Delação poderá até livrar Costa da cadeia
Está nas mãos do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologar os termos do acordo de delação premiada que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa fez com o Ministério Público Federal. Se Zavascki discordar de algum termo, poderá modificá-lo. Mas a praxe é que o juiz apenas reitere o documento.
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- Dilma aguarda 'dados oficiais' para comentar denúncias
- Eduardo Campos, Lobão, Renan e Cabral na lista de beneficiados por esquema na Petrobras
A pouco menos de um mês do primeiro turno, as três principais candidaturas à Presidência da República podem sofrer nova reviravolta com as revelações feitas pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, divulgadas pela revista "Veja" deste fim de semana.
Em 43 horas de depoimento no processo de delação premiada da Operação Lava jato, Costa teria jogado, segundo a revista, o tesoureiro do PT e o núcleo da base do governo Dilma Rousseff no centro de um esquema de desvio bilionário de recursos em contratos de empresas com a estatal. A extensa lista de políticos que teriam sido beneficiados incluiria o ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em agosto, atingindo por tabela a candidatura de Marina Silva (PSB).
Único dos três fora do escândalo até agora, o candidato do PSDB, Aécio Neves, enxerga no caso uma brecha para sair da situação em que se encontra - hoje ele está fora do segundo turno- e promete partir para o ataque.
A lista de políticos que teriam se beneficiado do esquema de propina incluiria, segundo a "Veja", os presidentes da Câmara e Senado, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e Renan Calheiros (PMDB-AL), o secretário de Finanças do PT, João Vaccari Neto, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB-MA), e o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB-RJ).
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi chamado por dirigentes do partido para dar explicações e disse não ter relação com Costa. Há integrantes da campanha que defendem sua saída, mas Vaccari é do grupo do ex-presidente Lula e considerado de confiança pelo núcleo duro petista.
Segundo um auxiliar de Dilma, a presidente se mostrou irritada com as denúncias. Cautelosa e sem saber ao certo o tamanho do estrago que a delação pode provocar, em evento de campanha, em São Paulo, Dilma afirmou que tomará "providências cabíveis" em relação às informações prestadas pelo ex-diretor da Petrobras.
"Eu gostaria de saber direito quais são as informações prestadas nessas condições (processo sigilosos e depoimento criptografado) e asseguro que tomarei todas as providências cabíveis. Agora, não com base em especulações. Quero informações, acho que elas são essenciais e são devidas ao governo. Caso contrário, a gente não pode tomar medidas efetivas", disse Dilma, observando que o depoimento foi prestado sob sigilo.
"Precisamos de dados oficiais a respeito dessa questão. A própria revista que publicou diz que o processo está criptografado, guardado num cofre e será enviado ao Supremo", afirmou a presidente.
Comparações com o mensalão
Entre dirigentes petistas e integrantes do governo, a avaliação foi de que a denúncia é difusa, sem foco, o que a diferenciaria do mensalão. No entanto, os líderes do partido acreditam em desgaste da candidatura de Dilma nas próximas semanas, já que há vídeos dos depoimentos, e as denúncias podem surgir a conta-gotas. Integrantes da coordenação da campanha disseram que, por ora, não haverá mudança de estratégia eleitoral.
A tensão da noite de sexta-feira, quando o governo ainda não sabia ao certo quais políticos estavam na lista da delação premiada, deu lugar, neste sábado, a um clima de certo alívio, mas ainda de incerteza com o que virá. Dirigentes do PT avaliaram como "pouco reveladoras" as denúncias e que elas não atingem o coração do governo, já que apenas um ministro é citado, Edison Lobão (Minas e Energia), do PMDB. De qualquer forma, se surgirem elementos ligando Lobão ao esquema, ele terá que deixar o governo. A ordem é tratar as denúncias como "especulação" e "ilações" de Costa e da revista, como forma de desgastar o governo Dilma e impedir sua reeleição.
Em vídeos publicados em suas páginas das redes sociais, Aécio batizou o novo escândalo de "mensalão 2". Os coordenadores da campanha de Marina chamaram o caso de "novo mensalão", mas montaram uma espécie de força-tarefa para defender Campos do que consideram vítima de "denúncias irresponsáveis". Em campanha na Bahia, Marina chamou de "ilação" o envolvimento do nome de Campos. Segundo ela, o fato de existir um investimento da estatal em Pernambuco não dá direito de incluir o falecido candidato no rol dos que cometeram supostas "irregularidades". "Todo o Brasil e todos nós aguardamos investigações dos desmandos da Petrobras que estão ameaçando o futuro da Petrobras, o futuro do pré-sal. O atual governo tem que explicar a má governança que ele fez, levando essa empresa que sempre foi exitosa dentro e fora do Brasil, a quase uma total falência".
A estratégia da campanha de Marina é dizer que a candidata do PSB não tem nada a ver com o escândalo e centrar no PT os ataques. Em outra ponta, Marina e os socialistas devem aparecer no programa eleitoral e em entrevistas defendendo a memória de Eduardo Campos, com o argumento de que, morto, ele não pode se defender.
Coordenador da campanha de Marina, Walter Feldman disse que todos têm confiança de que o ex-governador se comportava de maneira adequada. Disse não acreditar que a candidata seja prejudicada pela inclusão de Campos, de quem era vice. "Marina não tem nada a ver com isso. Ela simboliza a crítica à gestão da Petrobras. Foi a velha política que levou a empresa para essa situação".
A estratégia de Aécio é centrar fogo nos programas de TV e eventos públicos, focando na perda de legitimidade de Dilma de pleitear um novo mandato, dizendo também que Marina e o PSB se beneficiaram do esquema que sustentou o projeto do PT e todos os partidos da aliança nos últimos 12 anos. Os aliados de Aécio estão na expectativa de que revelações mais comprometedoras estão por vir e podem deixar Marina e Dilma em situação ainda mais delicada.
"Vou para cima! Vou cobrar, e Marina e Dilma vão ter que se explicar. A presidente perdeu autoridade de propor qualquer coisa depois de deixar que uma organização criminosa funcionasse por anos numa empresa que comandou com mãos de ferro. Lula nomeou e ela manteve Paulo Roberto Costa. Marina se beneficiou desse esquema que não começou lá atrás. E agora se beneficiou do espaço de poder no PSB que fazia parte da base", disse Aécio.
Rui Falcão, presidente do PT e coordenador da campanha de Dilma, rebateu Aécio e disse que o tucano decidiu partir para a "agressão rasteira", com "acusações chulas e sem fundamento". "É cômico ouvir alguém do PSDB falar em 'dinheiro sujo da corrupção' justamente às vésperas do julgamento do 'mensalão mineiro' e quando a imprensa nacional noticia um pesado esquema de corrupção nas obras do Metrô de São Paulo. Sem se esquecer, obviamente, do absurdo uso de dinheiro público para construir um aeroporto na fazenda de um parente do candidato", destaca Falcão, no comunicado. O presidente do PT ainda afirma na nota que o partido tomará providências jurídicas contra Aécio.
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