Para além do voto: André Ribeiro e Laís Lote, ambos de 17 anos, são engajados com projetos sociais| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

A Operação Lava Jato colocou sob suspeita as lideranças dos principais partidos que governam a nação, com delatores fazendo pesadas acusações a políticos de alto coturno do PT, PP, PMDB e PSDB. Com a elite política brasileira vivendo a sua maior crise desde a redemocratização, é natural que as pessoas, em especial os mais jovens, se sintam desiludidos. Como a alienação não é uma alternativa viável – aqueles que se afastam da política estão destinados a serem governados pelos que dela gostam – cabe aos cidadãos buscar caminhos para transformar o país.

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Não é só pelo voto: conheça os caminhos da política

Conheça algumas das formas tradicionais ou alternativas para se engajar na vida pública:

  • Voto
  • Filiação partidária
  • Fiscalização do legislativo
  • Fiscalização de licitações
  • Ativismo digital
  • Participação em audiências públicas e conselhos
  • Participação em organizações não governamentais
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As vias para melhorar as instituições começam pelo voto, podem passar também pela filiação partidária, mas há diversos meios se consolidando como alternativas para o modo de se fazer política (veja mais no box ao lado). Esses caminhos vão desde a fiscalização de licitações - como a feita pelos observatórios sociais -, ações de cidadania e empoderamento das pessoas, participação de audiências públicas e outros espaços de discussão política, até o hacker-ativismo.

“O que acho legal é que, apesar de ser um clichê, crise é oportunidade. Os jovens precisam buscar meios alternativos, há várias iniciativas, vários movimentos, em que poderão fazer política de forma mais criativa e interessante”, afirma o consultor da Transparência Internacional, Fabiano Angélico. “Tem muita coisa interessante sendo feita, principalmente nessa geração muito ligada à tecnologia, se esses espaços forem mostrados aos jovens, acho que vão gostar.”

Os escândalos podem dar a impressão de que a política é algo nocivo, mas a verdade passa muito longe disso. “É por meio dela que podemos mediar nossos conflitos no compartilhamento de bens sociais, nas escolhas das políticas públicas”, afirma o professor de Direito Eleitoral da Unicuritiba Roosevelt Arraes. “No caso dos jovens, as oportunidades para capacitar seus talentos e terem um futuro tranquilo e feliz passam pela forma como políticos decidem as áreas em que irão investir o dinheiro público.” Segundo ele, é importante investir na reeducação cívica, especialmente dos mais jovens, para que entendam como funciona a democracia e como podem interferir nos processos decisórios.

Entretanto, o professor de Ciências Políticas Emerson Cervi, da UFPR, lembra que a resposta não está somente na participação dos jovens na política. “Está nos líderes políticos. Se os partidos permanecerem fechados e não promoverem formação de novos quadros, reforçando a lógica do ‘familismo’ não haverá mudança.” Para Cervi, é fundamental que haja a democratização interna dos partidos e que os meios de comunicação façam uma cobertura mais construtiva da política.

Número de eleitores de 16 e 17 anos registra queda e gera alerta

A estudante do ensino médio Laís Lote tem 17 anos, é voluntária na organização sem fins lucrativos Primavera Cidadã para coleta de assinatura em projetos de lei de iniciativa popular e irá exercer o direito a voto pela primeira vez nas eleições de outubro. “Não dá para só ficar reclamando, tem de fazer a mudança acontecer, praticar a cidadania”, opina.

André Ribeiro, estudante e presidente do Interact Centro – braço jovem do Rotary – , também tem 17 anos e irá votar pela primeira vez neste ano. “Sempre me interessei por política, mesmo quando fiquei sabendo que não era obrigatório, achei importante fazer o título para votar.” No Interact, ele desenvolve projetos de conscientização política. “É preciso tomar iniciativa, votar com consciência.”

Laís e André são exemplo de jovens que, apesar de não serem obrigados a votar, irão às urnas em outubro, na contramão de dados recentemente divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O número de eleitores de 16 e 17 anos, para quem o voto é facultativo, registrou queda entre 2012 e 2016.

Nas eleições de 2012, eles totalizavam 2,9 milhões e agora somam 2,3 milhões de eleitores. Em termos porcentuais também houve queda entre os pleitos – há quatro anos esses jovens representavam 2,1% do eleitorado, hoje são 1,6%. O presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, atribui a queda a “uma certa descrença em relação à política” e à possível falta de valorização pelos partidos em captar e incentivar a juventude a participar do processo eleitoral.

É difícil dizer quais as reais causas da queda do número de jovens que não são obrigados a votar, mas que decidiram participar das eleições municipais neste ano. A redução dos eleitores de voto facultativo pode ser tanto por desilusão política, como por questões demográficas, como envelhecimento da população.

Uma coisa, entretanto, é certa. Quanto antes os jovens se interessarem pela política, mais cedo poderão contribuir para corrigir os rumos da nação. Na avaliação do professor de Direito Eleitoral Roosevelt Arraes, da Unicuritiba, nas eleições municipais que se aproximam, temas relevantes de competência das prefeituras terão de ser enfrentados pelos candidatos e dizem diretamente respeito aos interesses dos jovens, como saúde, infraestrutura e lazer. “Para evitar que maus políticos sejam eleitos, é necessário se envolver na política e conhecer os bons candidatos que ainda existem.”

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