Expedição em dados
Os principais indicadores coletados foram organizados e estão abertos para consultas e comparações. Há informações regionais e, em alguns casos, os detalhes por municípios.
Eroni Firmino da Luz, de 33 anos, é um pequeno agricultor em Cruz Machado, onde mora com a mulher e três filhos. Aluga um alqueire de terra para plantar sozinho feijão, milho, mandioca e verduras. Um terço da produção é utilizada para pagar a terra. O restante é para consumo e o pequeno excedente acaba sendo vendido na cidade. Rosenilda dos Santos, de 30 anos, tem cinco filhos, é separada e mora em Rebouças. Sustenta a casa com o Bolsa-Família e faz curso de cabeleireira para tentar mudar de vida. Eroni e Rosenilda não se conhecem, mas têm muito em comum: ambos batalham duro e têm dificuldades para reverter a situação de pobreza em que vivem no Sul do Paraná.
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A região é a segunda pior empregadora do estado. Apenas 16% da população trabalha com carteira assinada, enquanto a média estadual é de 29%. O índice de trabalho formal mostra que a situação não vai bem. O Sul é o sétimo colocado entre as 11 regiões do Paraná em população, mas foi a nona economia em produção de riqueza em 2011. E o desempenho caiu. No ano 2000, o Sul ocupava a oitava posição.
Entre os 21 municípios da região, 16 têm índice de beneficiários do Bolsa-Família um indicador de pobreza acima da média estadual de 4%. Em Rebouças, onde vive Rosenilda, 11% dos 14,7 mil moradores têm a renda complementada pelo programa. Em Cruz Machado, o índice é de 7% entre os 18,7 mil habitantes. Mudar de vida num cenário assim é mais difícil.
Érica Desidério, esposa de Eroni, é uma das beneficiárias. O marido anda com dificuldade: no início do ano, foi atropelado por uma caminhonete, quebrou a perna esquerda e ficou cego de um olho. Ele já mancava antes disso. A perna direita quebrou em 2006 enquanto ele carregava um saco de 60 quilos de feijão. Nos últimos meses, sobrevive de uma cesta básica doada pela prefeitura já que não consegue trabalhar e gastou R$ 300 em duas consultas com um oftalmologista em União da Vitória por causa da fila de espera do Sistema Único de Saúde (SUS). Mas ainda não sabe se a cegueira é reversível ou não. O plano dele para o futuro é voltar a trabalhar o quanto antes para colher o que está plantado e poder fazer um dinheiro. "Agora vou tirar nota de produtor rural. Isso vai me ajudar no dia em que eu precisar de aposentadoria."
Rosenilda trabalhou mais de cinco anos como doméstica para sustentar os filhos. Hoje, dedica-se ao curso de assistente de cabeleireira com o objetivo de começar a atender clientes em casa e, em seguida, fazer curso de manicure. Cortar cabelo e pintar a unha é a forma que ela enxerga para melhorar a vida sem depender de ajuda. "Quero dar um bom estudo para meus filhos, uma casa melhor e um lugar melhor para viver. Meu piá quer fazer faculdade para ser professor de física."
Geração de emprego
Mudar o cenário econômico do Sul passa pela atração de investimentos e abertura de postos de trabalho. A psicóloga e coordenadora do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Rebouças, Vanessa Molinari, constata que atualmente não adianta a criação de cursos de capacitação para as famílias pobres se depois não há empresas para absorver essa mão de obra. "Capacitar não é difícil. O problema é que hoje não tem para quê capacitarmos."
Julio Takeshi Suzuki Júnior, diretor do Centro de Pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), diz que uma das indústrias fortes nos municípios do Sul é a ligada à exploração florestal, mas que o setor passa por uma crise devido a restrições ambientais. "A indústria da madeira passa por um dilema e precisa se reinventar."
Poder público
Para reverter o cenário econômico é necessário melhorar as estradas da região, segundo o prefeito de Rebouças e presidente da Associação dos Municípios do Centro-Sul do Paraná, Claudemir dos Santos Herthel. O prefeito de Cruz Machado e presidente da Associação dos Municípios do Sul Paranaense, Antonio Luis Szaykowski, afirma que o governo estadual precisa acreditar no pequeno produtor, ajudar na criação de cooperativas e melhorar a assistência técnica. "O caminho está na diversificação da agricultura familiar, fortalecendo os escritórios da Emater com mais técnicos para desenvolver projetos, investir na formação [do agricultor] e na industrialização."
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