Em meio à insatisfação de setores da Igreja Católica com a candidata governista, que exigiu a entrada em cena do ex-seminarista e assessor especial de Lula, Gilberto Carvalho, Dilma Rousseff participa hoje de ato com líderes de 15 igrejas evangélicas, que pode reunir cerca de 2 mil fiéis, no Encontro com Presidentes das Assembléias de Deus no Brasil. Como os católicos, os evangélicos também dizem estar "indignados" com o discurso de Dilma sobre aborto e casamento gay.
O deputado Carlos William (PTC-MG), representante da Igreja Batista, diz que o interlocutor de Dilma e do PT junto aos evangélicos, o pastor deputado Manoel Ferreira (PR-RJ), estará numa situação muito ruim se a candidata petista não recuar nas últimas declarações. Ele diz que não tem como as Igrejas Evangélicas hipotecaram apoio a Dilma hoje sem firmar um acordo prévio antes da plenária, garantindo que as bancadas religiosas terão carta branca para tentar derrubar as propostas sobre o assunto no Congresso.
"Sobre o que ela disse em relação a aborto e casamento gay, minha familia, que é católica, está indignada! Principalmente a ala da renovação carismática. Hoje, 20% do eleitorado brasileiro é de evangélicos, que também estão indignados com a Dilma. Ela foi muito clara e categórica quando disse que é a favor da liberdade do corpo de cada um. Se tiver uma lei nesse sentindo, e o pastor se negar a casar dois gays, o pastor vai preso? Vão ter que arrumar um Maracanã para prender pastor", disse Carlos Willian.
Escalado para intermediar encontros reservados de Dilma com o episcopado da CNBB para tentar desfazer a desconfiança em relação a Dilma, Gilberto Carvalho pode ter dificuldade na tentativa de melhorar a imagem da candidata na Igreja Católica. Interlocutores da CNBB informam que o bispo de Guarulhos, dom Luiz Gonzaga Bergonzini, é da ala conservadora, que hoje representa cerca de 70% do episcopado brasileiro.
A má impressão passada por Dilma aos bispos da Igreja Católica começou quando, há cerca de dois meses, ela foi levada pelo senador Gim Argelo (PTB-DF) num evento de inauguração da rádio e TV Canção Nova. Os bispos da CNBB estavam lá em peso. Atéia confessa, ela rezou e beijou mãos, o que foi visto como uma coisa eleitoreira. Logo depois, num mesmo dia, ela participou de uma missa celebrada pelo cardel dom Cláudio Hummes e, de noite, posou ao lado de pais e mães de santo. "A Igreja Católica se sentiu usada", reclamou um dos bispos presentes.