Wilde José Lemes no hospital de Telêmaco que nunca funcionou: atendimento em outro local| Foto: Josué Teixeira/ Gazeta do Povo

Telêmaco Borba

Unidade construída em 2009 nunca funcionou

Um grande hospital com capacidade para internar 131 pessoas foi erguido em Telêmaco Borba, onde mora o aposentado Wilde José Lemes. A unidade de fachada envidraçada tem apenas dois cachorros de rua que dormem na entrada principal e um vigilante que percorre os mais de 7 mil metros quadrados de construção para guardar o prédio.

O aposentado olha o Hospital Regional com desânimo. "É um descaso com a saúde pública", diz. Diante da falta de um hospital na cidade para rea­lizar o tratamento de próstata, há um ano e meio, Lemes percorre hospitais de Ponta Grossa e de Curitiba. Porém, a rotina de viajar para procurar atendimento é desgastante.

Histórico

O hospital começou a ser construído em 2009, com investimentos de R$ 6 milhões, e foi entregue em 2010, apesar de nunca funcionar. Segundo o chefe da 21ª Regional de Saúde, Roberto Amatuzzi Franco, houve uma auditoria da Secretaria de Estado da Saúde em 2011 que constatou 85% da obra pronta, porém, com 30% de defeitos.

Foi feito um aditivo no projeto e a obra avançou para 93% de conclusão no final de 2013, segundo Franco. Como a unidade não era entregue, a empreiteira teve que deixar o canteiro. Um novo edital foi aberto e, somente neste mês, uma nova empresa foi definida em licitação.

A intenção é concluir os 7% restantes e fazer uma nova ala para abrir 30 leitos de UTI para servir adultos e crianças. O prazo para conclusão da obra é um ano após investimento de mais R$ 8,8 milhões. Quando estiver pronto será referência para 200 mil moradores da região.

De acordo com o secretário estadual da Saúde, Michele Caputo Neto, a demora para viabilizar o funcionamento da unidade ocorreu por conta da burocracia. "Já existia uma empreiteira dentro da obra. É preciso conduzir o processo de forma adequada para não entrar em questões jurídicas que demoram muito mais", justifica. (CGF e Maria Gisele da Silva).

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A construção e o funcionamento de hospitais públicos do Paraná são temas recorrentes nesta eleição. Beto Richa (PSDB) e Roberto Requião (PMDB), candidatos ao governo do estado, citam dados divergentes sobre o assunto. Em meio à polêmica, levantamento da Gazeta do Povo mostra que Requião não "construiu 13 hospitais do zero" ao longo das ­duas passagens como governador (2003-2010), ao contrário do que tem divulgado. Por outro lado, parte dos hospitais está inoperante e/ou trabalha abaixo da capacidade máxima durante a gestão Richa.

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INFOGRÁFICO: Veja a situação dos hospitais construídos na gestão anterior

Na lista de 13 hospitais construídos divulgada por Requião consta uma unidade que não existe, outra inoperante até hoje, três municipais que o governo esta­dual da época ajudou com empréstimos e duas novas alas em espaços médicos que já existiam. Apenas seis hospitais foram realmente erguidos da estaca zero.

A situação mais emblemática é o Hospital Regional de Quedas do Iguaçu, na cidade de mesmo nome, na Região Oeste. De acordo com a prefeitura, o Sindicato dos Servidores Estaduais da Saúde do Paraná (SindSaúde) e a Secretaria de Estado da Saúde, apesar da promessa, a obra nunca começou. Para piorar, o terreno onde seria a unidade, doado pelo órgão municipal, está invadido. Telêmaco Borba é outro exemplo de cidade sem o hospital prometido por Requião. Apesar de o prédio existir desde 2010, a unidade regional ainda não abriu as portas.

O senador também contabiliza duas alas como hospitais construídos. Em Londrina, Requião inaugurou o Centro de Tratamento de Queimados em 2007, ala que faz parte do Hospital Universitário. Em Paranavaí, o chamado Hospital Regional do Noroeste na verdade é um espaço que permitiu ampliar o número de leitos da Santa Casa.

Outros três hospitais que estão na conta do candidato do PMDB também não podem levar a insígnia de "100% governo estadual". As unidades municipais, inclusive no nome, de Foz do Iguaçu, Araucária e Paranaguá receberam ajuda financeira para construção e compra de equipamentos. Na época, Requião destinou R$ 13,9 milhões para as obras e R$ 8,2 milhões para equipar as unidades.

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Com problemas

Segundo análise do SindSaúde realizada em 2011, os seis hospitais realmente construídos na era Requião apontavam algum tipo de problema estrutural e/ou dificuldade administrativa após a inauguração. "A iniciativa de construir foi importante. Mas as estruturas não receberam a atenção e fiscalização que deveriam, além da falta de adequação sanitária. Também faltou planejamento posterior a inauguração para saber quantos trabalhadores seriam necessários e qual o custo de funcionamento", afirma Elaine Rodella, diretora de formação política sindical do SindSaúde.

No Hospital Regional de Ponta Grossa, nos Campos Gerais, a obra foi executada de tal forma que as ­duas máquinas de autoclave – responsáveis pela esterilização – não funcionam até hoje porque o piso não suporta o peso.

Outro lado

Procurado pela reportagem, Requião, por meio de nota, afirmou que a sua administração viabilizou uma estrutura de hospitais nunca vista na história do Paraná. O senador ainda afirma que todas as obras atenderam às normas técnicas vigentes, segundo exigências de entidades como Crea e Vigilância Sanitária. O político admite que alguns problemas de projeto foram observados em sete dos 44 hospitais – além da lista de 13 construí­dos, Requião ampliou e/ou reformou 31 unidades.

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"Alguns erros foram prontamente corrigidos, outros só foram observados após o fim do nosso mandato. Pouco se comparado ao volume total das obras. No entanto, nenhum dos problemas justifica qualquer tipo de paralisação ou limitação de uso dos hospitais", ressalta a nota.