Marina Silva tornou a campanha de Eduardo Campos mais conhecida em todo o país, mas gerou discordância internas e crises com aliados do PSB:
Alianças
Campos vinha costurando o apoio a candidatos de outros partidos em oito estados, mas Marina era contrária às alianças. Quando ela aceitou ser vice, alguns desses apoios começaram a implodir. Em Minas Gerais, por exemplo, a pressão da ex-ministra fez com que o PSB lançasse Tarcísio Delgado para o governo e deixasse de apoiar Pimenta da Veiga (PSDB). Em seis estados (Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rondônia, Tocantins e Alagoas), Marina apoia candidatos diferentes dos apoiados pelo PSB.
Agronegócio
Ambientalista, Marina tem aversão a políticos ligados ao agronegócio, setor com o qual Campos manteve relações estreitas quando foi governador de Pernambuco e quando começou a costurar sua candidatura à Presidência. O anúncio de que ela seria a vice de Campos, em abril deste ano, fez com que várias lideranças ligadas ao agronegócio, como o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO), se afastassem de Campos.
Casamento gay
Evangélica, Marina tende a ser conservadora em relação ao casamento gay, ao aborto e à liberação das drogas. Campos, por outro lado, chegou a declarar que era favorável à união civil entre pessoas do mesmo sexo.
Entrevista
"A Marina é uma figura maravilhosa, mas eu voto na Dilma"
Euclides Lucas Garcia
Mesmo com a entrada da Marina Silva na disputa pela Presidência, o senhor mantém o voto na presidente Dilma Rousseff por exclusão, como já havia dito?
Acho que a Dilma, na sua política trabalhista, na sua política externa, com sua experiência administrativa, na comparação continua sendo a melhor opção de voto. Não posso votar contra o país. Tenho que votar não no que eu gostaria, no ideal que eu teria de um presidente soberano. Mas tenho que votar no que é melhor para o país neste momento.
O senhor vai conversar com a Marina sobre um eventual apoio à sua candidatura?
A Marina é minha amiga pessoal, minha irmãzinha, uma pessoa séria e competente. Converso com ela em qualquer circunstância sempre. Jamais falaria mal dela. Mas eu tenho que pensar na República, na continuidade, na manutenção do salário dos trabalhadores. A Marina é uma figura maravilhosa, mas eu voto na Dilma nas atuais circunstâncias.
O senhor daria palanque para a Marina no Paraná se necessário?
Não se fala mais em palanque. Nós não vamos ter palanque, não tem mais comício. Mas recebo a Marina na minha casa a qualquer momento.
Roberto Requião, candidato do PMDB ao governo do Paraná
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No dia em que o PSB lançou oficialmente Marina Silva como candidata à Presidência, a coligação formada por seis partidos rachou. O PSL anunciou ontem que vai deixar a aliança por discordar das ideias "nebulosas" da nova candidata. Outras duas siglas da chapa PHS e PRP também estariam insatisfeitas.
A oficialização do nome de Marina e do deputado federal Beto Abuquerque (PSB-RS) como vice estava inicialmente prevista para a tarde. Mas só ocorreu à noite porque integrantes da sigla passaram o dia em negociações. Ficou acertado que a candidata não precisará subir em palanques "desconfortáveis" , como no do governador paranaense, Beto Richa (PSDB), aliado do PSB no estado (leia mais abaixo). Mas Marina teve de se comprometer a manter os compromissos assumidos anteriormente por Eduardo Campos, numa forma de vencer as resistências ao seu nome.
"Há aqui o sentido do peso dessa responsabilidade, há o compromisso com os compromissos construídos ombro a ombro nas madrugadas ao lado de Eduardo", disse ontem Marina durante o ato de oficialização de sua candidatura, em Brasília. Marina afirmou, ao receber uma carta inventário do PSB, que entre as responsabilidade assumidas por ela está a de "ajudar o partido a se reerguer" da perda de Campos, morto na semana passada em um acidente aéreo. "A carta me diz o sentido do que é a história desse partido e agora temos a obrigação de o reerguer da fatalidade que se abateu. Recebo essa carta como pedido de acolhimento [no partido]", disse.
Cheque em branco
Apesar do discurso de unidade que marcou o ato de oficialização da candidatura, o dia foi marcado por manifestações de insatisfação de aliados com Marina e com a forma como as negociações para escolher a nova chapa foram conduzidas pelo PSB (a coligação ainda é composta por PPS, PHS , PRP, PPL e PSL).
O presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, afirmou que a sigla está "desconfortável" com Marina. "A gente não foi ouvido em nada [na escolha]", declarou. "Acho muito difícil a gente seguir junto com o PSB com a Marina à frente." Segundo ele, a aposta em Marina é um "cheque em branco" e ela tem ideias "nebulosas". "Você vai dar um cheque em branco para uma candidata que a gente não sabe se vai honrar esse Código Florestal que foi aprovado, não sabe a política exterior? Tudo isso está nebuloso. A Marina não está dizendo a que ela veio." Segundo Bivar, com Eduardo Campos houve diálogo prévio acerca desses assuntos.
O presidente do PHS, Eduardo Machado, também confirmou que o partido não foi consultado pelo PSB sobre a nova formação da chapa. Mas Machado negou qualquer oposição a Marina, embora tenha considerado "deselegante" a negociação não ter envolvido todos os aliados. Outro partido que estaria insatisfeito é o PRP. Mas a reportagem não conseguiu contactar representantes da sigla para comentar o assunto.
Beto perde palanque duplo no Paraná
José Marcos Lopes e Rogerio Waldrigues Galindo
A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, não vai apoiar as campanhas à reeleição dos governadores tucanos do Paraná, Beto Richa, e de São Paulo, Geraldo Alckmin. Marina já era contrária às alianças regionais com o PSDB quando aceitou ser vice de Eduardo Campos, em abril. A ideia agora é que ela faça campanha autônoma, descasada dos dois tucanos e transfira aos dirigentes regionais do PSB a agenda conjunta. Tanto no Paraná quanto em São Paulo o PSB está coligado com o PSDB.
Apesar disso, a coligação que apoia a reeleição de Richa ainda não desistiu de ter Marina no palanque. Coordenador da campanha de Richa, o deputado federal Eduardo Sciarra (PSD) disse ontem que Marina seria "bem-vinda". Ontem, ele ainda confiava em uma mudança no quadro. "Não recebemos nenhuma comunicação oficial [sobre o posicionamento de Marina]", disse o deputado.
Outra possibilidade é Marina se aproximar do candidato do PMDB ao governo do Paraná, Roberto Requião. O senador e a candidata a vice na chapa, a deputada federal Rosane Ferreira (PV), são próximas da ex-ministra. Rosane estava ontem em Brasília e disse que deverá conversar hoje com Requião e com as lideranças do PV no estado. "É uma situação diferente, na qual a gente não tinha pensado", comentou a deputada. Ela avalia que será difícil para os tucanos paranaenses atraírem Marina para a campanha de Richa.
Rosane declarou apoio à candidata do PSB, apesar de o PV ter um candidato próprio à Presidência, Eduardo Jorge. "Não tem como não apoiá-la. Vou fazer o que eu puder para garantir que ela fale para o maior número possível de pessoas", disse.