Opinião: Candidatos testaram o tom agressivo
A agressividade entre Serra e Dilma é a principal novidade da campanha a essa altura. Durante um bom tempo, Serra havia decidido não parecer muito crítico em relação à candidata do PT e ao governo Lula. O medo era de que a crítica a um presidente com índices recorde de popularidade pudesse não ser bem vista pelo eleitorado.
"Tudo abobrinha", diz Plínio na twitcam
O candidato do PSol à Presidência, Plínio de Arruda Sampaio, acompanhou e comentou o encontro entre os três principais presidenciáveis, ontem, pela twitcam. Usando o escritório do filho, Plínio tomou café e comeu bolacha enquanto criticava as respostas de Dilma, Serra e Marina. "Estão discutindo abobrinha", disse logo no início. "Um joga pro outro, o outro joga pro um."
Brasília - A 45 dias das eleições, os três principais candidatos a presidente subiram o tom da campanha. Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) realizaram ontem, na internet, o debate mais acalorado de 2010. Críticas, acusações e ironias marcaram o encontro realizado pelo portal UOL e pelo jornal Folha de S.Paulo que foi retransmitido por cerca de 70 sites do país, inclusive o da Gazeta do Povo.
Com um formato menos engessado do que o debate organizado pela TV Bandeirantes, no dia 5 de agosto, a discussão contou com perguntas de internautas e estimulou o confronto individual. Mesmo beneficiada pela dianteira nas pesquisas, Dilma não deixou de fustigar Serra. Anteontem, o Vox Populi divulgou uma sondagem em que a petista aparece com 45% das intenções de voto, contra 29% do adversário tucano e 8% de Marina.
Logo na primeira oportunidade, a petista questionou o candidato do PSDB sobre o fato de o partido do seu candidato a vice, Indio da Costa (o DEM), ter questionado a constitucionalidade do Programa Universidade para Todos (ProUni), que dá bolsas de estudos para 704 mil estudantes de baixa renda.
Serra esquivou-se e contra-atacou dizendo que o "PT é o campeão do quanto pior, melhor" e que votou contra o Plano Real. Dilma afirmou que, nesse caso, a diferença entre tucanos e petistas era que seu partido reconhecia os erros do passado admitindo que os petistas se equivocaram ao criticar a adoção do real.
Serra retrucou e disse que a pergunta sobre o ProUni teria sido formulada por um assessor da ex-ministra, insinuando que ela não teria capacidade para tal. Ainda sobre educação, ele ressaltou que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), promovido pelo Ministério da Educação, foi "desmoralizado" pelo vazamento de provas ocorrido no ano passado.
Aliás, em diversos momentos Serra instigou Dilma. Em três oportunidades, atacou o aparelhamento estatal promovido pelo PT e disse que, se eleito, não vai manter a política de ceder cargos públicos em troca de apoio.
Acuado com perguntas sobre o alinhamento com o PTB de Roberto Jéfferson, pivô do mensalão, Serra acabou por defender o aliado. Mas disse que não é um político que "passa a mão na cabeça de quem faz coisa errada".
Aproveitou ainda para atacar o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, considerado pelo Ministério Público como o chefe do mensalão e que, segundo Serra, "tem um papel muito importante na campanha da Dilma".
"O Serra é um político experiente, de boa retórica, e foi para cima da Dilma com o que tinha de melhor", disse a cientista política Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos (SP). Para a cientista política, no entanto, a petista surpreendeu por não se abalar e melhorar a desenvoltura. "Ela ainda repete vários erros, mas está melhorando", analisou Maria do Socorro.
Dilma, durante o debate, teve de responder, pela primeira vez nas últimas semanas, sobre seu estado de saúde ela fez tratamento contra um câncer no sistema linfático no ano passado. Firme, até agradeceu pela pergunta. "O câncer é uma doença curável, principalmente quando detectado logo no início. Temos de acabar com esse preconceito com a doença", disse, garantindo que está curada.
Já Marina, habitualmente avessa a provocações e ataques, também foi mais áspera. Ao puxar o debate para o tema da reforma política, colocou os dois adversários contra a parede. Segundo ela, as mudanças não ocorrem porque os dois lados se beneficiam do atual modelo para manterem suas políticas de alianças.
"Na maioria das vezes, a Marina ficou mais ao lado da Dilma do que do Serra. Foi uma postura nova", avalia a cientista política da Universidade Federal de São Carlos. Marina criticou em especial a política educacional do PSDB no governo de São Paulo. Mas não poupou 100% o PT, partido ao qual era filiada até o ano passado. E lamentou o que chamou de "infantilização" da campanha por parte de Lula, ao referir-se a Dilma como uma "mãe" para os brasileiros.
Serviço:
A pesquisa Vox Populi foi encomendada pela TV Bandeirantes e realizada entre os dias 7 e 10 de agosto, com 3 mil entrevistados. Os outros candidatos não somam 1% e a margem de erro é de 1,8 ponto porcentual para mais e para menos. O número de registro no TSE é 22.956/2010.
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