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Dependência da máquina explica movimentos

Além das tendências históricas de votação, é preciso analisar também a lógica do eleitorado. Um exemplo disso é a tradição dos moradores de grandes municípios de votar na oposição, e dos pequenos de eleger incumbentes.

Para o cientista políti­­co Emerson Cervi, da Univer­­sidade Federal do Paraná (UFPR), há uma tendência no estado desde os anos 90: as grandes cidades, especialmente Curitiba, elegem o governador; os pequenos municípios o reelegem. Portanto, a tendência é que Beto Richa (PSDB) pode perder votos, relativamente, nos grandes centros, mas recupere nos pequenos. Isso já ocorreu com Roberto Requião (PMDB) em 2002, quando venceu o segundo turno graças às grandes cidades, e em 2006, quando se reelegeu mesmo perdendo na maioria dos grandes centros. A natureza do cargo explica, pelo menos em parte, o fenômeno. Por quatro anos, o governador tem à sua disposição a máquina do estado. Como os pequenos municípios são, geralmente, mais dependentes da ajuda, os prefeitos tendem a apoiar a situação – e, quanto menor o município, mais influentes tendem a ser esses cabos eleitorais.

Túnel do tempo

Em 1998, os eleitores podiam fazer uma combinação curiosa: votar em uma chapa estadual completa apenas com os candidatos atuais para as majoritárias. Requião era candidato a governador e Alvaro Dias a senador. Gomyde concorria a deputado federal e Richa, na época ainda filiado ao PTB, para deputado estadual.

Em uma eleição com poucas novidades, o histórico das votações no Paraná pode dar uma pista sobre o desempenho de cada candidato. Desde 1998, Roberto Requião (PMDB) e Beto Richa (PSDB) apresentam perfis de votação opostos: o primeiro concentra seus votos no interior, em cidades pequenas, enquanto o atual governador sempre foi melhor nas cidades grandes, especialmente na capital. Já o eleitor de Gleisi Hoffmann (PT) não varia tanto em relação ao tamanho e à região.

INFOGRÁFICO: Confira o desempenho regional de cada candidato

Nenhum dos principais concorrentes ao governo do estado e ao Senado é marinheiro de primeira viagem. Desde 1970, pelo menos um deles esteve presente em alguma disputa estadual. A Gazeta do Povo consultou o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para saber os detalhes dos votos de cada um deles nos diferentes municípios do Paraná desde 1998 – a primeira eleição estadual realizada com a urna eletrônica, cujos dados estão disponíveis.

Quem mais disputou eleições no período analisado foi Requião – presente em todas. Em quase todas, o senador recebeu votações altas nos municípios pequenos, mas não cativou os eleitores dos grandes centros. A exceção foi o segundo turno de 2002: em disputa direta com Alvaro Dias (PSDB), que tem perfil de votação similar, Requião garantiu a vitória nas grandes cidades do estado.

Richa, por outro lado, disputou duas eleições para o governo (2002 e 2010) e, em ambas, teve melhor desempenho nos municípios mais populosos. Em 2010, quando venceu, fez mais de 60% nas maiores cidades do Paraná, e 44% nas pequenas. Ele também foi candidato a deputado estadual em 1998. Naquela eleição, entretanto, seu melhor desempenho aconteceu em municípios pequenos, como Jaguariaíva, Joaquim Távora e Palotina.

Candidata ao Senado em 2006 e 2010, Gleisi teve um desempenho mais equilibrado – foi ligeiramente mais votada nas pequenas do que nas grandes cidades. Nas regiões do estado, a tendência também é de estabilidade. As exceções são o Norte, onde recebeu poucos votos, e o Sudoeste, onde teve uma votação mais expressiva.

Senado

Outro representante da "velha guarda", Alvaro Dias disputa eleições estaduais desde 1970 – quando se candidatou pela primeira vez a deputado estadual. Seu perfil de votação é muito similar ao de Requião: boas votações em pequenas cidades, votações fracas em grandes municípios, especialmente em Curitiba. Até regionalmente surgem algumas similaridades: os dois são especialmente mal votados, por exemplo, no Litoral.

Seus principais adversários, Marcelo Almeida (PMDB) e Ricardo Gomyde (PCdoB), nunca disputaram eleições majoritárias, apenas proporcionais. Almeida, candidato em 2006 e 2010, concentrou sua votação em municípios menores. Já Gomyde, nas eleições de 1998, 2006 e 2010, concentrou sua votação em cidades mais populosas, especialmente na Região Metropolitana de Curitiba.

Tucanos

Companheiros de chapa, os tucanos Beto Richa e Alvaro Dias tiveram um desempenho histórico oposto em suas trajetórias eleitorais. Richa concentra seus votos em grandes cidades, e faz da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) seu grande trunfo eleitoral. Dias, por outro lado, é forte em municípios pequenos e tende a ir mal na RMC. No entanto, a tendência do voto "descolado" dos eleitores pode limitar uma eventual transferência de votos entre os candidatos. Outra tendência de Richa é que quanto mais para longe da capital, pior sua votação. Isso significa que no Litoral e nos Campos Gerais ele sempre foi bem votado.

Regiões

Veja como a votação dos candidatos se distribuiu pelo mapa do estado

Litoral: nos sete municípios do litoral, Richa e Gleisi apresentam um bom desempenho, enquanto Requião e Dias têm votações bem abaixo de suas médias gerais. Em Paranaguá, por exemplo, Richa ganhou com muita folga em 2010, com 64%, e Requião ficou em quarto nas eleições para o Senado, com 12%. Em 2006, Gleisi fez 61% dos votos para senador em 2006 – Dias, que venceu as eleições, fez apenas 33%.

RMC: base política dos três principais candidatos a governador e região mais populosa do estado, a RMC pode ser facilmente dividida em duas. Em Curitiba, Richa fez quase 67% dos votos para governador em 2010, enquanto Requião apresenta historicamente um desempenho fraco – venceu uma única vez, em 2002. No resto dos municípios, o senador é, historicamente, bem mais forte, especialmente no Vale do Ribeira: chegou a fazer incríveis 94% em Cerro Azul, no segundo turno de 2006. Gleisi apresenta um desempenho médio, comparado à sua votação geral.

Na corrida pelo Senado, Dias historicamente vai mal na região. Em 2006, perdeu para Gleisi em Curitiba nas eleições para o Senado e, no segundo turno 2002, só conseguiu vencer Requião em seis dos 30 municípios – todos eles pequenos. Gomyde fez boas votações para deputado em Curitiba e em vários municípios da região, assim como Almeida. Resta saber se terão capacidade de repetir o desempenho em uma eleição majoritária.

Campos Gerais: Richa vai muito bem na região, enquanto Gleisi, Requião e Dias fizeram votações próximas de sua média estadual – Gleisi e Dias um pouco acima, Requião um pouco abaixo. Em 2010, Richa e Gleisi foram os mais votados em Ponta Grossa, maior município da região, e, em 2006, Dias bateu Gleisi no município, enquanto Requião perdeu para Osmar Dias (PDT). Almeida teve uma boa votação para deputado na região, especialmente em Sengés e Jaguariaíva.

Norte Pioneiro: na divisa com São Paulo, esta região foi generosa com os candidatos atuais. Requião pode considerar a região como uma das mais fiéis: o elegeu em 2002, 2006 e 2010 com larga margem de votos. Mesmo em 1998, quando perdeu as eleições para Jaime Lerner ainda no primeiro turno, fez 45% dos votos da região. Dias, Gleisi e Richa também apresentam votações acima da média – o atual governador, inclusive, teve boas votações para deputado estadual em municípios como Jacarezinho, Joaquim Távora, Pinhalão e Salto do Itararé. Outro que fez boas votações para deputado na região foi Gomyde, especialmente em Wenceslau Braz, Ibaiti e Cornélio Procópio.

Norte: segunda região mais populosa do estado, o Norte Central garante boas votações para Dias – e é um pesadelo para Requião e Gleisi. O tucano, que é o único dos candidatos com base política na região (começou a carreira como vereador em Londrina), tem votações 15% acima de sua média estadual. Em Londrina, fez 70% dos votos para senador em 2006, e em Maringá, 55%. Em 2002, perdeu para Requião em três das quatro maiores cidades da região, mas venceu no geral.

Já Gleisi e Requião tem seus piores desempenhos gerais na região. Em 2010, por exemplo, os dois ficaram, respectivamente, em terceiro e quarto lugar na disputa pelo Senado. O peemedebista perdeu o segundo turno na região em 2002 e 2006. Já Richa, que é natural de Londrina, tem um desempenho um pouco acima da média na região.

Noroeste: é a região onde Dias tem seu melhor desempenho, 23% acima da média estadual. Em 2006, dos 60 municípios da região, fez menos de 50% em apenas sete. Cianorte, uma das maiores cidades da região, é uma das mais fiéis: lhe deu 60% dos votos no segundo turno de 2002 e 71% em 2006. Requião também é bem votado na região: no segundo turno de 2006, venceu em 52 cidades. Já Richa fez votações baixas na região. Em 2010, fez apenas 41% dos votos e só passou dos 50% dos votos em quatro cidades. Gleisi tem um desempenho mediano.

Centro-Oeste: a região apresenta um fenômeno curioso em relação a Dias e Requião. Os dois receberam, ao longo dos anos, votações acima de sua média estadual – especialmente o tucano. Entretanto, os dois não vão tão bem na maior cidade da região, Campo Mourão. Dias, por exemplo, perdeu na cidade para Gleisi em 2006. No mesmo ano, Requião perdeu o segundo turno no município para Osmar Dias. Beto, por outro lado, tem dificuldades na região inteira: fez, em média, 27% menos votos do que nas outras regiões. Em 2010, ganhou em apenas três dos 24 municípios da região. Gleisi fez uma votação ligeiramente abaixo de sua média. Almeida teve uma excelente votação na região em 2006, mas perdeu metade dos votos em 2010.

Oeste: dos candidatos desse ano, apenas Gleisi fez votações de destaque na região. Em 2006, ela venceu Dias em Foz do Iguaçu e Cascavel. Em 2010, ela repetiu a dose e teve a maior votação nos dois municípios – e também em Toledo. Richa, por outro lado, tem um desempenho histórico ruim na região: mais de 20% abaixo de sua média estadual. Em 2010, fez apenas 44% dos votos, passando dos 50% apenas em Cascavel e Corbélia. Requião e Dias, historicamente, fazem votações medianas na região.

Sudoeste: pelo histórico da região, esta tende ser a disputa mais complicada para Richa. É a região na qual o atual governador recebeu menos votos – seu desempenho na região está 31% abaixo da média estadual. Em 2010, fez apenas 36% dos votos e perdeu em todos os municípios para Osmar Dias. Em 2002, fez apenas 13%. Para deixar as coisas mais difíceis para o tucano, Gleisi e Requião fizeram suas melhores votações nesta parte do estado. Em 2010, a dupla venceu com facilidade em quase todos os municípios – a petista chegou a fazer 45%, de um máximo possível de 50%, em Pinhal de São Bento. Para piorar a situação tucana, Dias também faz poucos votos na região historicamente.

Centro-Sul: assim como no Sudoeste, a região deu boas votações para Requião e Gleisi e votações baixas para Richa. Juntos, o peemedebista e a petista fizeram 68% dos votos para senador na região em 2010, enquanto Richa perdeu em todos os municípios da região. Na maior cidade, Guarapuava, a popularidade de Requião oscilou bastante: ele venceu com folga o segundo turno de 2002, mas perdeu por uma margem idêntica em 2006. Em 2010, ficou em segundo lugar, três pontos percentuais à frente de Gustavo Fruet (na época, no PSDB). Dias, historicamente, recebeu uma votação quase igual à sua média estadual.

Sul: o único candidato atual a fazer uma boa votação na região Sul foi Dias. O tucano faz, em média, 15% mais votos do que no resto do estado. Em 2006, dos 20 municípios da região, ele perdeu apenas em Rebouças. No segundo turno de 2002, quando perdeu a eleição no estado, venceu em 14 cidades. Richa e Requião tem um desempenho mediano na região: os dois fizeram 3% menos votos que no resto do estado. Já Gleisi teve um desempenho muito ruim nas eleições de 2006, mas conseguiu se recuperar em 2010.

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