Presidenciável tenta atrair o apoio de Requião no Paraná
Ao ser oficialmente anunciada hoje como candidata à Presidência, Marina Silva vai receber da direção do PSB um inventário dos compromissos assumidos por Eduardo Campos nos estados. Durante as negociações de alianças, a ex-senadora discordou da definição de diversas coligações.
No Paraná, por exemplo, o PSB está na coligação do candidato à reeleição Beto Richa (PSDB). Marina foi contra a aliança. Em evento realizado em junho, em Maringá, ela chegou a se separar de Campos quando ele iria se encontrar com Richa. Agora, com Marina na cabeça de chapa, especula-se que ela poderia ter no estado o palanque de Roberto Requião (PMDB), com quem sempre teve boa relação no Senado. Ela também tem laços estreitos com a deputada federal Rosane Ferreira (PV), vice do peemedebista.
Antes da morte de Campos, Requião dizia que, por exclusão, votaria em Dilma Rousseff. Com a mudança no cenário eleitoral, Rosane vem tentando convencê-lo a apoiar Marina. "Primeiro, preciso ouvir as propostas dela antes de decidir", disse o candidato do PMDB.
O presidente estadual do PSB, Severino Araújo, disse não acreditar na "possibilidade de qualquer pessoa ficar contra as normas partidárias". "O apoio do PSB ao Beto Richa foi decidido em convenção do partido e aprovado pelo diretório nacional. Ela [Marina] sabe disso. Decisão partidária não se discute, se cumpre", defendeu.
Araújo disse que, enquanto presidir o PSB paranaense, o partido não apoiará Requião. Ele lembrou dos ataques do peemedebista a Campos e ao avô dele, Miguel Arraes, numa CPI do Congresso no fim dos anos 1990 que investigou um escândalo de precatórios Campos chegou a depor na comissão. "Só temos um caminho no Paraná: apoiar Beto Richa. [Apoiar o Requião] seria pegar os cadáveres do Campos e do Arraes e jogar à margem da estrada."
Euclides Lucas Garcia
O PSB definiu ontem o nome do deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS) como candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva. Líder do partido na Câmara, ele era um dos aliados mais próximos do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que morreu em acidente aéreo no dia 13 deste mês. O deputado trabalhou desde o início na construção da candidatura do pernambucano. O anúncio deverá ser feito hoje.
Albuquerque, de 51 anos, tem trajetória de afinidade com o agronegócio setor que tradicionalmente se opõe às propostas de Marina. Com base eleitoral no Noroeste gaúcho, onde a agricultura sustenta a economia, ele defendeu interesses de cerealistas e de empresas de celulose no Congresso. Conseguiu, por exemplo, uma linha de financiamento do BNDES para armazenagem de grãos e atuou contra uma restrição ambiental a plantações em áreas de elevada altitude.
No início do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, quando foi vice-líder do governo, Albuquerque trabalhou pela edição de medida provisória que liberaria o plantio de soja transgênica. Naquela época, Marina era ministra do Meio Ambiente e criticava a iniciativa. Na eleição de 2010, companhias de sementes, beneficiadoras de grãos e empresas como a Celulose Riograndense e a Klabin compuseram metade das receitas do deputado na campanha a proliferação de plantações de eucaliptos é um tema caro a ambientalistas locais. Suas últimas campanhas receberam contribuições de uma empresa de defensivos agrícolas e de uma indústria de armas.
Apesar das ligações do deputado, a relação com Marina parece ser boa: há três semanas, Albuquerque e a ex-senadora pediram votos em visita ao Rio Grande do Sul, junto com Eduardo Campos. O deputado já foi duas vezes secretário de governos petistas no Rio Grande do Sul.
Rede
O estatuto da Rede Sustentabilidade, partido idealizado por Marina e que não obteve o registro no Tribunal Superior Eleitoral em 2013, veda a arrecadação de doadores desses ramos. As principais lideranças da Rede, no entanto, foram informadas ontem da indicação e aceitaram o nome de Albuquerque.
Antes da definição por Albuquerque, especulou-se o nome do secretário de Educação e das Cidades do então governo de Eduardo Campos em Pernambuco, Danilo Cabral. O nome dele, no entanto, foi vetado tanto pela família de Campos quanto por integrantes da Rede Sustentabilidade e pelo PSB nacional.
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