Viúva há dez anos, Marlise Schreiner, 49, gastou no fim de maio R$ 30 mil, dinheiro que não tinha, para não perder um dos três filhos para a burocracia, a lentidão e para os gargalos do Sistema Único de Saúde (SUS). Maicon foi vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC) aos 20 anos. "Ele teria morte cerebral se fosse esperar o SUS. Eu sinto uma indignação tão grande por isso", comenta a instrutora de autoescola, que recorreu à família para bancar o tratamento. O empenho da mãe emocionou a cidade de Teixeira Soares e os colegas de faculdade do rapaz, que estuda Administração em Ponta Grossa. Os amigos organizaram uma rifa e uma vaquinha está sendo divulgada na cidade para amenizar o prejuízo. "Não posso ser orgulhosa, tenho que ser humilde", diz sobre a ajuda financeira.
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Maicon preparava-se para ir a Ponta Grossa no fim da tarde de 20 de maio quando ficou com o lado direito do corpo paralisado. A família o socorreu e o levou ao hospital da cidade, onde foi medicado. Em seguida, foi pedida a transferência dele para um hospital maior, onde pudesse fazer uma tomografia para identificar a origem do problema. Irati e Ponta Grossa não tinham vaga. Depois de duas horas de espera, a mãe decidiu ir a Ponta Grossa e pagar pelo socorro. "A médica disse que a pupila dele estava parando e a vida do meu filho estava por um fio." O transporte foi feito em uma ambulância simples da prefeitura de Teixeira Soares.
Perto das 21 h em um hospital particular, Maicon fez o exame que mostrou o AVC e a necessidade urgente de fazer a cirurgia para retirar o coágulo formado no cérebro. Marlise emprestou dinheiro de parentes e pagou os R$ 21 mil para bancar a cirurgia. No dia seguinte veio o diagnóstico: o rapaz tem uma má formação na artéria cerebral, que é mais fina do que o necessário. Por isso, era preciso colocar um extensor dentro da artéria para normalizar a circulação sanguínea. O procedimento é feito somente em Curitiba e Maicon começou a esperar por uma vaga novamente. No dia 30 de maio veio a notícia que ele poderia ser encaminhado para o Hospital Cajuru, mas teve início outro dilema. A única UTI móvel para adultos em Ponta Grossa, que atende a toda região, estava ocupada. Com isso, Maicon poderia perder a vaga se não chegasse a tempo em Curitiba. "Fui negociar com uma empresa. A ambulância só foi ligada depois que o pagamento de R$ 2,9 mil foi feito."
Sem Samu
No dia 31 Maicon fez o procedimento e voltou para casa no dia 12 de junho. Ele ainda não lembra de muitas coisas e tem dificuldade para falar. Iniciou fisioterapia e precisará de acompanhamento de um fonoaudiólogo. Por enquanto, o rapaz está sem um pedaço do crânio porque precisa colocar mais um extensor. Apesar dos problemas, Marlise sorri por ter o filho vivo ao seu lado.
O caso mostra o quanto a agilidade é essencial para casos de urgência e emergência, mas nem sempre a rede de atendimento do SUS consegue ser rápida. As duas regionais de saúde do Sul, em Irati e União da Vitória, não têm o Samu serviço voltado para casos de emergência. O diretor do Paraná Urgência, Vinicius Filipak, explica que, além do socorro, o serviço de resgate tem uma lógica diferente de trabalho, que facilita a priorização de casos mais urgentes. "O Samu em Ponta Grossa [para atender parte da região Sul] deve funcionar em 2015. Mas melhoramos bastante. Em 2011, tínhamos 15 cidades com Samu."
Além disso, entre os 21 municípios do Sul do Paraná, seis não oferecem nenhum leito de internamento pelo SUS. A região tem o segundo pior índice do estado nesse quesito.
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