A presidente Dilma Rousseff aproveitou uma entrevista internacional para pedir um novo mandato ao povo brasileiro. Dilma afirmou à emissora de TV Al Jazeera (Qatar) que deveria ser reeleita porque faz parte de um projeto que promoveu uma revolução social no país, respeitando a democracia.
"Eu acredito que o povo brasileiro deve me dar oportunidade de um novo período de governo pelo fato de que nós fazemos parte de um projeto que transformou o Brasil", disse.
"O Brasil tinha 54% de sua população entre pobres e miseráveis em 2002. Hoje, todos aqueles que vivem na classe C para cima representam 75%, três em cada quatro brasileiros. Nós transformamos a vida dessas pessoas. O Brasil mudou de perfil e foi feito isso com a democracia vigente", completou.
Segundo Dilma, um indicativo da evolução social da sociedade foi a realização da Copa do Mundo no país, encerrada neste domingo (14). Sem citar nomes, ela aproveitou para alfinetar o ex-jogador Ronaldo que, antes do evento, declarou se sentir "envergonhado" com os atrasos das obras do Mundial. Ele era integrante do comitê organizador da Copa.
"Tanto é assim que, como você explica, o sucesso da Copa do Mundo? Antes de uma semana, você lê jornal, você sabe o que se dizia a respeito da infraestrutura da Copa. Você sabe que tinha gente que dizia que estava envergonhado do país porque não teria condição de receber [o evento]", disse.
Reforçando o mote de sua campanha de reeleição, Dilma afirmou que dois projetos estão em disputa. "Nós oferecemos o seguinte: quem fez, sabe continuar fazendo, enquanto quem quando pode não fez, não sabe fazer. É simples a opção", disparou.
Economia
Na entrevista, Dilma admitiu que "nós estamos numa fase de baixa de ciclo econômico", mas repetiu que esse fenômeno é influenciado pelo contexto da economia mundial que ainda se recupera da crise financeira internacional de 2009.
A presidente saiu em defesa da política econômica de seu governo e assegurou que o país entrará em um novo clico de crescimento, independente da economia mundial.
"Temos tomado todas as medidas para entrar em um novo ciclo. Temos que melhorar a produtividade da economia brasileira", disse. "Nós estamos numa fase de baixa de ciclo econômico, mas sabemos que vamos entrar em outra fase do ciclo. Estamos nos preparando para melhorar a competitividade do país, aumentar as condições pelas quais nós vamos poder enfrentar essa nova etapa. Se não entrar para o resto do mundo [fase econômica], eu lhe asseguro que entra para o Brasil".
A petista afirmou que o governo está empenhado em ampliar a produtividade seguindo quatro ações: investimento na infraestrutura, em educação, ciência e inovação, além da modernização do Estado.
"O Brasil é um país que tem demorado muito para modernizar seu Estado. Nós precisamos de um pais sem burocracia, de um Estado mais amigável tanto para os cidadãos quanto para os empresários, empreendedores e trabalhadores".
Reforma
Dilma negou que o país tenha uma política imperialista em suas parcerias comerciais. Nesta semana, o Brasil vai sediar reunião dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
"Não é isso que o Brasil pretende nas suas relações dentro dos Brics. Queremos relações de igualdade. Ninguém pode acusar o Brasil de tentar impor seus interesses contra os interesses dos outros povos", disse.
A presidente voltou a defender a reforma e ampliação do Conselho de Segurança da ONU, proposta defendida pelo Brasil desde o governo Lula. Ela disse, inclusive, que é preciso uma atuação mais enfática do órgão no conflito entre israelenses e palestinos.
"Acho que é chegada a hora por parte da comunidade internacional e seus órgãos, dos quais o Conselho de Segurança da ONU é elemento central, é chegada a hora de ter posição mais enfática, mais forte no sentido de propiciar a abertura do diálogo. Não acredito na possibilidade de destruição de parte a parte. Aqueles que acreditam que é possível distribuir os palestinos ou Estado de Israel estão equivocados. Tem que se criar condições dos dois Estados conviverem simultaneamente. É isso que o Brasil defende e acredita", disse.
Na avaliação de Dilma, o acirramento do conflito entre palestinos e israelenses reforça a tese de mudanças no conselho da ONU. "É um momento muito claro que fica visível a necessidade de renovar o conselho da ONU. Cria-se impasses que não são superados. A paralisia leva a mais mortes. Mudar e ampliar a composição do conselho da ONU é uma questão que, cada vez mais, cria episódio de conflito não solucionado no mundo, se mostra a necessidade disso", completou.
Espionagem
A presidente reafirmou ainda que as ações de espionagem dos Estados Unidos contra empresas e autoridades brasileiras, inclusive ela própria, não partiram do governo Barack Obama.
"Eu pedi que desculpas só teriam sentido se fossem acopladas a uma coisa que nos interessava mais: como vai ser daqui para frente. Não acredito que o governo Obama de forma deliberada estava espionando os governo brasileiro, as empresas brasileiras ou os cidadãos brasileiros. Acredito que tem uma estrutura que vinha de antes e que essa estrutura operou esse tipo de ação indevida", disse.
"O que nós queremos é que fique claro como vai ser daqui para frente e, portanto, dizer como é daqui para frente o que mais nos interessa. Porque um pedido de desculpas acaba na hora que é feito. Só se torna real, quando se diz que não há mais hipótese disso ocorrer. Eu acredito que o caminho está perto de isso ocorrer."