (MG) e também em celebrações em homenagem à Nossa Senhora, em Aparecida (SP), foi assinado por dom Nelson Westrupp, presidente da Regional Sul 1, por dom Benedito Beni dos Santos (vice-presidente) e por dom Airton José dos Santos (secretário-geral).
O uso político e a consequente suspensão do apelo, porém, obrigou Westrupp a voltar atrás no discurso. Em nota veiculada no site da CNBB de São Paulo, ele recrimina "a instrumentalização de suas declarações e notas e enfatiza que não patrocina a impressão e a difusão de folhetos a favor ou contra candidatos". "Não indicamos nem vetamos candidatos ou partidos", prosseguiu, sem entrar em detalhes sobre a mudança repentina.
A questão, porém, é que nem todos concordaram com o novo posicionamento de Westrupp. Em entrevista ao portal de notícias G1, dom Beni dos Santos reprovou a versão apresentada pelo companheiro de diretoria. "O texto é legítimo e foi aprovado no dia 26 de agosto, em São Paulo. A comissão episcopal representativa do Regional Sul 1, que engloba diversos bispos, fez uma nota no dia 26 de agosto, pedindo que esse apelo aos brasileiros e brasileiras tivesse ampla divulgação e isso ficou a critério de cada bispo. A divulgação começou a ser feita antes do primeiro turno e continua agora, antes do segundo turno. De modo que é um documento legítimo assinado pela presidência do Regional Sul 1 em nome do conselho episcopal", ressaltou ele, que é bispo em Lorena (SP), aumentando a polêmica.
O posicionamento da CNBB Paraná, de acordo com o secretário executivo padre Carlos Alberto Chequim, é mais moderado, sem tomar partido de nenhum dos candidatos. "Isso [posicionamento da regional de São Paulo] é uma iniciativa isolada, que não representa a CNBB como um todo. Somos a favor dos valores éticos, da vida, não da instrumentalização da religião", afirmou.
Atitude errada
Para dom Vilson Dias de Oliveira, responsável pela comunicação da regional paulista, o grupo errou ao se posicionar claramente contra o PT na carta de 26 de agosto. "O erro foi a apresentação de siglas partidárias. Isso não poderia ter acontecido. Você pode fazer uma nota tranquilamente, mas a partir do momento em que cita nomes e cita partidos políticos, você fere as pessoas", reconheceu o bispo de Limeira, no interior de São Paulo.
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