A proposta de empresários de Ponta Grossa de suspender temporariamente o direito a voto de beneficiários de qualquer programa de transferência de renda gerou indignação e muita polêmica na cidade. De um lado, a Associação Comercial, Industrial e Empresarial do município (ACIPG) defende a proposta, em uma cartilha distribuída a candidatos, e alega que programas como o Bolsa Família acabam sendo semelhantes à compra de votos. De outro, beneficiários descartam a ideia de as ações governamentais terem caráter eleitoral.
Se a proposta do empresariado prosperasse, ela impactaria na suspensão do direito ao voto dos eleitores que fazem parte de 13,9 milhões de famílias brasileiras beneficiárias do Bolsa Família, das quais 409 mil estão no Paraná. "A gente tem que rir, porque nem tem o que falar", comenta a dona de casa Angélica Cordeiro Gonçalves, de 28 anos, que recebe o Bolsa Família. Ela cuida sozinha de três filhas pequenas com uma pensão de R$ 350 mais os R$ 70 mensais que recebe pelo programa. "Essa bolsa é uma forma de ajudar quem realmente precisa. No meu caso, é com esse dinheiro que consigo comprar o gás, a carne e o leite", relata a jovem.
Anarilda Aparecida Rama, de 47 anos, também beneficiária do Bolsa Família, argumenta que "já existia eleição muito antes de ter Bolsa Família". "Ninguém pode tirar o nosso direito de votar", diz. Mãe de dez filhos, ela mora junto com os seis mais novos numa casa que foi construída e doada por voluntários da paróquia. "Se não fosse o Bolsa Família, acho que a gente já tinha morrido de fome." A família sobrevive com cerca de R$ 500 por mês obtidos por meio do programa federal.
A reportagem tentou contato por telefone com o presidente da ACIPG, Nilton Fiori, para comentar as críticas à proposta da entidade, mas não obteve resposta. Em entrevista na quarta-feira, Fiori disse que a ideia da associação é garantir a "lisura" das eleições, já que os beneficiários de programas do gênero poderiam ficar vinculados aos governos.
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