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O que se desenhava como o cenário dos sonhos terminou em um pesadelo para o PT do Paraná. Depois das eleições de 2012, o partido tinha o apoio do prefeito de Curitiba pela primeira vez na história, contava com três ministros e aparecia como a principal força de oposição no estado. Menos de dois anos depois, a candidata da legenda, Gleisi Hoffmann, ficou em terceiro lugar na corrida pelo Palácio Iguaçu com decepcionantes 14,87% dos votos válidos – menos que Padre Roque, candidato pelo partido em 2002, que fez 16,37%. Além disso, o partido virou "nanico" na Assembleia, com apenas três cadeiras, e perdeu um assento na Câmara Federal. Veja o resultado da apuração dos votos para presidente em todo Brasil

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Veja o resultado da apuração dos votos para presidente no Paraná

Veja o resultado da apuração dos votos para governador no Paraná

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Veja o resultado da apuração dos votos para governador na cidade de Curitiba

Outros números reforçam a dimensão desse mau desempenho. Quando foi candidata ao Senado, Gleisi se elegeu com 3,1 milhões de votos. Para o governo do estado, fez 881 mil. Mesmo com candidato próprio, o voto de legenda caiu para a Câmara e para a Assembleia. Além disso, de oito deputados que disputaram a reeleição para os dois legislativos, apenas Zeca Dirceu ganhou votos – em média, cada um deles perdeu 13% de seu eleitorado. A Gazeta do Povo listou sete fatores que contribuíram para essa derrocada. Veja o que aconteceu:

A estrela solitária

Durante o período pré-eleitoral, o PT não conseguiu montar uma chapa que desse sustentação eleitoral para Gleisi – enquanto seu principal adversário, Beto Richa (PSDB), tinha 17 partidos na sua base, o PT fechou aliança com quatro. Das nove legendas que apoiam Dilma Rousseff (PT) na corrida eleitoral, apenas quatro estavam com Gleisi: PT, PDT, PRB e PCdoB. Além disso, o PTN, que nacionalmente apoia Aécio Neves (PSDB), também integrou a chapa. Alguns desses partidos, como o PR e o PP, já estavam inclinados a apoiar o governador desde o princípio. Outros, entretanto, poderiam ter integrado a chapa caso o PT tivesse negociado melhor – PSD e Pros, por exemplo, só aderiram a Richa aos 45 minutos do segundo tempo. Falha estratégica ou não, Gleisi já entrou na campanha em desvantagem: sem esses partidos ao seu lado, teve poucos apoios na Assembleia, poucos prefeitos aliados e pouco tempo de tevê. Inimigos íntimos

Mesmo com uma base aliada pequena, o PT conseguiu se complicar. Seu principal parceiro na disputa, o PDT, entregou seu tempo de TV, mas alguns de seus principais filiados não entregaram seus apoios. Entre os principais prefeitos pedetistas, apenas Gustavo Fruet fez campanha para Gleisi – Edgar Bueno, de Cascavel, Augustinho Zucchi, de Pato Branco e Moacir Silva, de Umuarama, apoiaram Richa. Situação semelhante ocorreu na Assembleia: apenas Nelson Luersen cerrou fileiras com a oposição. Atritos locais com os aliados explicam bem essa situação. Um exemplo é Cascavel: Professor Lemos (PT) disputou a prefeitura com Bueno e, após ser derrotado, entrou com ação para cassar seu mandato por suposta fraude eleitoral – ele acusou o pedetista de fazer uma campanha "difamatória e caluniosa" para se eleger.

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Surfando nos escândalos

Dois escândalos envolvendo petistas ajudaram a prejudicar a campanha de Gleisi e do PT no estado. No final de 2013, Eduardo Gaievski, ex-prefeito de Realeza e então assessor da Casa Civil, foi acusado de abuso sexual de menores. No início deste ano, o deputado André Vargas caiu em desgraça por ligações com o doleiro Alberto Youssef. Blogs e outros veículos de comunicação ligados à base de apoio de Richa não economizaram bateria ao associar os dois petistas à candidata. A comunicação de Richa também saiu vencedora no caso dos empréstimos federais. O governador acusou Gleisi de ter sido responsável por barrar empréstimos contraídos pelo governo do estado em Brasília – a explicação oficial é de que o governo não cumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal.

O terceiro candidato

Antes da campanha, a direção do PT via a presença de Roberto Requião (PMDB) na disputa eleitoral como um possível trunfo contra Richa. A expectativa era que o senador dividisse votos com o governador, e que facilitasse um segundo turno entre tucanos e petistas. Assim, o PT não fez movimentos para se aliar ao PMDB para sua base – ao contrário do PSDB, que com o apoio de parte dos deputados peemedebistas, tentou atrair o partido para sua chapa. O resultado acabou sendo bem diferente. Requião venceu a convenção e, desde o início da campanha, apareceu na frente de Gleisi em todas as pesquisas – se consolidando como principal nome da oposição. No fim, teve quase o dobro de votos da senadora. Um partido popular impopular

O Paraná tem um dos eleitorados mais antipetistas do Brasil. Nas eleições presidenciais, apenas em 2002 o candidato petista (Lula, na ocasião) venceu – isso em um ano em que o PT venceu em 26 dos 27 estados no segundo turno. Nas eleições deste ano, o estado não fugiu da regra: deu a segunda maior votação proporcional para Aécio Neves (PSDB) e a quinta pior para Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno. O perfil do eleitorado explica em parte este fenômeno. O Paraná tem mais eleitores de classe média e alta do que o resto do país, perfil no qual o PT costuma ir mal. O desgaste do partido nas administrações de grandes centros do estado, como Londrina, Maringá e Ponta Grossa, pode ter agravado esse quadro. Nem mesmo a bem avaliada gestão de Luizão Goulart em Pinhais ajudou a modificar a situação.

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Chapa fria

Nas duas eleições legislativas, o PT perdeu candidatos importantes de 2010 para 2014. Na Câmara, André Vargas e Dr. Rosinha não disputaram a reeleição. Na Assembleia, Ênio Verri e Toninho Wandscheer preferiram disputar a Câmara e colocaram, respectivamente, o irmão, Mario, e o filho, Alisson, para disputar a Assembleia. Um processo até normal de renovação, comparado com outros partidos, mas que não funcionou para o PT. Na Câmara, a votação do partido não caiu tanto. Foi de 700 mil para 677 mil. Ainda assim, o partido perdeu uma cadeira. Na Assembleia, a situação foi mais dramática: de 626 mil votos em 2010, o PT passou para 488 mil em 2014. Para piorar a situação, o PT ainda teve um certo azar. O número de votos que fez sozinho seria suficiente para eleger cinco deputados. Entretanto, quatro candidatos do PDT, companheiro de chapa, fizeram mais votos individualmente. Como resultado, o PT perdeu quatro de suas atuais sete cadeiras e terá apenas três deputados em 2014 – pior resultado do partido desde 1994.

Ausência sentida

No dia 14 de março, Osmar Dias (PDT) discursou em evento no Expotrade, dizendo que "o importante era apoiar Gleisi". Os petistas acharam ter encontrado o aliado perfeito: bom de voto, com perfil complementar, Dias poderia ser o vice ou o candidato a senador ideal para a campanha da senadora. Menos de um mês depois, mudou de ideia. Decidiu ficar na diretoria do Banco do Brasil e não enfrentar a chapa do irmão, Alvaro Dias (PSDB). Sem esse apoio, faltaram nomes fortes para compor o grupo de Gleisi. Ricardo Gomyde (PCdoB) foi escolhido para a vaga de senador, e fez apenas 12,51% dos votos. O desconhecido Haroldo Ferreira (PDT) ficou com a vaga de vice. Alegando restrições relativas à sua posição de vice-presidente de Agronegócio do Banco do Brasil, Osmar nem sequer foi um cabo eleitoral para a candidata.

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